sobre contos e fadas
Pelo visto a gente realmente não muda. As neuroses nos acompanham, nós é que temos que saber lidar melhor com elas. Tenho ouvido isso há uns dois anos e a coisa toda parece não querer entrar na minha cabeça. Dai vem a irmã e diz que tudo o que tenho feito parece mesmo não ter modificado nada. E vem a prima-irmã e fala a mesma coisa e eu me pego suspirando ao ver mais uma comédia romântica na tv e eu mesma me pergunto se já não é hora de crescer de verdade. Deixar a reclamação para quando ela realmente é necessária e simplesmente encarar que as pessoas gostam de mim exatamente como sou e que realmente não preciso ser a melhor de todas. Preciso apenas ser. Se acho que meus olhos são verdes mas o mundo insiste em dizer que são azuis, por que não dar uma chance ao mundo e tentar enxergá-los com o tom azulado que, quando as pupilas não estão dilatadas, aparece no espelho. Tomar bronca por deixar de procurar um médico quando o cabelo está caindo há pelo menos um ano e o estômago queima depois de cada refeição deveria abrir meus olhos verde-azulados ou azul-esverdeados, certo?! Pois é só nisso que tenho pensado. Por que é tão difícil cuidar de mim e tão fácil cuidar do outro? O que será de tão errado que eu vejo em mim mesma que me faz estagnar? Preciso de movimento. E foi isso que fiz nas férias. Me movimentei. E vivi ótimas experiências. Então por que quando estou em casa, chega a tal preguiça? Essa palavrinha que é boa desculpa para tudo e não é desculpa para nada. Vivo me justificando aos outros, mas e eu? De verdade, não há justificativas. Não há mais desculpas. Há uma vontade de continuar, porque não há o que recomeçar. Não preciso apagar e reescrever com a letra mais bonita. Preciso, simplesmente, escrever. Aceitar que as tias me amam e preparam marmitas com as sobras do almoço de domingo. Que a irmã pensa em mim para madrinha do sobrinho que ainda nem nasceu. E a que a prima diz que a pequenina que cresce na barriga dela quer um presente da tia-emprestada. Preciso simplesmente aceitar que as pessoas gostam de mim, eu queira ou não. E que outras tantas não gostam, querendo eu ou não. Que quando me apaixonei por aqueles amigos, tinha algo de real ali, ainda que muito de fantasia. E que os momentos que guardei na lembrança foram únicos e reais e parte da minha história, do meu aprendizado. Não vale apagar para fingir que a letra não era na verdade um garrancho. Não vale justificar o que deu errado. Mas vale aproveitar as segundas chances. Vale matar a saudade daquele amigo que sabia o que você estava pensando antes de você dizer. Vale matar a saudade das conversas, das coisas em comum. Porque isso é raro e real e merece acontecer, ainda que carregado de uma certa dose de conto de fadas. Uma hora, as fadas simplesmente voam para longe e fica o conto, nosso conto pessoal, escrito para nós e por nós.
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