o jornalismo

Ficar sem escrever um tempo me pareceu a coisa certa a fazer. Tirar férias do trabalho, dos amigos, de mim mesma. Das palavras. Viver um dia de cada vez, sem tantos planos, apenas algumas vontadezinhas a realizar. Ao lado da mãe, tão paciente. Um pânico tremendo tomou conta de mim na primeira noite na minha velha cama de solteira, no meu colchão com mais de 20 anos, já saturado, que machucou minhas costas até eu decidir trocá-lo por um mais novo, 15 dias depois. De repente eu queria ficar ali para sempre. Não queria mais voltar para o velho emprego. Que mantenho há uma década. No principal jornal da cidade de terra roxa. Eu simplesmente não queria mais ser jornalista. E virava do outro lado e chorava. Não contei nada para a mãe, para não preocupá-la. Decidi ir à academia todas as manhãs. Lá ficava com meus próprios pensamentos. Minhas músicas. Um livro chato, que abandonei nos primeiros capítulos. E a bicicleta e seus incontáveis quilômetros. Se eu queria comer tudo o que visse pela frente, teria que compensar de alguma forma. E não foi nenhum sacrifício, porque algumas tardes tive a companhia do animado pai. Em forma depois da cirurgia. Quando não estava com vontade de fazer nada, simplesmente deitava no sofá e via qualquer bobagem na tevê. Não queria nada profundo. Não queria pensar. Nem decidir. Queria apenas viver. Devagar. Fiz isso sem me preocupar em querer criar lembranças maravilhosas das minhas décimas férias remuneradas desde que comecei a trabalhar como jornalista há 12 anos. Puxa, essa foi a melhor parte. Mas aquele fantasma do trabalho me inquietava toda noite, antes de dormir. Era um dia a menos de descanso, um dia mais perto de voltar para a redação. Desabafei com as amigas, que me aconselharam a não fazer besteira, a ter paciência e planejar o futuro com calma. Mas estava impaciente. Chorava escondido. Até que contei tudo para a mãe. Ela ouviu, avaliou e aconselhou. Pediu a mesma paciência. Até rezar, rezei. Para a minha velha amiga Aparecida. E hoje, ao sentar em frente ao computador, pedi proteção a ela de novo para acalmar meu coração desesperado. Pode ser a força de Plutão, pode ser apenas eu sendo eu mesma. Eu trabalhei. Fiz o que sei fazer. Encontrei os mesmos problemas, tratei de consertar o que deu para consertar e tive uma conversa franca com a chefe. Abri meu coração despedaçado por essa difícil - e ao mesmo tempo apaixonante - profissão que escolhi. Entreguei meu destino em suas mãos e os de alguns que caminham comigo. Impossível não fazê-lo quando se deve gerenciar uma equipe. Ainda que pequenina como a minha. Não estou feliz com meus resultados. Não consigo motivar meus companheiros. Não consigo pensar numa saída. Não, não, não. Então vou fingir que estou de férias de novo, resolvendo os problemas conforme forem aparecendo. Vou tentar fazer melhor todos os dias, mesmo sabendo que algumas vezes isso não dará certo. Vou tentar pensar positivo, ainda que tenha vontade de fugir de lá. São dez anos de dedicação. Dez anos de aprendizado, de amigos conquistados, outros perdidos. De conversas fiadas e ginástica laboral. De intervalos e almoços que mais pareciam fugas fantásticas da rotina estafante. Até tentei procurar outros empregos: secretária, auxiliar administrativa, etc. Tudo me pareceu impossível pela falta de experiência. Escrever. Só isso que sei fazer. Reunir palavras e formar frases que trazem algum sentido à vida. Contar histórias. Inventá-las também. Continuará difícil nos próximos meses, não me engano. Mas sou paciente e tenho fé. Ainda não foi dessa vez que o jornalismo me abandonou. E nem eu a ele.

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