caminhos

O sono voltou. Creio que é porque a Folhaweb finalmente entrou no ar e comparar os acessos e ler os comentários das matérias é muito mais inspirador que escrever para si mesmo. Tem também os abraços carinhosos dos pequenos da Galera. Cada terça tem sido uma surpresa. Outro dia, enquanto ouvia Alessandra contar que apanhava se não fosse vender "gominha" no Centro, Tamara me puxou de lado e disse, sem mais nem menos: "Eu vi meu pai matar meu avô". Com riqueza de detalhes num português bastante confuso ela narrou a lembrança, com algumas interrupções do irmão, que corrigia um ou outro detalhe. Mas o ônibus chegou e ela precisou correr para não perder a carona. E me deixou com meu espanto e meus pensamentos. Duas semanas depois, ao me ver, me abraçou e resolveu não soltar mais. Parecia até que pressentia que contaríamos sua história aos coleguinhas de Galera em mais uma oficina de leitura. Mas não contamos a trágica morte do avô paterno (sim, o pai dela matou o próprio pai), mas a superação de uma adversidade. Tamara e o irmão Cléber pediam dinheiro na rua para pagar a passagem de ônibus da mãe até o hospital, onde realizava sessões de hemodiálise. Depois que o irmão mais velho encontrou emprego no mercado formal, a dupla deixou de sair com a vizinha, "que fuma noia", como acrescentou Cléber, para se dedicar à escola e ao projeto. Uma vida mais feliz começou com uma simples oportunidade e era isso que queríamos dizer aos pequenos. Tamara, envergonhada, cobriu o rosto enquanto a Carol contava a história, e nem aguentou escutar sua própria sina até o final. Tudo bem, creio que no final eles entenderam nosso recado, mas ainda assim meu coração ficou pequeno e fiquei sem palavras. Eles têm me deixado sem palavras ultimamente. Mas diferente do ano passado, quando me incomodava achar que não fazia a menor diferença para eles, descobri que até a minha falta de assunto importa. E que meus abraços, ainda que desajeitados, podem servir de consolo para uma vida tão sofrida. Estar lá é fazer a diferença. Ouvir, rir, contar histórias, abraçar, brincar. Tudo faz a diferença. Para Tamara, Cléber, Henrique e seus 11 irmãos e tantos sobrinhos, para as gêmeas Bruna e Bianca, para o Júnior e seus dois irmãos menores, para a Vanessa, a Emilim e suas irmãs, para Alessandra e a irmãzinha dela, Angela. Diferença para o casal 20 que vive um ideal. Diferença para a Carol, que me incentiva diariamente a tomar as rédeas de minha vida. E diferença para mim, que a cada dia descubro potencialidades escondidas, abrindo caminho em meio à confusão que sou.

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