quase morri atropelada

Ontem eu quase morri. A Carol segurou minha mão e me puxou para a vida, literalmente. Só aí eu acordei e entendi o que estava acontecendo. Nós duas quase fomos atropeladas. Uma colisão aconteceu bem na nossa frente e por um segundo não fomos atingidas por um dos carros. Depois que passou, pareceu que nem era tão grave assim. Mas agora, menos de um dia depois dessa experiência esquisita, não paro de pensar em como sobrevivemos.

Um carro cinza furou o pare e atingiu um carro preto que seguia a preferencial. Simples assim. Os carros estavam em baixa velocidade e ainda assim a batida fez os carros rodarem. Um deles veio em nossa direção e acabou subindo a calçada onde estávamos e só parou quando encontrou o muro. O outro carro girou e atingiu uma árvore na calçada à frente. Imediatamente, a motorista saiu do carro cinza e atravessou a rua para ver como a motorista do carro preto estava. Um homem que passava pelo local ajudava a moça a sair do carro. Ela torceu o joelho. As outras duas estavam bem. Enquanto isso, eu não conseguia soltar a mão da Carol.

Quando finalmente soltei, ela imediatamente fotografou o acidente porque se contasse ninguém iria acreditar. E o moço ligou para o Samu, mas a motorista do carro preto dispensou. E as moças do carro cinza que cruzou a preferencial estavam no celular tentando resolver tudo porque precisavam voltar ao trabalho. Isso aconteceu por volta das cinco da tarde.

Às três da tarde eu me arrumei e caminhei até a casa da Carol para trabalharmos juntas. Fui a pé porque estava me sentindo esquisita e precisa caminhar para desbaratinar. Às cinco, eu e a Carol deveríamos estar acompanhando a gravação de um podcast, que foi adiada em cima da hora. Então, decidimos ir tomar um café. A tarde estava agradável, então fomos a pé até a cafeteria que fica a duas quadras da casa da Carol. Estávamos quase lá quando, na esquina da cafeteria, assistimos ao acidente de trânsito.

“Nós quase morremos”, era tudo o que conseguíamos pensar até conseguir entender o que aconteceu. Bem vivas, assim como as motoristas e a passageira do carro e outras pessoas que passavam pelo local na mesma hora. Ninguém morreria ali, naquele momento. E a Carol fez questão de agradecer qualquer que tenha sido a força que nos salvou. E seguimos para a cafeteria, tomar nosso café.

A dona da cafeteria nos acalmou com uma água e sugeriu um chá, que eu aceitei. Depois do chá gelado de camomila e de um pedaço de torta de limão, voltei para casa a pé. Segurando na mão da Carol até chegar na esquina da casa dela e depois caminhando atenta as próximas cinco quadras até chegar na Savana. Pedi um abraço antes de me despedir da amiga que me disse para acender uma vela ao anjo da guarda.

Em casa, desabei no sofá e dormi. Não sei se foi o efeito calmante do chá ou a tensão, mas acordei uma hora depois com muita dor de estômago e precisei de dois remédios até conseguir aliviar a queimação. Vi um episódio da série boba para tentar acalmar a mente, mas não consegui concentrar e fui dormir na cama. Só acordei às seis da manhã, com o corpo dolorido. Como se carregasse um peso nas costas. Virei para o lado e dormi mais um pouco. Às 7h30 levantei para me preparar para a aula de flamenco e a rotina voltou ao normal.

Depois da aula, busquei uma encomenda na portaria e liguei para a minha mãe, para desejar boa viagem, já que ela vai passear com os tios e a prima, enquanto minha irmã e meu pai cuidam da vó. Contei para ela do acidente, quase chorando, porque, de repente, me lembrei da quase morte. E depois dela me pedir para ter cuidado, desliguei e fui testar a maquiagem que comprei pela internet: um lápis cor de rosa e uma máscara de cílios cereja, que supostamente dão vida aos olhos verdes.

Aproveitei e passei um batom para esconder a ferida que nasceu na boca depois de alguns dias com dor de barriga. O rosto avermelhado do calor e da aula de flamenco acentuaram as espinhas que decidiram vir à tona essa semana. E agora estou aqui colocando toda essa ansiedade para fora, tentando elaborar o que aconteceu ontem.

Eu estou inquieta há uns dias, imaginando mudanças que ainda não aconteceram, mas que fazem meu estômago gritar. Sorrindo sem entender muito bem o beijo no rosto que ganhei do moço bonito e a indiferença dos queridos que eu insisto em buscar.

A morte e o luto têm sido assuntos recorrentes na minha vida nos últimos tempos. E sigo tentando entender por quê. “É um lugar estranho quando finalmente sou validada positivamente”, eu confessei para a terapeuta durante a nossa última conversa com as câmeras desligadas. A vida me validou ontem, de novo. Além de agradecer, preciso escolher bem o que desejo fazer de agora em diante e seguir vivendo. Mas sempre atenta e com cuidado, como pediu minha mãe.

Comentários

  1. Aproveite o que é bom. Não dá para ir embora arrependida. Acho que Carol pensa assim; mulher de altíssimo astral. Viva a vida!

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  2. Que bom que vocês duas estão vivas!!! Esse anjo da guarda fez um ótimo trabalho. Ainda vão haver muitos chás e cafés juntas. Gracias!

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  3. grata pela sua vida!!!!

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  4. Uau que benção na vida de vocês duas ! Isso quer dizer que ambas ainda tem muita vida pela frente e muitas coisas para fazer ! Viva a vida e o Anjo da guarda de cada uma 🙏🙏

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