sentir

Ela me disse para simplesmente escrever, que o que eu escolhesse dividir não fossem as palavras de uma adolescente num diário qualquer, mas sim os sentimentos que movem essa ainda-adolescente-querendo-ser-mulher a levantar da cama todas as manhãs. De sentimentos eu entendo pouco apesar de sentí-los. Entendo pouco porque mal sei nominá-los enquanto os sinto. É nessas horas que meu maior companheiro - e inimigo - dá as caras: o medo. Este sentimento que me acompanha até nos sonhos de vez em quando e me impede de dizer certas verdades e agir como deveria no momento certo. Tem a frustração, companheira inseparável do medo. Tem a insegurança, que é amigona da frustração. E tem a raiva, que surge por motivos bobos (ou nem tão bobos assim), quando o trio parada dura (medo+frustração+insegurança) decide colocar as manguinhas de fora. É claro que conheço sentimentos positivos, mas agora não consigo pensar sequer em um. Talvez saciedade, ha. Mas também não sei se é um sentimento tanto quanto uma simples sensação, ainda que, pensando bem, não me sinta, assim, tão saciada. Ou conseguiria olhar com desprezo para este prato de brigadeiro ao meu lado. Será que amizade é um sentimento? Pois é nela que tenho apoiado meu peso. Eu posso sentí-la, ainda que ela própria seja feita de atitutes e não de subjetividade. Ou ser amigo de alguém é algo que simplesmente se sente? Sentir é uma palavra tão doce. Tão reconfortante. Apesar de sofrer, às vezes à toa, eu ainda prefiro sentir essa tal tristeza do que simplesmente passar despercebida pela vida. Apesar de ultimamente ter me sentido meio despercebida, sei lá. São coleções de desacertos e expectativas que estão caindo por terra como um castelo de cartas de baralho. Verdades escancaradas a olhos que nunca quiseram encará-las. Não há uma única justificativa para tanto peso, apenas que a vida está ai para ser vivida e temos tempo de sobra para descobrir o que realmente nos pertence. O que nos move a sermos o que somos, a carregar os pesos que carregamos. E somos tão diferentes uns dos outros que por mais que nos esforcemos para imitar alguém, isso nunca acontecerá. Ainda bem, senão, que graça teria viver. Um colega comentou outro dia: "Conheci várias pessoas que me disseram ter encontrado o sentido da vida, a grande verdade por trás de tudo. Engraçado, nenhuma delas era igual". Pensei: "Perfeito". É isso. Então por que ainda insistimos em escancarar nossos feitos, em mostrar do que somos feitos? Saber e guardar para si deveria bastar, mas não basta. E não só para mim. Mas, de repente, ainda não encontrei o tal sentido da vida e, por isso, precise de tanta ajuda - ou exposição. Ainda que parte dessa ajuda mais atrapalhe do que qualquer outra coisa algumas vezes.

Comentários

  1. "Então por que ainda insistimos em escancarar nossos feitos, em mostrar do que somos feitos?"
    Ser humano ajuda a explicar? beijo, lindona, saudades.

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