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Mostrando postagens de 2012

sem presentes

Já sei o que quero para 2013: não quero ganhar ou dar presentes. Quero me livrar dessa pressão idiota de tentar agradar a todo momento. Não quero nada, só quero estar ali do lado de quem amo, partilhando o dia a dia, fofocando, rindo, dividindo uma cerveja. Não quero pensar que devo isso ou aquilo a ninguém. Quero me livrar dessa culpa que me persegue e aceitar que os outros são muito diferentes de mim e que nunca vou mudá-los e tentar aprender com o que me incomoda neles. Talvez seja o que mais incomode em mim, vai saber. Só sei que não quero retribuir cada gesto. Não quero pagar cada coca-cola dividida no almoço, nem o pedaço de bolo. Quero me livrar dessa necessidade de ser perfeita o tempo todo. Quero incomodar a prima aos sábados à tarde só para poder brincar com a pequena. Quero vê-la crescer e dar os primeiros tombos, os primeiros passos, quero ouvi-la dizer mamãe e papai ao lado da prima. Quero participar porque eles têm uma importância tremenda que não vale a pena fugir só por

a farmacêutica

É mais uma que se vai. Que coloca seus pertences em uma caixa, enche as malas de roupas e vai seguir a vida. Ela chegou há cinco anos, de mansinho, sempre cuidando da própria vida de forma muito independente. Nunca me deixou cumprir o papel de prima mais velha. Há quatro anos mudou-se para o quarto ao lado e de lá saiu poucas vezes. Estudou como prodígio, dormiu como bicho-preguiça, namorou, brigou, chorou, frequentou festas de república, preparou comidas estranhas como strogonoff de soja, sempre muito independente. Lembro de tentar convidá-la para um ou outro almoço de domingo, mas não rolou. Ela no quarto ao lado e eu na sala. Vivendo juntas, separadas. Não sei se são os oito anos de diferença na idade, se são os interesses diversos de duas vidas, se são nossas personalidades, só sei que não conversamos muito nesse tempo todo. Mas quem sabe tenhamos conversado o suficiente. Peguei essa menina - hoje um mulherão cheio de atitude - no colo. Eu a mais velha, ela a caçula. Cabelão compri

oitenta anos

Tudo o que preciso saber sobre ela se resume no fato de estar viva. Se não fosse sua insistência com a tal parteira, talvez eu não estivesse aqui hoje para escrever sobre ela. Ela, minha vó Therezinha, a Therê do Milton, a mãe do Zezinho e da Guacira. A madrinha e mãe da Terezinha, que ganhou seu nome numa homenagem que virou família. Minha vó e avó da Natalia, do Adriano, da Amanda, da Ana Paula, da Bruna e, agora, também da Isabelly. A dona Therezinha, dona de uma força de vontade capaz de subir paredes, capinar mato do quintal, preparar bolinhos de banana num piscar de olhos só para agradar os netos. Eu a conheci 32 anos anos atrás, quando nasci, cinco dias após ela completar 48 anos. Ela deve ter me visto no hospital mas precisou correr para cuidar do marido, que havia comido umas laranjas passadas e teve uma crise estomacal. O Milton ficou uns dias internado e só foi curtir a primeira neta depois que a filha estava recuperada da cesariana. Coisas da vida. Histórias desencontradas

o choro

Então eu tive três rápidas semanas de férias apenas sete meses depois de tirar um longo mês de descanso merecido. Foi um ano e meio sem sair da redação, treinando estagiários, demitindo repórteres, me acostumando com o fracasso do projeto que nasceu morto, endoidando e pensando em jogar tudo fora. Depois daquelas férias no início do ano, de viagem com a mãe, de conhecer o canto longínquo da irmã, de comer polenta com os tios italianos, estava certa de que teria que mudar de vida senão enlouqueceria. A internet, definitivamente, não é para os fracos. E eu ainda sinto que fracassei com ela, mas a verdade é que ela vinha me abandonando desde o início da nossa relação. Talvez eu seja, sim, uma garota impressa. Sei lá. Só sei que há quatro meses preciso descobrir pautas de veículos e economia e tenho feito da melhor maneira que consigo. Hoje já sem tanto medo como quando ouvi da chefe que teria de editar o jornal impresso. Nunca minha falta de confiança em mim mesma gritou tanto e tive tant

lembranças demolidas

Já não da mais para roubar uma rosa ao passar em frente ao número 135 da Rua Soldado Cristóvão Morais Garcia.  Derrubaram a casa da minha vó. O dono resolveu usar o terreno para construir um galpão onde estacionará seus caminhões. Meu coração apertou, veio uma vontade de chorar, mas não fiz nada. Simplesmente calei. E lembrei. Do portão que abria para fora, do vô esperando no portão de vidro para dar beijo estalado, do cheiro de comida fresquinha vindo da cozinha. Lembrei do rádio ligado em programas populares, enquanto eles tomavam café da manhã. Meu vô sentado na mesa da cozinha, de frente para a porta do quintal, fingindo acenar para a minha mãe que estava na janela do apartamento. Eu não chorei mas meus olhos se encheram de lágrimas. Pareceu que a vida me dava mais um cutucão, mostrando que o futuro insiste em chegar mesmo eu não estando preparada. Me bateu saudade das festas juninas e fogueiras improvisadas da vó, de subir no telhado para ver os balões de São João e cantar com os

mais um dedo de prosa

Um bule de café sobre o fogão à lenha A mãe havia morrido subitamente. Jovem, com pouco mais de 40 anos, havia acabado de dar à luz a caçula. Uma simples dor de estômago levou-a ao hospital e pegou a família de supresa. Não havia nada que o patriarca pudesse fazer se não criar os oito filhos do casal sozinho.  Os dois mais velhos - ainda adolescentes - precisaram assumir o cuidado dos irmãos enquanto o pai cultivava a terra. O menino ajudava na lavoura. A menina preparava as refeições, lavava e passava as roupas, limpava a casa. E deixava um bule com café sobre o fogão à lenha para quando o pai retornasse da roça.  Os menores também tinham suas obrigações. Depois de frequentar as aulas do jardim de infância pela manhã, cuidavam do sítio: um alimentava os porcos, o outro recolhia os ovos do galinheiro, o terceiro regava a horta e o menor ajudava os outros três. A menina ajudava a irmã mais velha na cozinha e cuidava da bebê de apenas um ano. Diversão era pouca mas tinha: de

bella

No dia em que o Facebook anuncia 1 bilhão de seguidores pelo mundo eu fico sabendo, por acaso, enquanto dava aquela última olhada no site antes de encerrar o expediente no jornal, que a Bellinha ia nascer a qualquer momento. Nossa, que surpresa deliciosa num dia daqueles. Uma informação simples do primo adolescente em meio a tanta bobagem que a gente posta na rede social me deixou ansiosa e também o resto da família, afinal, a menininha resolveu nascer uns 20 dias antes do combinado. Foi apenas pressa de vir ao mundo. O parto foi rápido e nenê e mamãe estão bem. Papai está com elas e a nonna já chegou para cuidar da turma por uns dias. E eu, claro, preciso contar tudo isso ao mundo virtual, que às vezes parece mais real que a vida. Essa pequenina tão querida antes mesmo de ocupar um espação na barriga da Su povoava nossos desejos: nada mais justo que um casal que se ama presentear os amigos com o fruto dessa união. Isso é perpetuação da espécie, é felicidade pura. Enfim, quando soubemo

um filme particular

Todo dia quando atravesso o bosque ao sair do trabalho, imagino uma câmera me seguindo e uma voz narrando meu pensamento. Imagino apenas o começo de uma narrativa que terá um final feliz. Me imagino a personagem tristonha cuja história sofrerá uma reviravolta. Ela dará a volta por cima depois de resolver diversos dilemas e terminará muito melhor do que começou, será literalmente a protagonista do seu próprio filme. E isso acontece todos os dias. Não só quando volto do jornal, pensando o que farei para o jantar. Acontece quando estou prestes a levantar da cama, ainda preguiçosa, sem coragem. Nesse momento me imagino numa cena em que a simples atitude de jogar as cobertas de lado e entrar no chuveiro dá início a uma série de eventos transformadores. E no banho, sempre escrevo em pensamento o texto mais interessante. Elaboro os discursos mais apaixonados. Sei tudo o que preciso dizer. Mas é só me secar com a toalha para as ideias também secarem. E quando me visto, penso: que personagem qu

sentir

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Ela me disse para simplesmente escrever, que o que eu escolhesse dividir não fossem as palavras de uma adolescente num diário qualquer, mas sim os sentimentos que movem essa ainda-adolescente-querendo-ser-mulher a levantar da cama todas as manhãs. De sentimentos eu entendo pouco apesar de sentí-los. Entendo pouco porque mal sei nominá-los enquanto os sinto. É nessas horas que meu maior companheiro - e inimigo - dá as caras: o medo. Este sentimento que me acompanha até nos sonhos de vez em quando e me impede de dizer certas verdades e agir como deveria no momento certo. Tem a frustração, companheira inseparável do medo. Tem a insegurança, que é amigona da frustração. E tem a raiva, que surge por motivos bobos (ou nem tão bobos assim), quando o trio parada dura (medo+frustração+insegurança) decide colocar as manguinhas de fora. É claro que conheço sentimentos positivos, mas agora não consigo pensar sequer em um. Talvez saciedade, ha. Mas também não sei se é um sentimento tanto quanto uma

um passeio de BMW

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Há dois meses me vi em mais uma situação inusitada e apavorante. Deixaria o mundo virtual de volta ao impresso e de uma só tacada, teria de aprender sobre economia e carros. Teria de aprender a editar uma matéria. Escolher o melhor título, ressaltar dados importantes na linha fina, destacar o conteúdo da melhor foto numa frase, cortar, incrementar textos. Teria de pautar repórteres, discutir ideias de matérias para o fim de semana. Teria de dar um passo à frente sem ter certeza se estava pronta para dá-lo. Editar o site era confortável. Bem, não confortável, porque a cobrança me deixava sem dormir nos últimos meses. Era, no mínimo, familiar e estava apenas me adptando à rotina de ser editora aos 31 anos quando tudo mudou após uma simples conversa com a chefe numa dessas noites de quinta-feira. - Você vai, vai ser legal, eu confio em você! Entendi as palavras da chefe como mais uma chance de fazer a carreira dar certo, de me reassegurar de que a escolha de viver em Londrina foi acertada

barbearia

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Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Descobri assim mesmo, por acaso, o quanto a vida é redonda. Ela é tão redonda, que se você jogá-la para longe ela rola de volta para você. E ai não tem escapatória. A redondice da vida te faz reviver erros que você pensava nunca mais repetir até repetí-los de novo tantas quantas as vezes necessárias para aprender. A redondice da vida te coloca de cara com o espelho sempre que o ego te surpreender. Te coloca frente a frente com a pessoa que mais te cobra e mais te machuca. Te faz ver de um jeito ou de outro o quanto você sabe ser injusto. A redondice da vida te aponta os defeitos: os seus e os dos outros. Na verdade, os alheios são reflexos do que não gostamos em nós e queremos mudar mas somos muito egocêntricos para fazê-lo. Essa bola gigante que nos põe em movimento dia sim outro também nos leva para longe de nós mesmos, nos traz de volta, nos transporta para perto de quem

a Mari não tem...

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Hoje é Dia do Solteiro e bem nesta quarta-feira, que saio mais cedo do trabalho, resolvo que quero entregar o presente da faceira Clari, que fez aniversário há um bom tempo já. Pois combinei com a Carol, mãe da pequena, de jantarmos algo saudável enquanto matamos as saudades umas das outras. Depois da academia, o trio passou em casa para me buscar e partimos rumo ao único restaurante light que conhecíamos. Quem diria que ele estaria fechado. Seguimos, então, passeando pelas ruas da pequena Londres até decidirmos comer um sanduíche árabe. As meninas nunca tinham provado então seria uma experiência nova. Conversa vai, conversa vem, dona Ceci resolve elencar o que a Mari não tem na vida. "A Mari não tem namorado, a Mari não tem marido, a Mari não tem paquera, a Mari não tem amante, a Mari não tem filho, a Mari isso, a Mari aquilo". Até ai, tudo bem, estávamos rindo à beça quando a Clari solta: "A Mari não tem metidão". Traduzindo: "A Mari não é metida não". U

quase um mês

Já faz quatro semanas que mudei de função no trabalho (de novo) e tive que me adaptar. A rotina já está consolidada e agora é só preencher o resto do dia com algo mais interessante que a cama. Para não reclamar, posso dizer que tenho lido bastante, coisa que nunca fiz em toda a vida. E esse tem sido o lado bom de ser preguiçosa. Mas sabe, pelo menos quando chego no jornal, estou descansada. Não sinto aquela canseira corporal. Mas é claro que ler notícias e pensar em pauta a tarde toda deixa qualquer mente cheia. Mas tem sido melhor do que eu poderia esperar. Cada dia um dia nessa nova etapa e a ansiedade não tem tomado conta, ainda bem. Até ganhei refresco da poltrona marrom. Daqui para frente, um encontro a cada duas semanas. Será o início do fim? Sei lá. Só sei que me sinto vitoriosa por ter enfrentado essa bendita poltrona nos últimos dois anos. Ela mudou minha vida e o que aprendi sentada lá me ajuda a tomar as decisões que surgem. Não é tão fácil e natural como parece, mas é um pr

aos solitários

É sexta à noite. Eu sai relativamente cedo do trabalho, apesar de ter passado praticamente o dia em frente ao computador lendo matérias, retrancando fotos, escrevendo títulos, linhas finas, legendas, uma janela aqui outra ali, corrigindo páginas, apagando uma lista infinita de e-mails. Estou feliz. Estou calma, depois de muito tempo sem dormir direito. Se hoje sinto um medo é de estagnar de novo. O destino me fez aprender que posso com ele, afinal de contas. Aquela sensação de vazio e impotência que me consumia foi substituída por trabalho e entendi que quanto mais coisas a fazer, mais feliz eu sou. Pronto. Apesar de dormir muito todas as manhãs, sinto uma força se construindo aos poucos dentro de mim e que em breve retomarei a vida saudável. Se é que um dia tive uma. Enfim, os problemas são outros que a comida que comi hoje ou se fui caminhar. Os problemas são maiores que meu peso e meu triglicérides alterado. Não que a saúde não seja importante, mas é que nesse momento ela simplesmen

'transformando lealdade em padrão'

Ser torcedor de futebol é um sofrimento só. É noite sem dormir antes da partida decisiva, é desespero quando o time adversário faz um gol, é choro se o time perde. Cair para a segunda divisão, então, é indescritível. É tão indescritível quanto comemorar o título da segundona e o retorno à elite. Ser tocerdor é se preocupar com a gozação do amigo no dia seguinte. É imaginar piadinhas e tentar não se incomodar com as tiradas dos rivais. É levar na esportiva. Ser torcedor é simplesmente amar algo tão inexplicável quanto um grupo de 11 caras desconhecidos correndo atrás de uma bola, ora defendendo uma esquadra, ora outra, assim como você, que ora trabalha numa empresa, ora em outra. Conheço torcedores do Santos de Pelé e da democracia corintiana. Conheço são paulinos da época do Rai e do tri mundial. Conheço palmeirenses que veneram a Academia e torcedores do LEC que adoram recordar os momentos áureos do azul celeste do Norte do Paraná. Eu mesma sou uma palmeirense da era Parmalat, do mata

realidade

Fui a um revival. Num bar onde há anos não colocava o pé. E ao invés de ficar recordando o passado, dei risada do presente. Quer dizer, lembrei de quando tomei algumas cervejas lá com os novos amigos que havia feito naquele primeiro ano de Londrina. Mas foi só. Ao final da festa e depois de muitas cervejas, no nono ano de Londrina, descemos a São Paulo rumo à barraca de pastel. Paradas inesperadas nos sinaleiros para imitar os Beatles em Abbey Road ou atender um telefonema na cabine londrina da praça. Fotos na madrugada gelada. Me pareceu brega no início mas a tal câmera na balada se mostrou mais divertida do que eu pensava. Mais uma para eu aprender. Na feira, depois de darmos a primeira mordida no pastel, presenciamos a briga mais estúpida de todos os tempos: um nervosinho acusando um carinha de ter tirado a maionese da mão dele enquanto ele ainda estava recheando o pastel com a meleca. Em meio a empurrões, bem fracos diga-se de passagem, o nervoso foi embora com um amigo grandão enq

lucky

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Tô achando tudo muito estranho. De repente eu cheguei cedo, eu enfrentei poucos minutos de fila, assisti a shows muito interessantes e quando o relógio bateu 18h50, eu vi minha bandinha tocar pela segunda vez. Pulei mesmo, gritei mesmo, dancei mesmo e cantei muito. Talvez porque estava entalada com milhões de pensamentos inúteis ou simplesmente porque estava ali, ouvindo músicas que me remetem a um passado próximo que me fez muito feliz, mas que ficou para trás. Aquela euforia de ouvir o Franz e cantar aquela música especial deu lugar ao familiar. Por isso achei tudo muito esquisito. Deu tudo muito certo para mim. Só não deu certo dividir o momento com os amigos conquistados nesse passado próximo. De dentro do parque, vendo tanta gente esquisita, analisando atitudes e admirando a coragem alheia, dei risada com a prima caçula que via a banda pela primeira vez e não entendia muito bem o que acontecia. Ela se esforçou para gritar comigo um ou outro refrão, mas ficou frustrada porque eles

uma terça tilt

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Quando cheguei em Londrina, há nove anos atrás, conheci um pessoal que me apresentou um mundinho novo. Colorido, cheio de all stars de diferentes canos, barbas compridas, muito xadrez, calças justas, cabelos assimétricos e música que eu nunca havia escutado antes. Era meu mundo mágico, para o qual eu fugia terça sim, terça não. Onde conheci novas bandas, pessoas interessantes e onde comecei a beber cerveja em dias de semana. Quando eu falava da tal festa, o pessoal de casa tirava sarro. Mas ficava um vazio na semana se eu não fosse ouvir o Galão tocar. Para me ajudar a entender o que acontecia, o dj gravou dois cds com um resumo da cena musical alternativa da qual eu nunca tinha ouvido falar. E assim foi, os anos passando, novos amigos discotecando, dedicando músicas para mim até que um dia eu mesma me aventurei nas picapes. Foi sensacional. Foi um trabalhão escolher as músicas, até porque eu queria mesmo era agradar a minha turma e não o resto. Então teve de tudo e eu me senti a rainh

banho de água fria

Estava eu comendo uma pizza com uma amiga nesta sexta-feira e de repente me vi revendo alguns conceitos perdidos em meio à rotina exaustiva. Foi mesmo assim, entre um pedaço de pizza e um gole de Coca, que nos vimos discutindo o futuro da nossa profissão e como a vida depende da paixão para fazer sentido. Sim, a vida, não só a profissão, não só os relacionamentos, não só a saúde, mas cada segundo precisa de um bocadinho de paixão para fazer o mínimo de sentido. Tá bom, parece exagero, mas tem um fundinho de verdade nisso tudo. Se cada vez que eu levasse uma bronca eu encarasse como um ato passional, talvez eu entendesse realmente o que deveria mudar e faria melhor para, justamente, não levar a tal bronca de novo. Talvez se eu defendesse meu ponto de vista com mais sentimento, ele seria acatado. Nem que fosse uma única vez e isso seria o máximo. Paixão é uma palavra simples, mas de um significado enorme para o ser humano. Nos move. Nos coloca à prova, nos faz cometer os atos mais insano

sobre contos e fadas

Pelo visto a gente realmente não muda. As neuroses nos acompanham, nós é que temos que saber lidar melhor com elas. Tenho ouvido isso há uns dois anos e a coisa toda parece não querer entrar na minha cabeça. Dai vem a irmã e diz que tudo o que tenho feito parece mesmo não ter modificado nada. E vem a prima-irmã e fala a mesma coisa e eu me pego suspirando ao ver mais uma comédia romântica na tv e eu mesma me pergunto se já não é hora de crescer de verdade. Deixar a reclamação para quando ela realmente é necessária e simplesmente encarar que as pessoas gostam de mim exatamente como sou e que realmente não preciso ser a melhor de todas. Preciso apenas ser. Se acho que meus olhos são verdes mas o mundo insiste em dizer que são azuis, por que não dar uma chance ao mundo e tentar enxergá-los com o tom azulado que, quando as pupilas não estão dilatadas, aparece no espelho. Tomar bronca por deixar de procurar um médico quando o cabelo está caindo há pelo menos um ano e o estômago queima depoi

abre a porta e a janela, venha ver quem é que eu sô

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Quem sou eu? Quem é você? O que estamos fazendo aqui, nesta vida que hora parece fazer sentido, hora lembra ficção científica. Quem sou eu neste emaranhado de pensamentos. Em meio a mentes que não param de calcular nem por um segundo. A noção de tempo parece ser diferente para cada um e ainda assim, vivemos o mesmo tempo. As mesmas horas compostas por minutos que duram 60 segundos e assim vai. Por que, então, aquela vida na cidade quente e de ruas largas parece ser mais pacata que a vida em terras vermelhas, quando a rotina em terras vermelhas parecia mais pacata que a loucura da metrópole? Por que a secura do cerrado encanta os olhos, ainda que cercada de capitalismo em forma de gado e soja? Lembranças da vocação familiar ou algo parecido, talvez.   Por que um banho no mar de águas quentes e calmas consegue afastar os pensamentos e tudo o que se vê pela frente são recifes de corais e não a conta do cartão de crédito ou a consulta no dentista? Não há ondas, não há conflitos, só a conte

nas canaranas

Estou aqui sentada no espaço gourmet da casa da minha irmã, no Mato Grosso. Mais precisamente em Canarana,onde o Judas perdeu as botas e decidiu deixá-las por aqui mesmo para um colono gaúcho usar porque seria muito demorado voltar. Só a Natalia mesmo para mudar tão radicalmente assim de vida. Mas não me levem a mal. A cidade é uma belezinha, ruas largas, planejadas para se tornarem capital do Araguaia. Não deu muito certo. Ainda assim, é bastante aconchegante. Pequenina, lontana, mas aconchegante. O pastel é bom, os alimentos são caros no supermercado, que apresentam uma gama de produtos locais que não saberei nomear por aqui. As locadoras ainda são fonte de entretenimento por aqui. Claro que a mais nova alugou três filmes para entreter a mais velha, não sem dormir sem terminar de ver a película. Como aquela prima que mora em Rolândia. Os dias passaram devagar,mas hoje,última estada no lar de Natalia e Nicola, sinto que foi rápido. Por momentos pareceu que o tempo parou de tão calmo

dores de cabeça

Eu não quero viver de improviso. Eu quero construir. Eu sinto que estou no caminho certo ainda que algumas frases me magoem e me façam refletir e me deixem com dor de cabeça no fim de semana de clássico. Eu não vivo de improviso. Apesar de dizer que amanhã eu me alimentarei melhor, que amanhã eu irei caminhar no lago, que amanhã eu trocarei o óleo do carro ou farei um check-up, que amanhã eu visitarei as crianças no projeto ou almoçarei com meus tios. Eu creio que a vida é essa ai que se apresenta e que faço o que posso com os recursos que tenho. Talvez precise aprender novos recursos. E não é uma questão de capacidade, mas de oportunidade. Ainda que não viva de improviso, quero dar um passo de cada vez. Porque quando aquela coragenzinha nasce, ela se acha dona do mundo e acaba estragando tudo. Melhor ir devagar e sempre. Melhor aprender a lidar com as frustrações e andar com a cabeça erguida, sem sentir pena de mim mesma e ter a sensação de dever cumprido. Seja qual for esse dever, po

crescendo

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É muito bom sentir-se parte de algo. Saber que não importa o que você faça de errado, os amigos eventualmente vão te perdoar e tudo vai ficar bem. Que a gente não precisa ser perfeito, precisa é ser si mesmo, que as qualidades aparecem e superam os defeitos que a gente acha insuportável. De repente o que odiamos em nós é exatamente o que outro adora. É engraçado como todo mundo tem um ponto fraco. Mas quando descobrimos que o outro também tem medos bobos como os nossos, fica mais fácil se sentir verdadeiramente humano. E se admirar e admirar o amigo ainda mais. Somos todos corajosos porque a vida é mesmo complicada quando quer. Eu adoro meus amigos. Eles estão sempre em meu pensamento. Hoje sei que é assim não porque eu vivo sozinha, mas porque sou assim. Me lembro e me preocupo com aqueles que amo como se me preocupasse comigo mesma. Para mim é fácil cuidar do outro. E nessa brincadeira acabo até esquecendo de mim, às vezes, mas prefiro ser essa pessoa que nunca esquece. Que quer esta

sensação

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Há dias carrego a sensação de que algo vai acontecer comigo. Não sei bem se será bom ou ruim, apenas que vai acontecer comigo. Nas duas últimas semanas, muitas coisas estranhas me aconteceram para as quais há explicação e ainda assim eu as achei bem esquisitas. Agora essa coisa engasgada na minha garganta. Pode até ser gripe, mas não creio. Acho que algo muito grande vai me acometer e não saberei como lidar com isso. Me sinto meio encurralada nos meus próprios pensamentos. Mas isso também é comum, vivo perdida dentro de mim mesma. Sei lá. Talvez seja a rotina me matando aos poucos novamente, talvez seja o trabalho, que têm se acumulado e me trazido apenas preocupações ultimamente. Talvez seja a iminência de férias tão desejadas e a possibilidade de conhecer lugares nunca antes visitados. Talvez seja apenas a tal expectativa. E como adoro sofrer por antecipação, meu estômago já dói antes mesmo que alguma coisa efetivamente aconteça. Todo ser humano tem aquilo que chamamos intuição e som

família

Que saudade me deu da minha família, de repente. Dos domingos tranquilos, cada um no seu canto e ainda assim junto. Minha mãe fazendo almoço, eu e meu pai vendo futebol italiano na tv, a Na dormindo. A gente almoçava cedo. Meio-dia e meio já tava todo mundo pronto para passar a tarde dormindo. Minha mãe tomando conta do seu lugar no sofá, meu pai seguindo o chamado da cama, a Na ainda dormindo e eu vendo tv com a minha mãe. Eu assistindo e ela dormindo. E assim que eu mudava de canal, ela acordava e reclamava. Quatro da tarde e o meu pai acordava para ver mais futebol. Se eu estivesse inspirada, ia para o quarto ver o Verdão com ele. Se não estivesse passando o Parmera, a gente assistia o jogo da vez e ouvia o Palmeiras pelo rádio. Se meu espírito não estivesse tão futebolístico eu permanecia na sala, vendo seriados na tv com a minha mãe até a hora da janta. Normalmente depois de acabar o jogo, meu pai tomava banho e vinha pedir comida. Só ele jantava o que restava do almoço. As menina

finais

No final tudo dá certo e se ainda não deu certo é porque não chegou o final. Tá bom, eu entendo que tudo vai ficar bem, mas de repente eu queria um tantinho de paz por mais uns dois meses, só para poder realmente aproveitar a praia e as duas mulheres da minha vida. É pedir demais? Eu sempre briguei tanto com elas e quando finalmente a gente se entende, eu não me entendo. Oras bolas carambolas. Eu acho que devo mesmo ter um parafuso solto ou sentimento demais dentro do peito. Ou as duas coisas. Eu sei que a felicidade depende mais de mim do que do outro. Também sei que tenho que deixar o outro fazer a parte dele de vez em quando e não resolver tudo sozinha, mas ainda me sinto na creche nessas horas. Só consigo ter certeza de que se o certo demorar para chegar eu ainda terei o meu próprio rosto para encarar no espelho e isso deve bastar. Mas o problema é que de vez em quando ele não basta e ai, como fazer? Eu sei que nem tudo que acontece de errado é culpa minha, que não estou aqui para

um mundo inteiro

A amiga tá sempre dizendo que ao mudar algumas coisinhas, oportunidades acontecem. É, devo admitir que essa amiga quase sempre está certa. Quase. Às vezes até mais do que eu gostaria, mas a sabedoria dela me inspira sempre a ser melhor e é isso que importa. Enfim, ao encarar o meu tabu, uma oportunidade bateu em minha porta e eu decidi abrir. Não foi lá como eu imaginava que seria. Foi até melhor. Me senti liberta. Pode ser até uma sensação momentânea, mas a experiência valeu. Sei que aquele frio na barriga vai voltar em uma situação parecida, mas hoje sei que tenho controle sobre a situação e que mesmo que perca o controle um pouquinho, vou dar conta do final. Dar conta. Engraçado. Não deveria pensar nisso, deveria simplesmente viver e ponto. Mas comigo é assim. Saudade do passado. Futuro resolvido. Medo do presente. Depois de uma festa estranha com gente esquisita (e bota esquisita nisso), acordei cansada, corpo dolorido, fome. Nada para comer. Experimentei mais um bem casado da tia

algumas alegrias

Me disseram que eu devia escrever um blog que contasse minhas trapalhadas, que é isso que as pessoas gostam de ler etc. Por vezes me perguntei o porque de escrever para os outros. Por que desenhar palavras só para mim não é suficiente? Neste milênio maluco em que vivemos, em que vale mais postar fotos coloridas e felizes numa rede social qualquer, postar todo e qualquer pensamento, se fazer presente ainda que esteja a léguas de distância, me parece esquisito manter um diário, uma agenda, que seja. Mais "normal" é desabafar para o mundo. De repente vai que ele ouve e estende a mão, faz um cafuné. Vai que. E não é que minha vida seja só conversa na poltrona marrom. Pelo contrário, ela é tudo menos os 60 minutos que passo lá sentada. Ainda assim, é exatamente nesta uma horinha semanal que eu entendo as minhas babaquices e admito as minhas falhas e fico frente a frente com o medo. Seria muito legal chegar aqui dizendo que tomei duas cervejas ontem à noite com as amigas e que cheg

um grande garoto

Passa tanto tempo e aquela figura ainda mexe com ela. Vai saber por quê? Tem alguma coisa naquele garoto. Bom, ele não é mais um garoto. Cresceu. Continua crescendo. Ela acompanha de longe. Às vezes ela pensa que ele sabe, mas no fundo ela sabe que ele não sabe de nada. Ainda assim ela acompanha. Eles cresceram juntos. É engraçado de ver, ela pensa. Porque ela tinha medo dele e hoje ele é apenas mais um conhecido. Quer dizer, não é apenas mais um, mas como ele não sabe de nada, ela pode continuar observando de longe. Analisando os sorrisos, as frases, as músicas. E segue a vida. De vez em quando ela lembra daquele primeiro dia. Daquele olhar perdido naqueles olhos. Naquela figura que causava um certo medo. A deixava perdida. Totalmente perdida naquele rosto, naquele corpo. Ele conseguia se impor como se fosse o rei da cocada preta. Ah, como se destacava. Pelo menos para ela. E assim foi. Ele vivendo e ela acompanhando. Um dia os caminhos se cruzavam, ela ficava com medo, abaixava a cab

adorável psicose

E de repente minha mãe me fez assistir um seriadinho do Multishow que fala sobre terapia. Mais precisamente da adorável psicose que é a vida da Natália, a dona da série e de histórias que me fazem rir e refletir. Universo paralelo, sitcom, exercícios, o cara de bigode que é tosco mas tem lá o seu charme, entre outros temas malucos que de malucos não têm nada. São, na verdade, a versão engraçada do dia a dia de qualquer humano, porque a Natália, dona também do blog que leva o mesmo nome do seriado, é humana, com H maiúsculo. E justo hoje, que acordei com aquele vazio no peito e vontade de chorar, sentindo aquela peninha básica de mim mesma, tinha um post perfeito para mim. Sobre ego. Sobre a nossa capacidade de pensar somente em nós ainda que esteja caindo o mundo lá fora. E o mais legal é que ela fala sobre ego sem o intuito de parecer boazinha e se tornar altruísta de uma hora para outra. Ela assume seu egoismo e manda ver uma música dos Beach Boys. Foi um alento numa semana difícil.