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Alanis

Assistindo ao show da Alanis eu me percebi chorando em muitas músicas. Eram letras que diziam coisas importantes, principalmente sobre como a vida pode ser irônica, citando um dos maiores sucessos da cantora. Quando começa o show, eles exibem imagens da trajetória dela ao longo dos anos, construindo o storytelling tão comum no marketing, para despertar a emoção no público. E conseguiram. Naquele momento eu fui fisgada, porque construí na minha cabeça o meu storytelling. As imagena dela ativaram minhas lembranças adolescentes, quase todas em casa e na escola. De repente, o som da gaita. E eu me arrepiei inteira. Fui transportada para o meu quarto no Novo Mundo, onde costumava ouvir música no discman, antes de dormir. Não que eu fosse grande fã de Alanis. A Na é quem tinha o cd. Mas vez ou outra eu pegava emprestado para ouvir os gritos da canadense. E gostava de ver clipes na MTV e ela dominava a programação. Na época, não tinha internet, então não me lembro como aprendia a cantar a

Zio

 Será que tudo o que vivi nos últimos dias me preparou para esse momento? Será que alguém está realmente preparado para entender a morte? Será que a gente deve apenas respeitar e aceitar?  Meu tio mais velho morreu. Lutou uma batalha contra uma doença traiçoeira que tirou sua alegria de viver. Seu corpo cansou e seu coração parou.  O jovem sério que virou meio pai dos irmãos, depois que a mamma morreu cedo, e botava medo nos pequenos por conta da responsabilidade assumida tão jovem, tornou-se um tio divertido. Que gostava de contar as histórias da Itália e do sítio. Falava o dialeto do Friuli e ensinou aos sobrinhos paródias italianas que decoramos sem saber o que significavam as palavras difíceis de repetir. Tiri biri...more seco...pater nostri...fa tre di che non l'hai di...se mia nonna non mi da pan...na notte di Natale, nasce un bel bambino...Maria con il velo copriva Jesu...e assim a gente matava a saudade do zio Mario todo Natal.  Quando a gente pegava a estrada para visitar

sempre em frente

O melhor amigo do meu pai da faculdade de engenharia se foi. Meu tio. Padrinho da minha irmã. Compadre dos meus pais, que são padrinhos do filho deles. Eu lembro que sempre me senti muito acolhida e amada quando encontrava a família Mendes, ainda que a gente se visse pouco. Uma vez por ano, talvez duas, no máximo. A amizade dos meus pais com os padrinhos da minha irmã é daquele tipo que quando se encontra é como se nunca tivesse deixado de se ver. O tio era professor. Falava alto, era muito inteligente, gostava de política e escrevia artigos de opinião para os jornais. Fazia amizade com os alunos e queria mudar o mundo com as suas ideias. A tia sempre junto. Professora divertida, carinhosa, inteligente, extremamente generosa. Sempre trabalharam muito. Seus filhos (meus primos) lindos, inteligentes, carinhosos, generosos como os pais. Único defeito da família é serem corintianos. O tio se foi depois de uma batalha contra uma doença degenerativa que lhe tirou a independência motora. A ca

uma boleira de vidro

  Minha vó comemorou 90 anos em dezembro. Reunimos alguns sobrinhos, uma cunhada, amigas, filhos e netos para brindar a vida da Therê com chope e crepe.  Ela tem saúde: caminha, troca de roupa, arruma a cama e gosta de dizer que ainda consegue lavar os pés. Faz tudo sozinha. Minha vó dança! Estamos sempre alimentando a vó porque ela diz que perdeu o paladar. Que só come para viver. Que velho perde a validade. Sua memória está travessa: foge e volta e foge e volta. E às vezes a confusão se instala. Meus pais decidiram que ela vai morar com eles na praia. Eles alugaram o apartamento da capital e se mudaram para a praia, a duas quadras do mar. Lá tem um quarto com um colchão novinho para a vó que ajudei a escolher. Tem uma tevê que ajudei a sintonizar os canais, tem o radinho com o cd do Tonico e Tinoco e fotos de todos nós. Não é a casa dela. Todos sabemos. Principalmente ela. Ao mudar, minha mãe trouxe o máximo que pode de coisinhas da casa da vó para ela se reconhecer no dia a dia