uma terça tilt

Quando cheguei em Londrina, há nove anos atrás, conheci um pessoal que me apresentou um mundinho novo. Colorido, cheio de all stars de diferentes canos, barbas compridas, muito xadrez, calças justas, cabelos assimétricos e música que eu nunca havia escutado antes. Era meu mundo mágico, para o qual eu fugia terça sim, terça não. Onde conheci novas bandas, pessoas interessantes e onde comecei a beber cerveja em dias de semana. Quando eu falava da tal festa, o pessoal de casa tirava sarro. Mas ficava um vazio na semana se eu não fosse ouvir o Galão tocar. Para me ajudar a entender o que acontecia, o dj gravou dois cds com um resumo da cena musical alternativa da qual eu nunca tinha ouvido falar. E assim foi, os anos passando, novos amigos discotecando, dedicando músicas para mim até que um dia eu mesma me aventurei nas picapes. Foi sensacional. Foi um trabalhão escolher as músicas, até porque eu queria mesmo era agradar a minha turma e não o resto. Então teve de tudo e eu me senti a rainha da noite. De repente, os pioneiros da TT não estavam mais por ai e fiquei um tempão sem ir. Minha festa preferida tinha caído no meu esquecimento. De vez em quando eu prestigiava um amigo ou outro que seria o dj da vez, mas nunca mais foi a mesma coisa. Faltava aquela galera de 20 e poucos anos que lotou o velho Valentino naquele 17 de dezembro de 2003. Foi o dia em que perdi minha pulseira de ouro, depois de chegar super cedo no bar ir embora muito antes da verdadeira celebração musical começar. Ao lado da prima que, como eu, não tava entendendo nada. Tudo bem, naquele primeiro dia teve tanta novidade que eu precisei de um tempo para me acostumar. Depois de um revival do Galão no ano passado, que me transportou para aqueles 20 e poucos anos ao ouvir certos clássicos indies, resolvi ir curtir o som de mais uma amiga dj. Uma amiga que ainda tem 20 e poucos e que estava lá com a sua turma de 20 e poucos anos, sendo a rainha da noite da vez. Foi diferente. Teve momentos em que me senti meio velha, meio hetero demais, meio cansada depois de um dia inteiro na frente do computador. Ou talvez, tenha faltado mais cerveja num dia de trabalho. Apesar da atmosfera completamente modificada, até porque a festa tornou-se it, teve um momento ou outro em que me lembrei da boa e velha terça tilt e suas músicas esquisitas. Cantei as músicas e sacudi a cabeça, batendo os pezinhos, como os veteranos, e o mais importante, sem rebolar. Me deu saudade daquelas terças, de pedir uma música do Interpol e me esbaldar de dançar com a Vanessa ou gritar e pular como louca em This Fire ou qualquer uma do Strokes, com a Jana. Ou até me encantar com os fãs de Los Hermanos cantando em coro O Vencedor ou um bom e velho Smiths trazendo lembranças dos anos 80. O veterano criador da festa com o Galão, sr. Sato, continuava lá, firme, forte, fazendo a pista de dança "bombar", satisfeito por mais uma TT lotada. Eu fui embora cedo para os padrões da moçada. Mas não sem testar minha teoria, que se repetiu, como uma pequena tradição pessoal: foi só dizer que queria ir embora para a sequência de músicas me segurar no salão por pelo menos mais meia hora. E claro que sai de lá cantando alguma coisa boa que tocava. Balançando a cabeça, cantando baixinho na fila do caixa.

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