dez anos
Eu tava aqui pensando, dez anos é muito tempo? É pouco tempo? É tempo suficiente? Não cheguei a nenhuma resposta. Só que esses dez anos parecem ter voado. Digo isso hoje, depois que eles passaram. Ou melhor, ainda estão passando. Faltam exatamente três meses e dez dias para completar uma década de Folha de Londrina. Uma década de Paraná. Uma década fora da casa dos meus pais. Uma década dividida com muitos. Uma década só minha. Desde que cheguei aqui me pergunto o que vim fazer por aqui. Por que aquele japonês baixinho me escolheu para trabalhar para ele lá na sucursal do Oeste paranaense, onde não tem nada de interessante e ainda assim muitas pautas acontecem. Por que fui uma das poucas repórteres que permaneceu depois daquela onda de demissões em 2004. Onda que levou o japonês baixinho. Por que fui parar no campo, voltei para cidade, fui para o universo paralelo e agora estou econômica e veloz. Por que tudo isso? Mereço tudo isso? Só consigo me perguntar qual o propósito de tudo isso? Têm sido dez anos de descobertas diárias. Uma luta contra a ansiedade, contra a insegurança, contra os medos idiotas que carrego desde a infância, contra a solidão. Uma luta para conquistar amigos, uma casa para chamar de minha, uma carreira sólida, independência financeira. Mas quem não luta? Outros já passaram por isso, alguns ainda estão passando. Eu continuo. Em dez anos, muito aconteceu e é como se nada tivesse acontecido. Continuo medrosa e cometendo os mesmos erros básicos. Guiada pela insegurança e ansiedade adolescentes. Outros erros consertei para poder dar conta do dia a dia. E sigo. Porque é o que sei fazer melhor. Seguir. Colocar as tarefas em prática antes de descansar. Dez anos é muito tempo. Da até para pensar em mudar. Mas também é pouco tempo se entender que tenho muito a aprender por aqui ainda. Construir uma vida leva uma vida. Nem tudo será perfeito sempre por isso os momentos perfeitos são tão inesquecivelmente bons. Foram descobertas solitárias que só eu sei o quanto fizeram a diferença. E ai que está: só eu preciso saber disso. Essa vida é minha, de mais ninguém. Essa escolha é minha. Essa Londrina é minha. Com os desconfortos de uma redação meia boca, com o cheiro de coco de pomba no bosque que amanhece todo dia na minha janela, com a sujeira que limpo diariamente dos sapatos, com a dificuldade em distinguir pautas, com a negligência de alguns amigos e o carinho incondicional de outros tantos companheiros dessa batalha chamada vida adulta. Eu cresci em dez anos. Vou continuar crescendo e só Ele sabe por quanto tempo estarei nessa cidade. Mas uma década me parece tempo suficiente para decidir qual caminho tomar. Seguir feliz com calma do interior. Ou voltar para a loucura da metrópole, onde a saída seria voltar a viver com os pais que já não são mais os mesmos até conseguir me manter sozinha. Acho que a resposta está na cara. Não da mais para voltar. Não faz mais sentido. Depois de tantas dores e tantas vontades. Acho que é isso ai. Dez anos depois, entendo que fiz a escolha certa para mim. Mesmo que toda escolha seja difícil de manter, eu tô conseguindo ser um pouquinho feliz todo dia e isso é muito mais do que eu podia querer. Uma escolha. Uma coragem. Um aprendizado. Uma década.
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