banho de água fria
Estava eu comendo uma pizza com uma amiga nesta sexta-feira e de repente me vi revendo alguns conceitos perdidos em meio à rotina exaustiva. Foi mesmo assim, entre um pedaço de pizza e um gole de Coca, que nos vimos discutindo o futuro da nossa profissão e como a vida depende da paixão para fazer sentido. Sim, a vida, não só a profissão, não só os relacionamentos, não só a saúde, mas cada segundo precisa de um bocadinho de paixão para fazer o mínimo de sentido. Tá bom, parece exagero, mas tem um fundinho de verdade nisso tudo. Se cada vez que eu levasse uma bronca eu encarasse como um ato passional, talvez eu entendesse realmente o que deveria mudar e faria melhor para, justamente, não levar a tal bronca de novo. Talvez se eu defendesse meu ponto de vista com mais sentimento, ele seria acatado. Nem que fosse uma única vez e isso seria o máximo. Paixão é uma palavra simples, mas de um significado enorme para o ser humano. Nos move. Nos coloca à prova, nos faz cometer os atos mais insanos. E é sempre quando estamos apaixonados que nos divertimos mais. E não precisa ser por nós mesmos ou pelo outro. Pode ser por um livro, um filme, uma comida, um trabalho, uma simples atitude. Quando colocamos sentimento, tudo flui. Nem sempre dá certo mas a sensação final é muito mais realizadora. Você tem aquele que de dever cumprido que te faz encostar a cabeça no travesseiro e dormir como um bebezinho. Já senti isso e é verdadeiramente muito bom. Durante a conversa, discordei várias vezes da amiga porque simplesmente me apoiei nas minhas desculpas para deixar a vida mais palpável, mas quando parei para me ouvir falar, escutei argumentos fracos e precisei admitir que me falta a tal paixão. Não é de hoje que tenho sentido esse vazio. Pensava que era reflexo da solidão, do trabalho infindável, da saudade, enfim, sempre uma desculpa. Mas o vazio é meu e só eu posso preenchê-lo. E precisa ser com paixão. Me lembro bem quando decidi que seria jornalista. Estava apaixonada. Por um jogador de futebol marrento, mas apaixonada. E toda aquela vontade me deu coragem para escolher a profissão sem dúvidas. Escrever é o que eu quero fazer para o resto da vida. E desde que me entendo por gente eu escrevo. Nem tudo é bom, nem tudo é ruim, como tudo na vida. Mas meus textos mais interessantes vieram de momentos de paixão. De vontade. Há um ano e meio sem escrever uma matéria de verdade, me lembrei de algumas joias raras que serviram de combustível durante a minha caminhada. A vontade de me superar me fazia pensar em pautas diferentes para apresentar na reunião semanal. A vontade de criar um estilo próprio me fazia escrever de uma maneira particular, para que quem lesse, soubesse que aquele texto era meu sem ler meu nome nos créditos. Se alcancei isso já não sei. Sei que muitas vezes dei tudo e mais um pouco de mim para fazer o melhor. Em outras, apenas cumpri tabela, como todo mundo faz vez ou outra na vida. E hoje sinto que estou num desses momentos de cumprir tabela e talvez por isso me sinta tão incomodada e desmotivada. Me falta o tempero. Depois de levar uma bronca da amiga, que se juntou a outras broncas de outras amigas, sinto que preciso encarar meu rosto de frente no espelho e me perguntar o que eu realmente quero da vida. Abandonar velhos hábitos, velhos conselhos, e seguir minha intuição, que um dia já me guiou, pode ser uma ótima saída para agitar os dias e espantar a reclamação.
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