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eu posso

Este ano foi o ano do "Yes, I can". Eu posso morar sozinha, ainda que seja difícil enfrentar a solidão de algumas tardes de domingo. Eu posso guardar dinheiro, ainda que não tenha conseguido economizar o suficiente para a viagem dos sonhos. Eu posso passar um mês de férias na casa dos pais sem brigas, ainda que tenha chorado muitas madrugadas, sem vontade de voltar ao trabalho. Eu posso cobrir as férias do colega que acabou de virar papai e editar esportes, ainda que eu tenha passado o mês coçando. Eu posso dar conta de editar veículos e agronegócio e ainda dar plantão na economia e política, ainda que não saiba muito bem como lidar com os repórteres. Eu posso viajar à Inglaterra e dirigir um super Land Rover, ainda que tenha batido em quatro carros parados. Eu posso ganhar alta da terapia, ainda que sofra os meses seguintes, tentando lidar com os problemas sozinha. Eu posso ir ao Rio de Janeiro com a prima assistir a Azzurra jogar no Maracanã, mesmo que tenhamos esperado qua

dias de praia

Hoje é aniversário da minha madrinha que tem nome de rainha. Regina. Ela que é mãe de três, tem dois empregos e uma cachorrinha que é uma flor. Ela que é esposa do tio Zé, o único irmão da minha mãe. Meus padrinhos. Aliás, diferente da italianada da cidade de nome diminutivo, minha família paulistana é relativamente pequena. E sempre esteve presente enquanto eu crescia na metrópole.  Nos reuniamos quase sempre aos domingos na casa da vó Therê e do vô Milton, no Novo Mundo. A casa que tinha o jardim de rosas mais cobiçado da redondeza. E nós brincávamos de mamãe polenta e lenço na mão no quintal e depois nos sentávamos à mesa da cozinha para comer bolinho de banana, coscorão ou pão torrado com manteiga. Também balançávamos nas redes e inventávamos teatrinhos imitando a Praça é Nossa.  Me lembro quando os tios moravam no mesmo prédio que a gente, um andar acima. Lembro de sempre ir brincar com o Adriano, o filho mais velho da tia Re. Lembro até do dia em que ele ganhou o fuscão preto

tentando acordar

Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda. Foi isso que o horóscopo on-line me disse hoje, dia em que acordei às 3h30 da manhã com insônia e decidi ver filmes na tevê para tentar pegar no sono. Não tenho me sentido bem ultimamente. Criei uma cobrança interna que precisa se dissolver antes que eu mesma me dissolva em lágrimas. Pode ser plutão, pode ser TPM, pode ser o fim de ano ou o inferno astral. Ou simplesmente o fato de ter tomado uma decisão difícil e não saber como compreendê-la. Decisões corporativas são complicadas, nem sempre dependem da gente e é preciso saber separar o joio do trigo para não levar problemas para casa. Quero me perdoar por mais essa decisão, que, sim, teve uma parcela minha, mas não inteiramente. Foram três cabeças pensando no que seria melhor para todos, a longo prazo. Basta aceitar e seguir em frente. Preciso aceitar. Enquanto isso, o apartamento ganha uma cor nova, de esperança por melhores momentos no ano novo que se aproxima. Ganha um qua

almoço de domingo

Tenho uma prima emprestada que gosta muito de cozinhar. Filha de pais italianos, agricultores, ela e as duas irmãs mais novas foram criadas no sítio. Com a mãe, aprenderam a desossar frango, preparar linguiça, fazer massa fresca e condimentar um molho bolonhesa como ninguém. Transformar berinjelas na verdadeira caponata siciliana também é uma das especialidades da família, conhecida ainda pela produção de ricota caseira.  Como vivem no Mato Grosso do Sul, onde as propriedades são grandes e ficam muito longe da cidade, mercado só se faz de vez em quando. Então, as mulheres da família aproveitam para arregaçar as mangas e produzir a maioria das guloseimas em casa, com o que têm no quintal.  Como adoro passar os finais de semana na cidade de nome diminutivo - onde não tem nem semáforo - com a parentada italiana, dia desses pude participar do ritual de preparação do almoço de domingo na casa da tia caçula, sogra - e vizinha - da prima emprestada que adora inventar no fogão.  Pois nes

essa tal ansiedade

Olá meu nome é Mariana e sou ansiosa. Sempre fui ansiosa e sempre serei ansiosa, não importa se fiz terapia, se bebi uma cerveja com os amigos para esquecer, se fugi para a casa da prima para brincar com a pequena. A ansiedade está sempre lá. Tenho certeza que ela nunca vai me deixar. O porque eu não sei, apenas tenho essa certeza. Então tenho que aprender a conviver com esse sentimento se não quiser enlouquecer. Tentar ter paciência. Ficar mais calma. Quase sempre consigo, mas tem dias que quero mesmo é correr da vida. Me esconder debaixo do cobertor. Fechar os olhos, virar para o lado e voltar para os sonhos. Mas não dá. E mesmo eu não"tendo família", ainda preciso pagar as contas. Gosto de consumir. E para poder ter acesso à tevê a cabo, à geladeira cheia, ao carro com tanque cheio, aos passeios com os amigos, às viagens para encontrar a família, às roupas novas, à internet, ao celular, preciso de dinheiro.  E preciso de calma para encarar a jornada. Aquela empresa não me

escalando a mangueira

Eu me lembro bem daquela mangueira no sítio do nonno. Ela ficava ao lado da casa, fazendo tanta sombra, que era impossível não querer colocar as espreguiçadeiras lá e simplesmente sentar e curtir a brisa.  Me recordo de um dia especial em que eu, minha irmã e minhas primas - o quarteto fantástico - resolvemos fazer um piquenique sob as folhas da majestosa mangueira. Era época de Natal e tínhamos decidido sortear um amigo secreto entre nós quatro em cima da hora. Os presentes seriam comprados na única lojinha de quinquilharias que tinha na cidade. O piquenique iria coroar nossa brincadeira.  Convencemos a tia a nos deixar ir para o sítio de bicicleta - sob o sol escaldante das duas horas da tarde no horário de verão - e ficarmos por lá, sozinhas, durante a tarde toda de férias, explorando o sítio.  Ela, então, preparou o lanche com pão caseiro, encheu o garrafão de água gelada, separou copos, toalha, guardanapos e distribuiu tudo nas cestinhas das nossas bicicletas. E só nos deixou s

o jornalismo

Ficar sem escrever um tempo me pareceu a coisa certa a fazer. Tirar férias do trabalho, dos amigos, de mim mesma. Das palavras. Viver um dia de cada vez, sem tantos planos, apenas algumas vontadezinhas a realizar. Ao lado da mãe, tão paciente. Um pânico tremendo tomou conta de mim na primeira noite na minha velha cama de solteira, no meu colchão com mais de 20 anos, já saturado, que machucou minhas costas até eu decidir trocá-lo por um mais novo, 15 dias depois. De repente eu queria ficar ali para sempre. Não queria mais voltar para o velho emprego. Que mantenho há uma década. No principal jornal da cidade de terra roxa. Eu simplesmente não queria mais ser jornalista. E virava do outro lado e chorava. Não contei nada para a mãe, para não preocupá-la. Decidi ir à academia todas as manhãs. Lá ficava com meus próprios pensamentos. Minhas músicas. Um livro chato, que abandonei nos primeiros capítulos. E a bicicleta e seus incontáveis quilômetros. Se eu queria comer tudo o que visse pela fr

a Tia

Viver é experimentar uma eterna solidão. Não tem como compartilhar nada. Nem dor, nem alegria. Cada um sente sozinho, do seu jeito próprio. A gente pode até tentar mas a importância é diferente para cada um e ponto. Se é dramatico é porque não sabe fazer de outro jeito. Se é pragmático é porque encara a vida na prática. Se é egoísta é porque escolheu se dedicar a apenas alguns poucos e bons. Se prefere se isolar na dor é porque aprendeu a se cuidar sozinho. Se se transforma no objeto de afeto é porque ainda não se descobriu de verdade. Se não consegue sorrir é porque não sabe o quanto é doce. Se volta para o antigo amor é porque se deu conta de que a paixão é mesmo fugaz. Se escreve é porque não sabe viver sem as palavras. A Tia morreu. E com ela levou o sorriso e o carinho que distribuia ainda que sentisse dor. Ela não reclamava, apenas aceitava. E vivia um dia de cada vez. Foi só ao vê-la com os olhos fechados naquela sala quente cheia de parentes distantes que eu me dei conta de que

crescer dói

Ser adulta é um saco. E ninguém me avisou que doía tanto. Outro dia, sem querer, me acabei em lágrimas por uma bobagem. Parecia que tinha levado uma bronca daquelas da minha mãe, como se ainda fosse criança e tivesse aprontado alguma. Mas não foi nada disso. Só doeu como se fosse. Mas assim como chegaram, as lágrimas se foram. Precisava encarar as responsabilidades diárias e fazer isso chorando por uma bobagem me pareceu bem infantil. E não posso agir como criança quando der na telha. Preciso ponderar. Escolher os momentos. Ô dificuldade. Nesse mesmo dia do vale de lágrimas, uma amiga querida me disse que sou muito boa ouvinte. Que sou uma pessoa confiável, com quem as pessoas não têm medo de dividir os problemas. Me senti orgulhosa. Mas lembrei de todos os momentos em que deixei alguém colocar a cabeça no meu ombro e o que veio depois dessa simples ação. Algumas vezes me fez sentir importante e como se realmente tivesse feito a diferença para o amigo. Outras vezes, de nada servi. Ou m

a sopa

Afe. Tá difícil. Me sinto com fome o tempo inteiro, mas não estou a fim de desistir ainda. Espero aguentar o fim de semana. A verdade é que precisava de um estímulo para recomeçar os exercícios. Em março, passei o mês inteiro numa "dieta" e caminhando na esteira pelo menos três vezes por semana. Desinchei e emagreci um quilo. Praticamente nada, mas ao ler meus relatos daquele mês, senti orgulho de mim mesma e decidi que deveria cuidar melhor de mim. Agora que, finalmente, não sentarei mais na poltrona marrom toda quinta-feira. Esta foi, talvez, a coisa mais difícil que tive que fazer por mim mesma em 32 anos e se deu tudo certo, qualquer coisa pode dar certo. Basta querer. E me comprometer. Claro que não vou comer sopa todo dia para o resto da vida, mas esse líquido "mágico" vai me ajudar a gostar do que vejo no espelho. Psicologicamente falando, já me sinto muito melhor com meu corpo do que há três anos atrás, quando iniciei a terapia. (Ah, como eu era magra e não

o dia em que recebi uma cartinha de um leitor

Escrevi esse dedo de prosa num instante de folga numa tarde corrida de trabalho no jornal, enquanto esperava as matérias chegarem dos repórteres e das agências. Nada demais, na verdade, mas depois de publicado, o texto recebeu um elogio especial de um leitor, que me mandou uma cartinha, escrita à mão, sublinhando suas frases favoritas. Me encantei!  Um refúgio Quando eu penso em campo, penso em árvores. Muitas árvores. Imagino árvores frutíferas, deixando cair suas delícias no chão de terra. O que fica no chão alimenta os animais mais espertos. Já o que fica no tronco, se colhe e se come, fazendo escorrer o suco doce da boca. Imagino os fiapos de manga no meio dos dentes, morder uma laranja docinha e espremer o sumo de um limão refrescante. Sonho com um moranguinho adocicado e um mamão no ponto de fazer compota.  Quando eu penso em campo, lembro de terra. Vermelha. Produtiva. Lembro de feijão, de arroz, de milho, de soja, de trigo, de aveia. De flores das mais diversas cores. Vejo

Su

Eu não me lembro quando foi que a conheci. Só me lembro de sempre ter ao meu lado uma menininha do meu tamanho, com os mesmos cabelos loiros cortados em formato de tigela e os olhos azuis. Só que os dela, muito mais azuis. Azuis que brilhavam sempre que ela chorava quando íamos embora. Ela foi a minha primeira grande amiga. Para quem escrevia cartas contando sobre o menino mais bonito da escola ou sobre o último gol do Edmundo pelo Palmeiras. A gente nunca se ligava. A gente se escrevia. E esperar pelas suas cartinhas era muito mais emocionante que dizer oi pelo telefone. Porque sempre que meu pai ligava para o pai dela ou o contrário, a gente trocava umas palavrinhas. Mas eu confesso que preferia as cartas. Talvez porque eu mesma sempre me expressei melhor com a escrita. Era dela que eu sentia saudades quando criança. Era com ela que eu queria brincar nas férias. Subir na bicicleta e pedalar pela cidade de nome diminutivo, fazendo a "via sacra" pela casa das tias e parando p

casinha do sítio

Quando eles chegaram ao Brasil, nos idos dos anos 1950, meus avós precisaram de muita coragem para desbravar as terras férteis do sudeste paulista. Primeiro veio o nonno. Preso de guerra, ele sobreviveu ao campo de concentração, esperou a paz chegar na Europa e decidiu vir ao Brasil em busca de oportunidade e mais qualidade de vida para os seis filhos, já que a velha bota estava falida. Na Itália, ele cultivava grãos, cuidava de umas vaquinhas, então não seria novidade nenhuma trabalhar no campo. Mas lá, os sítios eram menores e conquistar a América foi um sonho trabalhoso, que contou com a ajuda da mãe, da esposa, dos irmãos, filhos e sobrinhos. Ao lado do irmão mais novo, seu Igino desmatou a área onde construiria a casa que abrigaria a família toda, em um lote da Fazenda Pedrinhas. Eles eram em pouco mais de dez pessoas que viajaram de navio por cerca de 20 dias, rumo à vida nova. Aqui, os nonnos tiveram mais dois filhos. A bisnonna morreu pouco tempo após desembarcar em Santos, o i

meu tio agricultor

Estava sentada no sofá da sala da tia Bepina, ouvindo ela contar sobre a vinda da família da Itália para o Brasil. Ela tinha 10 anos e se lembra de detalhes da travessia que meu pai, que era um bebezinho de apenas um ano, nunca recordaria.  Ao lado do marido, o tio Vitorino, ela contou que ganhou o apelido de Bepina em homenagem ao primo Giuseppe, que havia morrido na guerra. Como ela nasceu enquanto o nonno estava lutando, a nonna a havia batizado de Rosana. Bem, o nome Rosana ficou só para os documentos pois todo mundo a chama mesmo é de Be.  Ouvindo o marido dela contar como a família passava fome na Europa, fiquei com vontade de chorar. Nunca havia imaginado tamanho sofrimento, pois hoje o tio Vitorino, que viu o irmão mais velho partir para a guerra, o pai trabalhar para os alemães e a mãe cozinhar polenta com açúcar para aplacar a fome dos quatro filhos, se senta confortavelmente em frente à tv de 20 e poucas polegadas para contar sua história com o bom humor de sempre.  Isso

il pulcino pio

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Quando participei da entrevista de emprego para uma vaga de repórter da Folha de Londrina, há dez anos, a chefe do RH da empresa me perguntou qual era meu sonho jornalístico. Respondi, sem pestanejar, que era cobrir uma Copa do Mundo. Ela riu da minha cara e disse que não era possível (outros três caras haviam respondido a mesma coisa antes de mim), que eu deveria escolher outra coisa. Não da para escolher outra coisa. Sonho é sonho e ponto. Quando pequena decidi que seria repórter de campo. Na época de prestar vestibular, escolhi jornalismo e lutei diariamente contra todos os meus medos e minhas limitações para, 12 anos depois, sentar aqui e escrever sobre essa experiência maravilhosa que tem sido fazer parte da mídia manipuladora. Descobri, primeiramente, que no dia a dia, somos mais manipulados que manipuladores, mas não é sobre isso que vou contar. Vou relatar meu mês como editora de esportes, as tabelas erradas, a ansiedade pela primeira partida internacional que veria e pela prim

um bosque

Todo dia eu preciso atravessar o bosque para chegar ao trabalho. Todo dia existe a minha casa, de um lado do bosque, e a minha vida, do outro lado do bosque. Bem, estou exagerando. Mas a verdade é que todos os dias esse aglomerado de árvores antigas me cerca. Quando acordo, é a primeira coisa que vejo pela janela. Depois, preciso atravessá-lo, pelo menos duas vezes, para chegar ao trabalho, que fica a um bosque de distância do meu pequeno apartamento. Poderia ver a sede do jornal da minha sacada, não fossem as velhas árvores. E todo dia, ao chegar do trabalho, coloco o pijama, me ajeito no sofá e puxo o cobertor. Comigo, a tevê e as árvores lá fora, balançando com o vento. Quando chove, a janela tem que ficar fechada, porque o cheiro do coco das pombas é insuportável. Mas fora isso, e o fato de eu ter que lavar meus sapatos todos os dias e correr para atravessar a calçada suja toda noite, o bosque enriquece meu dia. Me dá a sensação de que não estou mais na metrópole, de que tem vida a

hoje é o céu, o esporte e eu

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De repente me foi dado o rural e minha rotina se acalmaria. Eu teria dois cadernos semanais para cuidar e ajudaria a construir a página diária de agronegócio do jornal. Melhor impossível o reconhecimento da capacidade. Ai me foi dado o esporte. O bom e velho esporte que me abandonou e voltou por acaso. Sem chance de dizer não, de fugir, de permanecer na zona de conforto. Uma certa coragem nasceu dentro de mim nos últimos tempos e a vontade de aceitar desafios - mesmo que só no trabalho, por enquanto - me motiva. Tem sido ótimo viver um dia de cada vez. Pensar no hoje e fazê-lo dar certo. Se ficasse só nessas duas edições já teria valido a pena. No primeiro dia, duas matérias sobre o Palmeiras sem querer e no segundo dia, publicar a eliminação do meu time e a escalação brasileira para a Copa das Confederações. Copa essa para qual estou me preparando para participar. Em um mês verei a nazionale italiana enfrentar os mexicanos no Maracanã com a prima que talvez seja a única pessoa que con

melodramática

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Minha irmã diz que sou melodramática. Talvez eu seja mesmo. É que  constantemente relembro o passado, quando tudo parecia fazer sentido. Mas esse  mesmo passado para o qual eu corro sempre que tenho saudade, nunca foi assim  tão perfeito para eu desejá-lo de volta. Hoje eu vivo meu presente. Mas às vezes fico saudosa e, p ortanto, melodramática. Eu lembro da minha adolescência solitária e em frente à  tv, tendo brigas homéricas com a minha mãe por motivos idiotas e fugindo para casa dos meus  primos, que eram nossos vizinhos. Eu lembro que me sentia segura com eles,  que podia contar todos os meus mais íntimos segredos, que nossa conversa  nunca sairia daquele apartamento de dois quartos no Parque Novo Mundo. Eu  lembro deles sempre me animando e me convidando para sair. Tudo o que eu  conheci da noite paulistana aos 18 anos eu devo ao Marcio Aurélio e à Anna  Maria. Eles eram meus irmãos mais velhos e com eles eu não precisava ser  perfeita. Não tinha briga, só diversão. Aliás, a únic

dez anos

Eu tava aqui pensando, dez anos é muito tempo? É pouco tempo? É tempo suficiente? Não cheguei a nenhuma resposta. Só que esses dez anos parecem ter voado. Digo isso hoje, depois que eles passaram. Ou melhor, ainda estão passando. Faltam exatamente três meses e dez dias para completar uma década de Folha de Londrina. Uma década de Paraná. Uma década fora da casa dos meus pais. Uma década dividida com muitos. Uma década só minha. Desde que cheguei aqui me pergunto o que vim fazer por aqui. Por que aquele japonês baixinho me escolheu para trabalhar para ele lá na sucursal do Oeste paranaense, onde não tem nada de interessante e ainda assim muitas pautas acontecem. Por que fui uma das poucas repórteres que permaneceu depois daquela onda de demissões em 2004. Onda que levou o japonês baixinho. Por que fui parar no campo, voltei para cidade, fui para o universo paralelo e agora estou econômica e veloz. Por que tudo isso? Mereço tudo isso? Só consigo me perguntar qual o propósito de tudo isso

texas forever

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Foi assim: eu estava feliz rumo à obesidade mórbida, acumulando 15 kg acima do meu peso normal. Me acostumando a ficar sozinha depois de quatro anos dividindo o apê com a prima. Comendo porcaria para compensar o fato de trabalhar até as nove da noite todo dia. Enfim, tudo caminhava para roupas novas e de um tamanho maior. Mas acontece que eu tenho uma melhor amiga que vivia me dizendo que eu precisava fazer alguma coisa por mim. Dizendo que eu devia melhorar minha alimentação e fazer exercícios. E eu estava com o saco bem cheio de ouvi-la dizer isso todo santo dia que me via. Eu tenho espelho em casa, aliás tenho cinco espelhos em casa, então sei exatamente como estou. E como as roupas 42 de repente ficaram apertadinhas. Mas também sei que se a vontade de mudar não partir de mim, nunca chegarei a lugar nenhum. Pois bem, depois de muita insistência da melhor amiga, que inteligentemente criou um grupo de apoio para que eu não me sentisse assim tão sozinha na batalha, resolvi participar d

resgatando canarana

Aventura nas Canaranas (22/04/2012) Depois de dormir apenas cinco horas após a polentada e dirigir até Londrina onde tomamos nosso primeiro avião, almoçamos no genérico do Subway no Afonso Pena, onde degustamos um capucino que custou sete reais, enquanto ouvíamos que nosso voo estava atrasado. Mesmo arremetendo umas três vezes antes de pousar em Congonhas dez minutos antes da partida do terceiro avião, chegamos em Goiânia no horário para o ônibus que chegará em Canarana às 10 da manhã. Amendoim, goiabinhas, suco de laranja, pão na chapa com manteiga Aviação, coca, mate e quibes esquisitos forraram nossos estômagos antes de embarcarmos no Xavante rumo ao coração do Mato Grosso. Pernas e pés inchados, lente coçando no olho e um soninho embalado pelo sacolejar do ônibus. E um coração ansioso pela última semana de férias em companhia de pessoas especiais. Já está sendo uma aventura inesquecível. Tudo o que eu precisava para agitar a vida pacata de quem está sempre à procura. Casinha

bate coração

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Por um tempo, o cérebro esqueceu do coração batendo dentro do peito. O coração tinha batido tanto e pelas pessoas erradas, que decidiu adormecer. Ele levou uns bons baques de uma só vez. Perdeu avô, a professora e a fuinha, perdeu um jovem especial, perdeu a vizinha. Ele demorou para se recuperar. Até que decidiu transformar dor em esperança. E, principalmente, em aprendizado. Diariamente ele perde a  mãe, o pai, a irmã, a avó. Perde amigos verdadeiros. E diariamente os transforma em seres humanos imperfeitos mas autênticos. E os recupera e os carrega dentro das veias e artérias, cada dia mais fortes para aguentar a pressão. No meio de tudo, ele palpitou diferente quando um outro coração notou sua solidão. Notou sua fragilidade e sua capacidade. Notou sua beleza, sua inteligência, sua mania de usar piada para afastar o medo do desconhecido. Fugaz. Foi um bater mais rápido que o outro, até que o coração acalmou e entendeu que está pronto para continuar batendo. Pela pessoa certa. Pelo m

cuidando

Nos últimos três anos estive cuidando da alma e me esqueci do corpo. Esse amigo que suporta - quase sem reclamar - todas as aventuras da minha alma inquieta. Se estou feliz, quero comemorar, se estou triste, quero me recompensar e nesse círculo vicioso, ganhei quilos a mais que estou suando para perder. Nunca antes na minha história pressionei tanto a balança. E isso me assustou. Se com 15 quilos a menos já me imaginava uma solteirona abandonada, imagina agora. É como se não tivesse nenhuma chance. Só que como cuidei da alma nos últimos três anos, entendi, finalmente, que a minha solteirice nunca teve a ver com as gordurinhas e o braço de polenteira. E sim com as neuras de viver sempre confiando na minha imaginação e não em mim. Por isso, estar acima do peso - escolha minha, já que abandonei qualquer exercício e qualquer vontade de comer comida saudável nos últimos tempos - me ajudou a enxergar velhos medos e colocá-los à tona, de uma vez por todas. Um dia um rapaz reparou nos meus cab

um dedo de prosa apaixonado

Quando o relógio bate seis da tarde, a namoradeira se empeteca e vai para a janela. Se debruça no parapeito para ver o movimento da rua. Os rapazes e moças voltando para casa depois de um exaustivo dia de trabalho. E ela a cobiçar os moços mais bem apanhados. Um deles chama sua atenção pelo jeans surrado e camisa xadrez, mas olhos de um verde brilhante, que guardam um certo mistério. A namoradeira, vestida de chita, cabelo liso amarrado com fita e batom vermelho nos lábios, espera que um dia esse trabalhador repare na janela dela. Quando o apito da fábrica grita é hora de descansar. O metalúrgico troca o macacão sujo de graxa pelo jeans surrado e a camisa xadrez. Coloca as botas e parte para o ponto de ônibus que o levará para o sítio. E ele poderá dar uma última olhada na moça que todas as tardes guarda o horizonte da janela amarela. Em sua incursão pela vida alheia, a namoradeira reparou no jovem que corria feito louco para alcançar o ônibus que parava, todo fim de tarde, em frent

meus clássicos italianos

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E dai que eu sou filha de um italiano. Meus nonnos eram italianos, meus tios são italianos e eu sempre senti um orgulho danado disso, sem explicação. Tenho uma nonna italiana do lado da mãe, que deixou de herança os olhos azuis da vó Therê e, por consequência, os meus olhos azuis. De italiana a Therê só tem os olhos, o resto é português como o vô Joaquim. E nessa mistura toda, minha mãe nasceu branquinha com olhos castanhos, cabelos volumosos - ainda que lisos na adolescência - e braços fortes, de polenteira. Não que ela fizesse muita polenta, mas comer ela comeu bastante. Como eu, que guardei todas as particularidades dela mesmo tendo sido a cara do meu pai quando pequena. Foi estranho me olhar no espelho um dia desses e descobrir que sou parecida com a minha mãe. Quando era pequena, sempre diziam que eu era a cara do pai e a Natalia a cara da mãe, com seus cachinhos loiros. Ela sempre foi mais magrela que eu, mas na adolescência desenvolveu braços de polenteira como as mulheres da fa