um grande garoto
Passa tanto tempo e aquela figura ainda mexe com ela. Vai saber por quê? Tem alguma coisa naquele garoto. Bom, ele não é mais um garoto. Cresceu. Continua crescendo. Ela acompanha de longe. Às vezes ela pensa que ele sabe, mas no fundo ela sabe que ele não sabe de nada. Ainda assim ela acompanha. Eles cresceram juntos. É engraçado de ver, ela pensa. Porque ela tinha medo dele e hoje ele é apenas mais um conhecido. Quer dizer, não é apenas mais um, mas como ele não sabe de nada, ela pode continuar observando de longe. Analisando os sorrisos, as frases, as músicas. E segue a vida. De vez em quando ela lembra daquele primeiro dia. Daquele olhar perdido naqueles olhos. Naquela figura que causava um certo medo. A deixava perdida. Totalmente perdida naquele rosto, naquele corpo. Ele conseguia se impor como se fosse o rei da cocada preta. Ah, como se destacava. Pelo menos para ela. E assim foi. Ele vivendo e ela acompanhando. Um dia os caminhos se cruzavam, ela ficava com medo, abaixava a cabeça e ele seguia belo e formoso. Os caminhos se afastavam, ela sentia uma saudadinha, mas conseguia esquecer. Mas era só encontrá-lo de novo para aquele medinho idiota cutucar o estômago. Vai entender. Hoje são mais adultos que naquele dia. Têm mais responsabilidades com a vida e com eles mesmos. Se mostram mais, ele com a mesma atitude, ela com menos medo e a relação segue. Seja lá qual for. Por que essa vontade de admirar, ainda que de longe? Por que essa necessidade de tentar adivinhar cada pensamento? Vai entender. É um mistério não solucionado para a medrosa e um fardo para o garoto, que de vez em quando é obrigado a lidar com as besteiras alheias. Aliás, ela não percebe que faz besteiras até ter feito. Pensando bem, quase todo mundo faz isso senão não haveria besteira no universo. Mas os acertos são mínimos numa vida toda e parecer bobo e admirar de longe não deveria ser um erro, mas uma tentativa. Ela tenta, bate com a cara no vidro, sorri amarelo e segue o caminho. Ele brinca de viver e também deve tropeçar durante a caminhada ,mas mantém aquele rosto, aquele corpo, aquele olhar sedutor. Vai entender! Ela queria entender, bem que queria, mas nem tudo que está na imaginação está também no destino.
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