cuidando
Nos últimos três anos estive cuidando da alma e me esqueci do corpo. Esse amigo que suporta - quase sem reclamar - todas as aventuras da minha alma inquieta. Se estou feliz, quero comemorar, se estou triste, quero me recompensar e nesse círculo vicioso, ganhei quilos a mais que estou suando para perder. Nunca antes na minha história pressionei tanto a balança. E isso me assustou. Se com 15 quilos a menos já me imaginava uma solteirona abandonada, imagina agora. É como se não tivesse nenhuma chance. Só que como cuidei da alma nos últimos três anos, entendi, finalmente, que a minha solteirice nunca teve a ver com as gordurinhas e o braço de polenteira. E sim com as neuras de viver sempre confiando na minha imaginação e não em mim. Por isso, estar acima do peso - escolha minha, já que abandonei qualquer exercício e qualquer vontade de comer comida saudável nos últimos tempos - me ajudou a enxergar velhos medos e colocá-los à tona, de uma vez por todas. Um dia um rapaz reparou nos meus cabelos novos, outro me disse que minhas unhas vermelhas combinavam comigo e que eu estava sozinha porque queria. Até meu perfume foi notado num dia desses. E em todas essas ocasiões eu já estava mais fofinha e com as dobrinhas da barriga saliente incomodando o botão da calça jeans. Então, aquela Mariana que eu conhecia há uns dez anos e que pesava 15 quilos a menos e que eu odiava ver no espelho voltou ao meu pensamento. Se já naquela época - e desde que me conheço por gente - eu não gosto do que vejo no espelho, o problema não está no corpo, nem no espelho, está na alma. Essa velha companheira confusa e cheia de sonhos. Hoje, bem menos em forma e quase não cabendo nas roupas, gosto mais de mim, vê se pode. Isso, claro, não é desculpa para abandonar a tentativa de uma vida saudável. Pelo contrário, é uma inspiração para tentar voltar ao já conhecido manequim 40. Claro que nunca vestirei 38, 36. E nem quero, não serei magrela nunca. Só quero, aos 32 anos, me sentir bem. Sem dores no estômago por comer porcarias, sem ter na coca-cola a salvação de um dia estressante, sem apelar para a comida reconfortante. Sempre vou gostar de conhecer novos restaurantes e me esbaldar. Isso faz parte de mim e não quero me abandonar por completo. Mas posso guardar tais experiências para dias especiais. Durante a semana é tentar espantar a preguiça e ler o livro enquanto caminho na esteira. É correr na bicicleta sem sair do lugar e comer uma fruta entre uma refeição ou outra. Esquecer a coca-cola na geladeira e tomar um gole de água de coco. E dar um passo de cada vez. Porque a meta não é mais tentar ter o corpo perfeito - que nunca terei, diga-se de passagem - porque só assim aquele carinha olhará para mim. A meta é ser feliz com o que vejo no espelho e conquistar saúde. Como diria o Paulo Cintura: "Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa". ha
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