ele
Quando eu lembro de você, lembro do cara que preparava camarõezinhos de mexirica para as pequenas. Do cara que fazia massagens com gelol nas minhas pernas para aliviar as "dores do crescimento". Do cara que me ajudava a resolver equações às dez da noite, antes de ir dormir. Do cara que assistia Pantanal com a família, tomando café da noite. Do cara que fazia vitaminas para ver se as filhas comiam frutas. Do cara que colocava o boné, ajeitava as malas no carro e dirigia cinco horas seguidas para ver os irmãos. Do cara que fazia graça ao passar pela última lombada, na entrada da cidade: - Chegamos!, ele gritava.
Quando eu lembro de você, lembro do cara com quem assisti a final do campeonato paulista de 1993. Quando vi o Verdão ser campeão sobre o Timão pela primeira vez. Quando me apaixonei por futebol e decidi que seria repórter de campo para entrevistar o Edmundo. Lembro do cara que me levou no Palestra pela primeira vez e fez questão de pagar uma numerada coberta para eu ver o Edmundo de perto. Lembro do cara que acordou cedo num sábado de folga para me levar num treino do Porco e pegar autógrafos dos jogadores. Lembro do cara que sempre me consolou quando meu time era eliminado na Libertadores. Lembro também do cara que ia me buscar nos treinos de vôlei e sempre dizia: Filha, por que você não vai na bola? Por que tanto medo? Eu realmente era péssima e logo desisti dos esportes. Torcer sempre foi mais divertido e seguro.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que sempre me deu tudo e muito mais. Que sempre se matou de trabalhar para não deixar faltar nada. Do cara que me levava na fábrica aos sábados de manhã para vê-lo trabalhar. Que me deixava brincar com as canetas marca-texto fosforescentes. Lembro dos funcionários tecendo elogios ao chefe rigoroso mas que jogava truco com a galera na hora do almoço. Eu lembro de papelão.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que ficou uma semana sem falar comigo porque eu decidi comprar briga com a minha mãe, que não me emprestava o carro. Lembro que depois de dias levantando às cinco da manhã e caminhando sozinha, no escuro, até a marginal para tomar o ônibus para a faculdade, esse cara entrou no meu quarto com lágrimas nos olhos dizendo que me daria um carro. Mas também lembro do cara que fez questão de pagar mais 20 aulas para que eu aprendesse a dirigir porque ele não tinha paciência comigo. - Como você é burra!, ele dizia, num único dia que me tentou me ensinar a pilotar.
Quando eu lembro de você, lembro daquela tarde no aeroporto, quando você carregou a minha mala e me embarcou rumo ao desconhecido. Como sempre, me deu tudo o que quis, até meu maior sonho, e disso nunca esquecerei. Foi a partir dali que me tornei um indivíduo. Que aprendi a me virar sozinha e a conhecer as minhas capacidades. Tá certo, eu não precisava ter ido tão longe e voltei mais rápido do que imaginávamos, mas aquele momento foi um divisor de águas. Se não fosse por aquela deliciosa viagem, não estaria onde estou hoje. Obrigada, cara.
Quando eu lembro de você, lembro da sua cara quando te surpreendemos com a festa das bodas de prata. Foi uma emoção única ver a felicidade estampada nos rostos de pais tão queridos. Lembro também dos porres de whiski e lavações de roupa suja nos sábados à noite. Das pizzas napolitanas, dos buracos com os sobrinhos, do Vico, das ritas no Outback. Lembro do cara que só ia para Itanhaém para cortar o mato. Lembro até da noite em que o cara viajou para nos buscar porque não aguentávamos mais a temporada de chuva na praia. Lembro das idas a Embu das Artes aos domingos, lembro da visita ao zoológico. Lembro da sopa no pão e do rodízio de foundue em Campos.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que ia me buscar na rodoviária, no aeroporto ou onde quer que eu estivesse. Do cara que ia na padaria só para comprar carolinas e sorvete quando eu pedia. Do cara que fazia um gesto com o dedo para que pegasse café para ele depois da janta.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que quase chorou na apresentação de mestrado da caçula e para disfarçar, começou a tirar foto de tudo e todos. Lembro do cara que se aposentou e decidiu dar novo rumo à vida, começando de novo as 60. Eu lembro do cara que segurou a mão da minha mãe quando meu avô morreu. Que sempre esteve perto, disponível, ainda que o trabalho tenha consumido grande parte de suas horas diárias. Lembro do cara enxugando o chão do salão de festas no aguaceiro dos meus 30 anos.
Eu lembro de você quando me olho no espelho, quando percebo minha mania de perfeição em tudo o que faço, quando assino teu sobrenome, quando vejo um jogo do Verdão, uma reportagem sobre o Senna ou uma caixa de papelão ondulado. Eu vejo você nos meus tios, em Pedrinhas. Eu lembro de você quando quero dividir minhas alegrias e as tristezas. Lembro da sua pergunta eterna: - Você tá bem filha, precisa de alguma coisa?
Eu sempre te respondo, tá tudo bem pai, se eu precisar te peço, não se preocupa. Sei que a sua mão estará sempre estendida e acho que é por isso que cometo tantos erros. Você me mimou. Mas sei que foi um mimo bom. Você e a queridona criaram duas meninas fortes, capazes de enfrentar a vida com graça, mesmo que ela seja dura às vezes. Somos pessoas boas de coração, puras. Foi assim que vocês sempre viveram. Construindo uma família com calma, um pouco de cada vez para não faltar nunca. Sei de todos os seus conselhos, tento seguí-los e ainda vou errar muito, mas sou orgulhosa desse cara que hoje faz 60, mas que tem um coração de criança. Um moleque que decidiu aproveitar o bom que a vida dá sem pensar muito. Um cara que já sofreu pacas mas nunca se fechou nas caixas que ajudou a construir. Que ao invés disso, decidiu deixar as tristezas no passado e seguir em frente. Meu pai.
Quando eu lembro de você, lembro do cara com quem assisti a final do campeonato paulista de 1993. Quando vi o Verdão ser campeão sobre o Timão pela primeira vez. Quando me apaixonei por futebol e decidi que seria repórter de campo para entrevistar o Edmundo. Lembro do cara que me levou no Palestra pela primeira vez e fez questão de pagar uma numerada coberta para eu ver o Edmundo de perto. Lembro do cara que acordou cedo num sábado de folga para me levar num treino do Porco e pegar autógrafos dos jogadores. Lembro do cara que sempre me consolou quando meu time era eliminado na Libertadores. Lembro também do cara que ia me buscar nos treinos de vôlei e sempre dizia: Filha, por que você não vai na bola? Por que tanto medo? Eu realmente era péssima e logo desisti dos esportes. Torcer sempre foi mais divertido e seguro.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que sempre me deu tudo e muito mais. Que sempre se matou de trabalhar para não deixar faltar nada. Do cara que me levava na fábrica aos sábados de manhã para vê-lo trabalhar. Que me deixava brincar com as canetas marca-texto fosforescentes. Lembro dos funcionários tecendo elogios ao chefe rigoroso mas que jogava truco com a galera na hora do almoço. Eu lembro de papelão.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que ficou uma semana sem falar comigo porque eu decidi comprar briga com a minha mãe, que não me emprestava o carro. Lembro que depois de dias levantando às cinco da manhã e caminhando sozinha, no escuro, até a marginal para tomar o ônibus para a faculdade, esse cara entrou no meu quarto com lágrimas nos olhos dizendo que me daria um carro. Mas também lembro do cara que fez questão de pagar mais 20 aulas para que eu aprendesse a dirigir porque ele não tinha paciência comigo. - Como você é burra!, ele dizia, num único dia que me tentou me ensinar a pilotar.
Quando eu lembro de você, lembro daquela tarde no aeroporto, quando você carregou a minha mala e me embarcou rumo ao desconhecido. Como sempre, me deu tudo o que quis, até meu maior sonho, e disso nunca esquecerei. Foi a partir dali que me tornei um indivíduo. Que aprendi a me virar sozinha e a conhecer as minhas capacidades. Tá certo, eu não precisava ter ido tão longe e voltei mais rápido do que imaginávamos, mas aquele momento foi um divisor de águas. Se não fosse por aquela deliciosa viagem, não estaria onde estou hoje. Obrigada, cara.
Quando eu lembro de você, lembro da sua cara quando te surpreendemos com a festa das bodas de prata. Foi uma emoção única ver a felicidade estampada nos rostos de pais tão queridos. Lembro também dos porres de whiski e lavações de roupa suja nos sábados à noite. Das pizzas napolitanas, dos buracos com os sobrinhos, do Vico, das ritas no Outback. Lembro do cara que só ia para Itanhaém para cortar o mato. Lembro até da noite em que o cara viajou para nos buscar porque não aguentávamos mais a temporada de chuva na praia. Lembro das idas a Embu das Artes aos domingos, lembro da visita ao zoológico. Lembro da sopa no pão e do rodízio de foundue em Campos.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que ia me buscar na rodoviária, no aeroporto ou onde quer que eu estivesse. Do cara que ia na padaria só para comprar carolinas e sorvete quando eu pedia. Do cara que fazia um gesto com o dedo para que pegasse café para ele depois da janta.
Quando eu lembro de você, lembro do cara que quase chorou na apresentação de mestrado da caçula e para disfarçar, começou a tirar foto de tudo e todos. Lembro do cara que se aposentou e decidiu dar novo rumo à vida, começando de novo as 60. Eu lembro do cara que segurou a mão da minha mãe quando meu avô morreu. Que sempre esteve perto, disponível, ainda que o trabalho tenha consumido grande parte de suas horas diárias. Lembro do cara enxugando o chão do salão de festas no aguaceiro dos meus 30 anos.
Eu lembro de você quando me olho no espelho, quando percebo minha mania de perfeição em tudo o que faço, quando assino teu sobrenome, quando vejo um jogo do Verdão, uma reportagem sobre o Senna ou uma caixa de papelão ondulado. Eu vejo você nos meus tios, em Pedrinhas. Eu lembro de você quando quero dividir minhas alegrias e as tristezas. Lembro da sua pergunta eterna: - Você tá bem filha, precisa de alguma coisa?
Eu sempre te respondo, tá tudo bem pai, se eu precisar te peço, não se preocupa. Sei que a sua mão estará sempre estendida e acho que é por isso que cometo tantos erros. Você me mimou. Mas sei que foi um mimo bom. Você e a queridona criaram duas meninas fortes, capazes de enfrentar a vida com graça, mesmo que ela seja dura às vezes. Somos pessoas boas de coração, puras. Foi assim que vocês sempre viveram. Construindo uma família com calma, um pouco de cada vez para não faltar nunca. Sei de todos os seus conselhos, tento seguí-los e ainda vou errar muito, mas sou orgulhosa desse cara que hoje faz 60, mas que tem um coração de criança. Um moleque que decidiu aproveitar o bom que a vida dá sem pensar muito. Um cara que já sofreu pacas mas nunca se fechou nas caixas que ajudou a construir. Que ao invés disso, decidiu deixar as tristezas no passado e seguir em frente. Meu pai.
Tá bom que tá um pouco tarde pra eu comentar esse texto né, mas é que só achei o endereço do seu blog agora..rsrsr...realmente esse post é de nos fazer emocionar, já imaginei a Susane lendo e chorando..adorei Mari, muito lindo o que vc escreveu..e concordo plenamente com o que vc disse sobre o cara de 60 que tem um coração de criança, na vdd nem tenho mto o que dizer, só de ver as coisas já dá pra perceber o quanto o seu pai é especial não só pra vcs, mas como também pra toda a família..meu pai quem o diga né..ehehehe
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