escalando a mangueira

Eu me lembro bem daquela mangueira no sítio do nonno. Ela ficava ao lado da casa, fazendo tanta sombra, que era impossível não querer colocar as espreguiçadeiras lá e simplesmente sentar e curtir a brisa. 
Me recordo de um dia especial em que eu, minha irmã e minhas primas - o quarteto fantástico - resolvemos fazer um piquenique sob as folhas da majestosa mangueira. Era época de Natal e tínhamos decidido sortear um amigo secreto entre nós quatro em cima da hora. Os presentes seriam comprados na única lojinha de quinquilharias que tinha na cidade. O piquenique iria coroar nossa brincadeira. 
Convencemos a tia a nos deixar ir para o sítio de bicicleta - sob o sol escaldante das duas horas da tarde no horário de verão - e ficarmos por lá, sozinhas, durante a tarde toda de férias, explorando o sítio. 
Ela, então, preparou o lanche com pão caseiro, encheu o garrafão de água gelada, separou copos, toalha, guardanapos e distribuiu tudo nas cestinhas das nossas bicicletas. E só nos deixou sair depois de amarrarmos nossos cabelos compridos e colocarmos nossos bonés. 
E lá fomos nós numa pedalada pela estrada de terra que liga a última rua asfaltada da cidade - onde a tia mora até hoje - ao sítio. Não sem nos refestelarmos com as curvas de nível que serviam de "montanha-russa" para as bikes. Nas mochilas, os presentes da respectiva amiga secreta. Já não me lembro quem tirei, mas sei que ganhei um par de brincos de bolinha prateados, um diário e uma caneta cor-de-rosa que guardo até hoje. 
O ápice da revelação do amigo oculto foi subir nos altos galhos da tal mangueira. Pois as primas pareciam macacas tamanha a habilidade em escalar a árvore. A irmã também não fez feio, mas quando chegou a minha vez, ah, o pânico. Não conseguia me equilibrar de jeito nenhum, com medo de cair de bumbum no chão. 
"Do chão não passa", gritavam elas lá do alto, mas minha falta de prática - sou nascida e criada em apartamento - me impedia de participar da brincadeira. 
Até que elas desceram dos galhos e resolveram empilhar um monte de tijolos que estavam perdidos pelo sítio para me ajudar a subir na árvore. Seria minha escada particular. 
Cansadas de tanto explorar, desmontamos acampamento, subimos nas bicicletas e rumamos de volta à cidade, com o pôr do sol como companhia. É claro que a primeira coisa que o trio fez ao chegar em casa foi contar para a família inteira que eu não tinha conseguido subir na mangueira sozinha. E, claro, todo mundo caiu na risada. (Dedo de Prosa/09-11-2013)

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