abre a porta e a janela, venha ver quem é que eu sô

Quem sou eu? Quem é você? O que estamos fazendo aqui, nesta vida que hora parece fazer sentido, hora lembra ficção científica. Quem sou eu neste emaranhado de pensamentos. Em meio a mentes que não param de calcular nem por um segundo. A noção de tempo parece ser diferente para cada um e ainda assim, vivemos o mesmo tempo. As mesmas horas compostas por minutos que duram 60 segundos e assim vai. Por que, então, aquela vida na cidade quente e de ruas largas parece ser mais pacata que a vida em terras vermelhas, quando a rotina em terras vermelhas parecia mais pacata que a loucura da metrópole? Por que a secura do cerrado encanta os olhos, ainda que cercada de capitalismo em forma de gado e soja? Lembranças da vocação familiar ou algo parecido, talvez.  Por que um banho no mar de águas quentes e calmas consegue afastar os pensamentos e tudo o que se vê pela frente são recifes de corais e não a conta do cartão de crédito ou a consulta no dentista? Não há ondas, não há conflitos, só a contemplação. A única preocupação é com o prato típico que se experimentará naquele dia e a hora em que o despertador irá te acordar para mais um passeio. Por que madrugar faz sentido quando se passeia? Aproveitar mais o dia já que o tempo é curto? Mas é o mesmo tempo. O mesmo. O mesmo telejornal passando na TV do quarto de hotel. Já na cidade quente e de ruas largas o tempo parece parar por alguns segundos. Parece que vivemos num universo paralelo. Único. No qual tudo é possível e todos os pensamento fazem sentido, ainda que não durem. Quem sou eu quando estou à frente de uma equipe e preciso tomar decisões? Certamente não sou a mesma que contemplou a vida por merecidos 30 dias. Por que merecemos apenas 30 dias para contemplar a vida? Aliás, por vida, quero dizer nós mesmos. Por que não me olho como olho o sol descendo no mar, por que não me questiono como questiono o que teria feito aquela árvore ir parar dentro da cachoeira, por que não me perdoo como quando a irmã pede carinho ou me amo como meus pais me amam? Por que é preciso ouvir de alguém aquilo que estala a mente quando menos esperamos? Ouvir em alto e bom som parece fazer com que tudo faça sentido. Ainda que o pensamento já saiba. Testar a realidade não é tarefa fácil. É possível se perder em si mesmo. Em sentimentos, em devaneios dignos daquela ficção científica. Cada olhar, cada sorriso, cada cara feia revela um pedaço nosso. E ainda que insistamos em nos mostrar sempre perfeitos, a máscara cai. Inesperadamente. Numa pergunta idiota que leva a colega às lágrimas. Numa escala que nunca se constrói. Numa manchete esquecida em meio a tantas notícias. Se o tempo é o mesmo, por que sinto que as horas voam e que não há minutos suficientes para realizações grandiosas? Quando apenas contemplava, o dia era feito de pequenos momentos mágicos, como a mesa de café da manhã preparada carinhosamente com frutas, café, pão, leite, iogurte, doces e fibras. Quem tem tempo para comer tudo isso? Ainda assim, aquela imagem inspirava o restante do dia, que pedia calma em cada ato, que se completava como deveria ser, sem pressa, aproveitando cada segundo, ainda que o macarrão grudasse na panela e o arroz cozinhasse demais. A gente comia do mesmo jeito e ria da imperfeição, digerindo tudo com um gole de suco natural. Por que quando deixamos a rotina, parece normal experimentar cada sabor de tapioca antes de encarar o sol escaldante das areias? Por que o dinheiro parece render e cada peça de artesanato parece única e absolutamente necessária? Cabe a cada um experimentar um momento de férias no corre-corre diário. Deveria ser nossa obrigação. Não como garantia de felicidade, porque os conflitos precisam existir para nos fazer seguir em frente, mas como um respiro. Uma brisa refrescante num dia escaldante. Uma água gelada num corpo quente. Um balanço na rede, acariciando o gato, enquanto os pensamentos passeiam para lá e para cá.



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