casinha do sítio

Quando eles chegaram ao Brasil, nos idos dos anos 1950, meus avós precisaram de muita coragem para desbravar as terras férteis do sudeste paulista. Primeiro veio o nonno. Preso de guerra, ele sobreviveu ao campo de concentração, esperou a paz chegar na Europa e decidiu vir ao Brasil em busca de oportunidade e mais qualidade de vida para os seis filhos, já que a velha bota estava falida. Na Itália, ele cultivava grãos, cuidava de umas vaquinhas, então não seria novidade nenhuma trabalhar no campo. Mas lá, os sítios eram menores e conquistar a América foi um sonho trabalhoso, que contou com a ajuda da mãe, da esposa, dos irmãos, filhos e sobrinhos. Ao lado do irmão mais novo, seu Igino desmatou a área onde construiria a casa que abrigaria a família toda, em um lote da Fazenda Pedrinhas. Eles eram em pouco mais de dez pessoas que viajaram de navio por cerca de 20 dias, rumo à vida nova. Aqui, os nonnos tiveram mais dois filhos. A bisnonna morreu pouco tempo após desembarcar em Santos, o irmão mais velho também. O sobrinho mais velho partiu para capital e o irmão mais novo abriu um restaurante com a esposa e foi viver na cidade. 
Nessa época, o nonno já cuidava dos filhos sozinho, já que a nonna Teresa resolveu ir embora cedo deste mundo. E foi naquele sítio de oito alqueires que ele viu a filharada crescer plantando trigo, colhendo algodão, dando de comer aos porcos e galinhas, jogando bola descalços na terra vermelha, indo à missa na carroça carregada pela égua Gabe. Foi também naquele sítio que a tia Paola veio morar depois de casar com o tio Mario e onde o nonno viu a primeira neta nascer. 
E depois que o nonno Igino se foi, a pequena propriedade foi dividida entre os herdeiros: quatro filhos homens tornaram-se agricultores e duas filhas mulheres eram esposas de agricultores. O sustento trabalhado na terra foi o legado do meu nonno. 
A velha casa que abrigou a família há 60 anos continua lá. Precisa de uns retoques, pois o tempo foi um inimigo implacável, mas a história daquelas paredes erguidas no meio da plantação me emociona até hoje. Consigo ver o nonno sentado na ponta da mesa, olhando a lavoura pela janela da cozinha, pensando em tudo o que construiu, enquanto pita um cigarro de palha, esperando a polenta ficar pronta. 

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