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Mostrando postagens de outubro, 2012

lembranças demolidas

Já não da mais para roubar uma rosa ao passar em frente ao número 135 da Rua Soldado Cristóvão Morais Garcia.  Derrubaram a casa da minha vó. O dono resolveu usar o terreno para construir um galpão onde estacionará seus caminhões. Meu coração apertou, veio uma vontade de chorar, mas não fiz nada. Simplesmente calei. E lembrei. Do portão que abria para fora, do vô esperando no portão de vidro para dar beijo estalado, do cheiro de comida fresquinha vindo da cozinha. Lembrei do rádio ligado em programas populares, enquanto eles tomavam café da manhã. Meu vô sentado na mesa da cozinha, de frente para a porta do quintal, fingindo acenar para a minha mãe que estava na janela do apartamento. Eu não chorei mas meus olhos se encheram de lágrimas. Pareceu que a vida me dava mais um cutucão, mostrando que o futuro insiste em chegar mesmo eu não estando preparada. Me bateu saudade das festas juninas e fogueiras improvisadas da vó, de subir no telhado para ver os balões de São João e cantar com os

mais um dedo de prosa

Um bule de café sobre o fogão à lenha A mãe havia morrido subitamente. Jovem, com pouco mais de 40 anos, havia acabado de dar à luz a caçula. Uma simples dor de estômago levou-a ao hospital e pegou a família de supresa. Não havia nada que o patriarca pudesse fazer se não criar os oito filhos do casal sozinho.  Os dois mais velhos - ainda adolescentes - precisaram assumir o cuidado dos irmãos enquanto o pai cultivava a terra. O menino ajudava na lavoura. A menina preparava as refeições, lavava e passava as roupas, limpava a casa. E deixava um bule com café sobre o fogão à lenha para quando o pai retornasse da roça.  Os menores também tinham suas obrigações. Depois de frequentar as aulas do jardim de infância pela manhã, cuidavam do sítio: um alimentava os porcos, o outro recolhia os ovos do galinheiro, o terceiro regava a horta e o menor ajudava os outros três. A menina ajudava a irmã mais velha na cozinha e cuidava da bebê de apenas um ano. Diversão era pouca mas tinha: de

bella

No dia em que o Facebook anuncia 1 bilhão de seguidores pelo mundo eu fico sabendo, por acaso, enquanto dava aquela última olhada no site antes de encerrar o expediente no jornal, que a Bellinha ia nascer a qualquer momento. Nossa, que surpresa deliciosa num dia daqueles. Uma informação simples do primo adolescente em meio a tanta bobagem que a gente posta na rede social me deixou ansiosa e também o resto da família, afinal, a menininha resolveu nascer uns 20 dias antes do combinado. Foi apenas pressa de vir ao mundo. O parto foi rápido e nenê e mamãe estão bem. Papai está com elas e a nonna já chegou para cuidar da turma por uns dias. E eu, claro, preciso contar tudo isso ao mundo virtual, que às vezes parece mais real que a vida. Essa pequenina tão querida antes mesmo de ocupar um espação na barriga da Su povoava nossos desejos: nada mais justo que um casal que se ama presentear os amigos com o fruto dessa união. Isso é perpetuação da espécie, é felicidade pura. Enfim, quando soubemo

um filme particular

Todo dia quando atravesso o bosque ao sair do trabalho, imagino uma câmera me seguindo e uma voz narrando meu pensamento. Imagino apenas o começo de uma narrativa que terá um final feliz. Me imagino a personagem tristonha cuja história sofrerá uma reviravolta. Ela dará a volta por cima depois de resolver diversos dilemas e terminará muito melhor do que começou, será literalmente a protagonista do seu próprio filme. E isso acontece todos os dias. Não só quando volto do jornal, pensando o que farei para o jantar. Acontece quando estou prestes a levantar da cama, ainda preguiçosa, sem coragem. Nesse momento me imagino numa cena em que a simples atitude de jogar as cobertas de lado e entrar no chuveiro dá início a uma série de eventos transformadores. E no banho, sempre escrevo em pensamento o texto mais interessante. Elaboro os discursos mais apaixonados. Sei tudo o que preciso dizer. Mas é só me secar com a toalha para as ideias também secarem. E quando me visto, penso: que personagem qu