o dia em que recebi uma cartinha de um leitor
Escrevi esse dedo de prosa num instante de folga numa tarde corrida de trabalho no jornal, enquanto esperava as matérias chegarem dos repórteres e das agências. Nada demais, na verdade, mas depois de publicado, o texto recebeu um elogio especial de um leitor, que me mandou uma cartinha, escrita à mão, sublinhando suas frases favoritas. Me encantei!
Um refúgio
Quando eu penso em campo, penso em árvores. Muitas árvores. Imagino árvores frutíferas, deixando cair suas delícias no chão de terra. O que fica no chão alimenta os animais mais espertos. Já o que fica no tronco, se colhe e se come, fazendo escorrer o suco doce da boca. Imagino os fiapos de manga no meio dos dentes, morder uma laranja docinha e espremer o sumo de um limão refrescante. Sonho com um moranguinho adocicado e um mamão no ponto de fazer compota.
Quando eu penso em campo, lembro de terra. Vermelha. Produtiva. Lembro de feijão, de arroz, de milho, de soja, de trigo, de aveia. De flores das mais diversas cores. Vejo a máquina colocar a semente nos sulcos vazios, vejo o equipamento colher os frutos que o sol e a chuva ajudaram a crescer. Entendo o que é sobrevivência.
Quando eu penso em campo, recordo das botinas amarelas dos tios. As calças jeans sujas de poeira e as camisas de um xadrez desbotado com suas mangas compridas para amenizar as queimaduras do sol. E o boné sempre na cabeça. Subo na caçamba da caminhonete e parto pela estrada cheia de lombadas com os primos. Respiro férias.
Eu, que nasci na metrópole, nunca entendi muito bem como é esse negócio de curar queijo em casa. De assar bolachinhas feitas com a nata que sobrava do leite. Não derretia a manteiga fresquinha no pão caseiro quentinho todo dia. Em casa, tudo vinha embalado, com data de validade, direto do supermercado. Era abrir e comer. Algo que sempre me pareceu um tanto artificial.
Eu, que cresci em apartamento, nunca subi em árvore. Me lembro de andar de cabeça baixa na rua, com medo de ladrão. De descer do elevador e fechar a porta sem olhar no olho do vizinho. Sinônimo de uma pressa em fazer não sei o que.
Eu, que sempre sonhei com as férias, ouço as tias contarem do dia em que toquei meus pés branquinhos na terra vermelha do sítio pela primeira vez. Era pequenina, não tinha quintal em casa, e quando me deparei com aquela sujeira estranha, chorei de medo. Esse episódio ainda é piada na família.
Superado o choque que todo aquele espaço, aquele verde, aquele céu azul, aquela tremenda liberdade me proporcionou, decidi abraçá-la e, desde então, o campo tem sido meu refúgio.
É para ele que corro quando sinto saudades, quando preciso descarregar as energias ou quando, simplesmente, quero me aquietar. É contemplando o sol descer no meio da plantação, ouvindo o bem-te-vi cantar ao longe, que meu pensamento vira nuvem. Meu coração se acalma. E a vida, finalmente, faz todo o sentido do mundo.
Um refúgio
Quando eu penso em campo, penso em árvores. Muitas árvores. Imagino árvores frutíferas, deixando cair suas delícias no chão de terra. O que fica no chão alimenta os animais mais espertos. Já o que fica no tronco, se colhe e se come, fazendo escorrer o suco doce da boca. Imagino os fiapos de manga no meio dos dentes, morder uma laranja docinha e espremer o sumo de um limão refrescante. Sonho com um moranguinho adocicado e um mamão no ponto de fazer compota.
Quando eu penso em campo, lembro de terra. Vermelha. Produtiva. Lembro de feijão, de arroz, de milho, de soja, de trigo, de aveia. De flores das mais diversas cores. Vejo a máquina colocar a semente nos sulcos vazios, vejo o equipamento colher os frutos que o sol e a chuva ajudaram a crescer. Entendo o que é sobrevivência.
Quando eu penso em campo, recordo das botinas amarelas dos tios. As calças jeans sujas de poeira e as camisas de um xadrez desbotado com suas mangas compridas para amenizar as queimaduras do sol. E o boné sempre na cabeça. Subo na caçamba da caminhonete e parto pela estrada cheia de lombadas com os primos. Respiro férias.
Eu, que nasci na metrópole, nunca entendi muito bem como é esse negócio de curar queijo em casa. De assar bolachinhas feitas com a nata que sobrava do leite. Não derretia a manteiga fresquinha no pão caseiro quentinho todo dia. Em casa, tudo vinha embalado, com data de validade, direto do supermercado. Era abrir e comer. Algo que sempre me pareceu um tanto artificial.
Eu, que cresci em apartamento, nunca subi em árvore. Me lembro de andar de cabeça baixa na rua, com medo de ladrão. De descer do elevador e fechar a porta sem olhar no olho do vizinho. Sinônimo de uma pressa em fazer não sei o que.
Eu, que sempre sonhei com as férias, ouço as tias contarem do dia em que toquei meus pés branquinhos na terra vermelha do sítio pela primeira vez. Era pequenina, não tinha quintal em casa, e quando me deparei com aquela sujeira estranha, chorei de medo. Esse episódio ainda é piada na família.
Superado o choque que todo aquele espaço, aquele verde, aquele céu azul, aquela tremenda liberdade me proporcionou, decidi abraçá-la e, desde então, o campo tem sido meu refúgio.
É para ele que corro quando sinto saudades, quando preciso descarregar as energias ou quando, simplesmente, quero me aquietar. É contemplando o sol descer no meio da plantação, ouvindo o bem-te-vi cantar ao longe, que meu pensamento vira nuvem. Meu coração se acalma. E a vida, finalmente, faz todo o sentido do mundo.
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