meus clássicos italianos

E dai que eu sou filha de um italiano. Meus nonnos eram italianos, meus tios são italianos e eu sempre senti um orgulho danado disso, sem explicação. Tenho uma nonna italiana do lado da mãe, que deixou de herança os olhos azuis da vó Therê e, por consequência, os meus olhos azuis. De italiana a Therê só tem os olhos, o resto é português como o vô Joaquim. E nessa mistura toda, minha mãe nasceu branquinha com olhos castanhos, cabelos volumosos - ainda que lisos na adolescência - e braços fortes, de polenteira. Não que ela fizesse muita polenta, mas comer ela comeu bastante. Como eu, que guardei todas as particularidades dela mesmo tendo sido a cara do meu pai quando pequena. Foi estranho me olhar no espelho um dia desses e descobrir que sou parecida com a minha mãe. Quando era pequena, sempre diziam que eu era a cara do pai e a Natalia a cara da mãe, com seus cachinhos loiros. Ela sempre foi mais magrela que eu, mas na adolescência desenvolveu braços de polenteira como as mulheres da familia, até ir para o Mato Grosso e perder tudo plantando árvores. Eu, pelo contrário, ganhei braços ainda maiores em frente ao computador e assim será. Essa sou eu e ponto. Mas o que queria mesmo dizer é que tudo em mim lembra a minha origem italiana. Não tenho nada do vô Milton a não ser a paixão pelas músicas antigas. A vontade de estalar o dedo ao ouvir Glen Miller. Vai ver que é porque aprendi a gostar dessas canções com ele, nas férias em Itanhaém. Mas também aprendi a gostar de músicas italianas dos anos 60 um tanto bregas hoje em dia. Para mim elas soam como a salvação para uma adolescente tímida com poucos amigos e que tinha em comum com a prima do interior essas músicas que os pais cantavam uma vez ao ano, nas festas de Natal. Ainda hoje adoro ouvir Rita Pavone. Suas músicas me ajudaram a aprender italiano e me acalmaram o coração muitas vezes quando estava deitada na cama, no quarto escuro, sentindo pena de mim mesma. Hoje elas me levam para lembranças fantásticas, que me fortalecem em dias de tristeza ou preguiça da vida. Hoje é um desses dias. Acordei meio com preguiça de enfrentar a rotina e resolvi recorrer aos velhos clássicos italianos. Bregas e acolhedores. E "Cuore", "Fortissimo" e "Come te non c'è nessuno", da Rita, continuam me salvando da idiotice que é sentir pena de mim mesma nessa altura da vida. Assim como "Ciao amore", do Luigi Tenco, "Casa di Irene", do Nico Fidenco, "In Ginocchio da Te", do Gianni Morandi, "Io che amo solo te", do Nico Fidenco, "Oh mio signore", do Edoardo Vianello", e tantos outros clássicos que a família Guerin perpetuou entre seus filhos.



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