aos solitários

É sexta à noite. Eu sai relativamente cedo do trabalho, apesar de ter passado praticamente o dia em frente ao computador lendo matérias, retrancando fotos, escrevendo títulos, linhas finas, legendas, uma janela aqui outra ali, corrigindo páginas, apagando uma lista infinita de e-mails. Estou feliz. Estou calma, depois de muito tempo sem dormir direito. Se hoje sinto um medo é de estagnar de novo. O destino me fez aprender que posso com ele, afinal de contas. Aquela sensação de vazio e impotência que me consumia foi substituída por trabalho e entendi que quanto mais coisas a fazer, mais feliz eu sou. Pronto. Apesar de dormir muito todas as manhãs, sinto uma força se construindo aos poucos dentro de mim e que em breve retomarei a vida saudável. Se é que um dia tive uma. Enfim, os problemas são outros que a comida que comi hoje ou se fui caminhar. Os problemas são maiores que meu peso e meu triglicérides alterado. Não que a saúde não seja importante, mas é que nesse momento ela simplesmente foge dos meus pensamentos e da minha vontade. Hoje um amigo me disse que sentia medo de ficar sozinho para sempre. Há algumas conversas atrás respondi a mesma coisa para a moça da poltrona marrom quando ela me perguntou qual o meu maior medo. Saiu de sopetão, sem precisar pensar muito. Quando era pequena, eu diria, meu maior medo é de cachorro. Na adolescência, responderia, não saber beijar. Na vida adulta, tendo superado alguns medos bobos e outros não tão bobos, tenho que confessar que a solidão é o mostro escondido debaixo da cama. Não é o ET do filme, mas a sensação de que eu deveria estar dividindo tudo isso com alguém além dos amigos e da família. Aquele companheiro que a vó insiste em perguntar toda vez que me vê, como se lesse meus pensamentos. Mas ainda não estou pronta. Apenas consegui terminar uma semana numa nova função sem sofrimento e com boas horas de sono, não é hora de atiçar a ansiedade. Mas é quando tudo parece bem que aquele vazio incomoda. Eu deveria estar na rua, bebendo uma cerveja, dançando ao som de uma música qualquer, rindo de uma bobagem que um amigo disse e estou aqui escrevendo. Por segundos isso me pareceu ridículo mas depois de preparar a janta e abrir uma cerveja só para mim, a qual consegui consumir inteira sem cair de sono, olha só, devo dizer que me sinto mais próxima do que nunca da possibilidade de ficar assim para sempre, sem achar tudo tão ruim assim. É claro que ganhar cafuné de quem se ama é muito mais gostoso que escrever num blog numa sexta à noite com a conta cheia do salário do mês. Mas o sentimento, pelo menos agora, é de poder. Escolhi estar aqui hoje como estou, em pijamas, com o computador no colo, meio copo de cerveja ao lado e a louça suja na pia que ficará para amanhã. Escolhi que depois desse desabafo irei assitir seriados de comédia até os olhos cansarem e dormirei até a hora que o corpo não aguentar mais ficar na cama amanhã. Cuidarei das tarefas caseiras como sempre e ainda sobrará tempo suficiente para escolher o que fazer com o resto do sábado. Como tem sido nos últimos 31 anos. Aquele amigo também disse que existem muitos de nós, solteiros solitários, por ai. Concordei. Mas ainda acho que tem muita gente desperdiçando tempo sozinho. Eu sou uma delas. Mas algo me diz que logo eu me apaixono de novo. E dessa vez será sem medo. Sem vergonha. Sem fantasia. Será de verdade. Um amor de verdade. E alcançar a verdade é para poucos e bons.

Comentários

  1. alcançar a própria verdade é um desafio ainda maior...

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  2. O OLHAR DE YOLANDA

    Entre eu e você
    Existe um enorme abismo
    Que precisa ser vencido
    Com diálogos e confissões.

    Quando estou só
    Sinto falta do seu olhar,
    Quando estamos juntos
    Sinto falta de nos comunicarmos.

    Mantenho ardentemente a esperança
    De um dia tê-la em meus braços.
    Conectar-me com seu corpo
    Em tortuosas ondas de rádio.

    A Timidez uniu-se ao Coma
    Gerando tempestades cerebrais,
    Impedindo a nossa aproximação.

    Quero gritar ao mundo que a amo,
    Mas como posso fazê-lo
    Se os seus olhos insistem me negar?
    Terei que fazer meu papel de bobo
    Ou atuar como um desentendido?

    De repente...
    A sirene do intervalo tocou
    Despertando-me de um sonho distante.
    Tão distante, mas próximo do teu olhar
    ...Yolanda.


    *Este poema é parte integrante do livro (O Anjo e a Tempestade) do escritor Agamenon Troyan.

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