il pulcino pio
Quando participei da entrevista de emprego para uma vaga de repórter da Folha de Londrina, há dez anos, a chefe do RH da empresa me perguntou qual era meu sonho jornalístico. Respondi, sem pestanejar, que era cobrir uma Copa do Mundo. Ela riu da minha cara e disse que não era possível (outros três caras haviam respondido a mesma coisa antes de mim), que eu deveria escolher outra coisa. Não da para escolher outra coisa. Sonho é sonho e ponto. Quando pequena decidi que seria repórter de campo. Na época de prestar vestibular, escolhi jornalismo e lutei diariamente contra todos os meus medos e minhas limitações para, 12 anos depois, sentar aqui e escrever sobre essa experiência maravilhosa que tem sido fazer parte da mídia manipuladora. Descobri, primeiramente, que no dia a dia, somos mais manipulados que manipuladores, mas não é sobre isso que vou contar. Vou relatar meu mês como editora de esportes, as tabelas erradas, a ansiedade pela primeira partida internacional que veria e pela primeira Copa da qual faria parte. Foram dias árduos. O horário de fechamento me estrangulou e mesmo adorando cada assunto publicado nas edições diárias da Folha Esporte, meu corpo já não aguentava mais. Precisava de outro mês para me acostumar e não deixar todo dia a redação com a sensação de que faltou algo. Mas faz parte dos desafios. Perfeccionismo não combina com vida. E ponto. O apoio dos colegas - um deles estava naquele grupo da entrevista de emprego que respondeu que o sonho jornalístico era cobrir uma Copa do Mundo - me animou nos momentos mais difíceis e o mês terminou sem que eu tivesse terminado com ele. Demorou e voou ao mesmo tempo e hoje estou de volta à minha calma rotina de editora de suplementos. Posso chegar em casa mais cedo, mas agora preciso correr atrás para me informar sobre um dos meus assuntos favoritos - e que na adolescência preenchia a quietude dos meus dias - e, eventualmente, o esporte vai voltar para o lugar dele: o sonho. Para coroar a realização do tal sonho da Copa, eu e minha prima e companheira Helo partimos para o Rio de Janeiro rumo ao Maracanã que abrigaria México x Itália, na estreia dos times nas Confederações. Camisa nova comprada, all star no pé, mochila nas costas, vivemos nossa aventura carioca com o coração na boca e o estômago embrulhado. Quem disse que realizar sonhos é fácil? Quatro horas depois de descermos no Galeão, finalmente colocamos a mão no bendito ingresso. Não sem antes assinar um certificado de recebimento de ingresso impresso pela dona Fifa. Mais uma atrapalhada dos políticos em meio à boa vontade dos voluntários. Eles foram pacientes conosco, nós fomos pacientes com eles e assim será durante toda a Copa. Assim é o "jeitinho brasileiro" de fazer as coisas. Pois bem, nas quatro horas em que permanecemos de pé, vendo todo tipo de gente reclamar da organização do evento, a prima grávida sente as dores, vai para o hospital e ganha o nenê. Parecia brincadeira, mas o Pietro Angelo - quinto sobrinho da tia Helo, diga-se de passagem - nasceu e nós ainda não tínhamos certeza se sentaríamos no nosso lugarzinho no Maracanã. Como a esperança é última que morre, de ingressos na mão, partimos para conquistar o Rio. Só que o cansaço era tanto que dormimos durante o segundo tempo de Brasil x Japão. Tudo bem, o fim de semana seria azul. Se não poderíamos ir ao Cristo nem passear de bondinho, iriamos, ao menos, fazer programas bem cariocas: pizzaria Guanabara, Lapa, Confeitaria Colombo e Copacabana. E lá fomos nós, caminhar pelo calçadão mais famoso do Brasil, esperando (para não dizer mais uma vez sonhando) em encontrar a delegação azzurra passeando pela praia. Que nada. Depois de descansar os pés doloridos da fila e comermos um delicioso café da manhã com vista para o Pão de Açúcar, atravessamos a passarela rumo ao maior estádio do País e finalmente nos acomodamos nas poltronas 21 e 22 da fileira K do nível 5 do Maraca. Confesso que quase chorei em meio à multidão de fanáticos por futebol. Mas a emoção era tanta, que era quase inacreditável estar lá, acompanhando uma Copa ao vivo, ainda que não tenha trabalhado no jogo. A tal sensação de dever cumprido é indescritível. É leve, passageira e deixa um gostinho de quero mais. Aprendi que nada na vida tem graça sem esforço. Aquela fila, o preço do ingresso, o dinheiro do táxi, tudo enalteceu nosso sonho azul. E não preciso de outra tarde igual aquela para a vida fazer sentido. Bastou uma vez. Aquela primeira e especial. Com os erros e acertos. Com o pão de queijo na fila, o suco de laranja, a foto no Maraca, o hino italiano gritado errado, os mexicanos mascarados torcendo ao lado, a dor de barriga e a tremedeira, a caminhada de volta para o hotel, o encontro com o goleiro Pagliuca, sem ter certeza se ele era ele mesmo, o milk-shake do Bob's e as 13 horas de ônibus no retorno para casa. Na segunda-feira, tudo voltou ao que era antes. Sem dores nos pulsos, sem coceira, sem viagem. Mas com o coração cheio de vontade por novos sonhos. Afinal, são eles que impulsionam a vida, já dizia meu sábio pai.
que maravilhoso... um sonho realizado! o seu texto me fez pensar que tenho quase o mesmo anseio, o de assistir o Brasil num jogo de Copa do Mundo , se for a final , melhor ainda!
ResponderExcluirE você pode no ano que vem realizar o seu integralmente hein! Vamos lá quem sabe...cobrir a Copa do Mundo e eu ... quero estar lá para torcer poro você e pelo Brasil!