almoço de domingo

Tenho uma prima emprestada que gosta muito de cozinhar. Filha de pais italianos, agricultores, ela e as duas irmãs mais novas foram criadas no sítio. Com a mãe, aprenderam a desossar frango, preparar linguiça, fazer massa fresca e condimentar um molho bolonhesa como ninguém. Transformar berinjelas na verdadeira caponata siciliana também é uma das especialidades da família, conhecida ainda pela produção de ricota caseira. 

Como vivem no Mato Grosso do Sul, onde as propriedades são grandes e ficam muito longe da cidade, mercado só se faz de vez em quando. Então, as mulheres da família aproveitam para arregaçar as mangas e produzir a maioria das guloseimas em casa, com o que têm no quintal. 

Como adoro passar os finais de semana na cidade de nome diminutivo - onde não tem nem semáforo - com a parentada italiana, dia desses pude participar do ritual de preparação do almoço de domingo na casa da tia caçula, sogra - e vizinha - da prima emprestada que adora inventar no fogão. 

Pois neste domingo em que eu estava na casa da tia, a prima decidiu fazer talharim caseiro, usando o cilindro de macarrão que ganhou de um tio e a receita materna. Misturou ovos, azeite, sal, uma pitada de óregano, alguns mililitros de vinagre e de leite a um quilo de farinha de trigo e pôs-se a sovar. Depois de deixar a massa bem firme, atrelou o cilindro na mesinha do quintal e começou a rodar a manivela, sempre jogando farinha na massa, para não grudar. 

Curiosa, eu comecei assistindo e terminei ajudando a cortar os talharins, que acabaram dentro de uma imensa panela de água fervente. Senti a textura da massa, que de bem grossa, tornou-se fina mas firme o suficiente para virar fios de macarrão. 

"O ponto é quando a água começa a ferver. Dai já pode escorrer", ensinou a prima, que já tinha posicionado outra panelona cheia de molho bolonhesa apurado por horas ao lado da assadeira enorme para onde ia o talharim caseiro. 

E foi aquela gostosura dar uma garfada no macarrão fresquinho, cheio de parmesão fresco ralado por cima. Para completar o almoço familiar, o tio assou carne de porco. 

Tios, avós, filhos, a nora e eu sentamos no quintal da tia caçula para saborear uma receita que atravessou o oceano para chegar ao Brasil. E depois do pudim de nos lambuzarmos com o leite condensado, gostosura preparada especialmente pela vó - que não troca o sítio por uma casa na cidade por nada nesse mundo -, arrumamos a cozinha e fomos todos dormir o sono dos justos – e empanturrados. 

Dedo de Prosa - Folha de Londrina - 30/11/2013

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