o choro

Então eu tive três rápidas semanas de férias apenas sete meses depois de tirar um longo mês de descanso merecido. Foi um ano e meio sem sair da redação, treinando estagiários, demitindo repórteres, me acostumando com o fracasso do projeto que nasceu morto, endoidando e pensando em jogar tudo fora. Depois daquelas férias no início do ano, de viagem com a mãe, de conhecer o canto longínquo da irmã, de comer polenta com os tios italianos, estava certa de que teria que mudar de vida senão enlouqueceria. A internet, definitivamente, não é para os fracos. E eu ainda sinto que fracassei com ela, mas a verdade é que ela vinha me abandonando desde o início da nossa relação. Talvez eu seja, sim, uma garota impressa. Sei lá. Só sei que há quatro meses preciso descobrir pautas de veículos e economia e tenho feito da melhor maneira que consigo. Hoje já sem tanto medo como quando ouvi da chefe que teria de editar o jornal impresso. Nunca minha falta de confiança em mim mesma gritou tanto e tive tanto medo de falhar que comecei a coçar de novo. Dessa vez, a cabeça. Pensei até que estava perdendo o cabelo, mas era estresse. A famosa malatia da contemporaneidade. Bendito estresse que nos aproxima do mal e nos afasta do que nos faz bem por puro prazer masoquista. Enfim, cá estou depois das segundas férias do ano, e meu cotovelo resolveu coçar de novo. Os cabelos vão bem, obrigada, mas sinto uma dorzinha de cabeça todo fim de tarde. E meu corpo grita para eu chegar em casa e colocar os pés para cima. Sei lá o que é isso, só sei que as coisas no serviço vão bem, os amigos estão bem (salvo algumas exceções as quais o meu conserto não alcança), a família vai indo, como sempre. Ainda assim, choro sempre que sento na poltrona marrom. São lágrimas contidas, diferentes de um tempo atrás quando eu estava com raiva do mundo e achava que o mundo me devia desculpas tardias. E então eu chorava, chorava e chorava. Essas lágrimas carregam um sentimento diferente. Não creio que seja um tipo de dor, mas elas insistem em cair. Como quando estou tomando banho e elas chegam de mansinho, com os pensamento bobos. Ou quando estou vendo uma comédia romântica ou simplesmente tentando levantar da cama. Eu só sei que já falei demais e reclamei demais e sinto que agora é o momento de esperar. Simplesmente apertar a pausa e ficar quieta, aguardando os acontecimentos. Aquela dorzinha de barriga que acomete vez ou outra e me faz querer conquistar o mundo começa a dar as caras, mas dessa vez, eu preciso ter cautela e abrandar a sede. Devo ter aprendido que ser impulsiva nem sempre é a melhor saída para mim. Nenhum dos meus atos impensados calculados milimetricamente pela minha mente diabólica deram certo. Devo espantar esses pensamentos repetitivos, essas dúvidas insistentes, e torcer para a dor de cabeça ir embora e não me acordar de madrugada, implorando um comprimido. Devo respirar fundo e seguir com um sorriso no rosto e boa vontade, gritando o lema: "É o que tem para hoje". Caso o contrário, corro o risco de dar mais uma volta na roda gigante. De novo. E eu morro de medo de balançar no ar.

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