lembranças demolidas
Já não da mais para roubar uma rosa ao passar em frente ao número 135 da Rua Soldado Cristóvão Morais Garcia. Derrubaram a casa da minha vó. O dono resolveu usar o terreno para construir um galpão onde estacionará seus caminhões. Meu coração apertou, veio uma vontade de chorar, mas não fiz nada. Simplesmente calei. E lembrei. Do portão que abria para fora, do vô esperando no portão de vidro para dar beijo estalado, do cheiro de comida fresquinha vindo da cozinha. Lembrei do rádio ligado em programas populares, enquanto eles tomavam café da manhã. Meu vô sentado na mesa da cozinha, de frente para a porta do quintal, fingindo acenar para a minha mãe que estava na janela do apartamento. Eu não chorei mas meus olhos se encheram de lágrimas. Pareceu que a vida me dava mais um cutucão, mostrando que o futuro insiste em chegar mesmo eu não estando preparada. Me bateu saudade das festas juninas e fogueiras improvisadas da vó, de subir no telhado para ver os balões de São João e cantar com os primos e a irmã. Me bateu saudade de jogar vôlei entre as cordas do varal. Me bateu uma saudade danada de bolinho de banana e coscorão. De macarrão no domingo, polenta mole, Reveillon. Vejo meu vô rezando em frente à imagem do Cristo e bebendo a água benta antes de ir dormir. Vejo minha vó cantando na pia, lembrando da nonna e contando que conversava com ela quando se sentia sozinha. Aquela casinha que tinha o jardim mais lindo da rua, cujas rosas eram tão coloridas que esbanjavam beleza por entre as grades do portão, mora no meu coração e visita meus sonhos de vez em quando. Em pensamento, caminho pela garagem até o quintal dos fundos onde encontro a vó estendendo roupa ou regando uma plantinha ou outra. Entro na cozinha, sento em frente ao fogão e espero a vó preparar algo gostoso enquanto chama o Milton para comer. Ele sempre sentado na poltrona em frente à tv. A pilha de papéis de cigarro na mesinha de centro, ao lado do cinzeiro cheio de bitucas. Eu vejo a gatinha menina deitada no sofá, olhando para a rua, ao lado da vó, que controla a chegada do vizinho. Eu digo que está tarde e preciso voltar para casa. Dou um beijo no rosto do vô e a pequenina vó me acompanha até a esquina. Tem medo de ladrão, mas digo que moro logo ali na esquina. Ainda assim ela prefere me acompanhar e caminhamos juntas, braços dados. Na esquina ela me beija e volta para casa com passos rápidos. Eu a acompanho de longe. E a gente se liga para confirmar que estamos as duas em casa. A casa das duas caixas d`água já não existe mais fisicamente. Mas continua na minha lembrança. E na da Therê, da Gua, do Zezinho e da Tê, da Regina, do Enzo e do Amauri, da Natalia, do Adriano, da Amanda e da Ana Paula, da Bruna.
Passei lá em frente hoje Mari, mas não fui tão forte como você. Todas as minhas lembranças também vieram à tona. Lembrei da parreira de uva, do balanço na árvore, do barracão, das redes, de quando pulávamos corda, da Poly, das "Meninas" e dos "Meninos", das fogueiras, ... MUITA SAUDADE!!
ResponderExcluirpra mim a casa ainda está lá
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