o dia em que a Dani viu o Palmeiras jogar
Um carro com quatro palmeirenses fanáticos partiu no Norte do Paraná com destino a São Paulo numa sexta-feira quente de primavera para ver o Verdão jogar. Da turma, apenas a mais velha já tinha vivido a experiência adolescente de torcer como louca para um time que preenche o coração com pequenas alegrias esporádicas. Os outros três viveriam um jogo de futebol no estádio pela primeira vez e eram só ansiedade. Falamos o caminho inteiro. Cantamos, contamos piada, tomamos sorvete, comemos coxinha e bebemos coca-cola. Brincamos com os nomes das cidades enquanto enfrentávamos o trânsito da marginal, que nos deixou presos por mais de uma hora até chegarmos em casa. No meio do caminho, encontramos um trio palmeirense que nos acompanhou na empreitada, com tanta ansiedade e sorriso no rosto quanto nós. Dormimos para aguentar o sábado, que foi interminável. Eu e a Helô dividimos um colchão de ar que mais parecia uma cama elástica e rimos feito palhaças até pegar no sono. O sábado começou com uma ida ao museu do futebol. E a Dani, depois de acordar cedo para estudar (condição imposta pela mãe dela para a viagem), pechinchou um chapeuzinho do Parmera e três chaveiros para levar de presente para os irmãos que não puderam ir. Almoçamos no shopping que vai explodir, gastamos R$ 80 em jogos eletrônicos e carrinhos de bate-bate e atravessamos a ponte rumo ao estádio da Lusa, que cederia seu campo para o Verdão, sem casa, jogar. Esperamos mais um primo palmeirense chegar e foto daqui, grito de lá, a partida começou. Sem Marcos, sem Kleber, mas com Marcos Assunção e Valdívia. O jogo, em si, foi morno, deixando os pequenos palmeirenses bem nervosos com a má fase do time. No gol, bem na nossa frente, pulamos todos feito bobos e cantamos o hino com gosto. A mãe da Dani ligou para ela, dizendo que tinha visto a cabeleira dela na tv. A Su também ligou cobrando o aviso do gol, mas a Helô estava mais preocupada em comemorar na arquibancada. Minutos depois veio o balde de água fria do empate e assim foi até o apito final. Mas gritamos o tempo todo, apesar de o time não corresponder. Deixamos a culpa do empate para a corintiana que nos acompanhou na empreitada e gorou nosso time. Brincadeiras à parte, voltamos para os carros, estacionados na garagem de uma senhora que cobrou R$ 50 para alugar o espaço. Afinal os vizinhos aproveitam para lucrar, independente do jogo que rola no Canindé. A caminho dos carros, caminhamos pela marginal sob uma chuvinha chata, que serviu só para molhar nossas camisetas verdes e deixar o carro com cheirinho de cachorro molhado. Ou melhor, porco molhado! Pizza na casa da Anna, crianças capotadas de sono e show do Rock in Rio finalizariam um dia emocionante em família. No domingo, macarrão da mamma corintiana, torcida pelo Vasco contra o Timão, que também ficou no empate, e milanistas quietinhos quando a juventina gritou dois gols. Um trio foi embora no fim da tarde porque o pequeno tinha escolinha de futebol na segunda de manhã. Já o quarteto virou quinteto e viajou o dia todo de volta para a rotina. Meio sem graça sem aquela novidade de ver o Verdão jogar pela primeira vez. Depois de uma parada no Kafé e uma volta por Assis, deixamos a Dani em casa, rumamos para Pedrinhas para almoçar na casa da nonna do Renan e seguimos para o Paraná: Lô tinha faculdade e eu ainda precisava trabalhar. Nem o empate tirou a simpatia da Dani, a ansiedade da Helô, a quietude do Renan e a marra do Gian Lucca. Nem a mandinga corintiana da minha mãe tirou a graça do dia em que a Dani viu o Palmeiras jogar pela primeira vez. Com seu jeito moleque de chamar todos os jogadores pelo nome, pedir garra e xingar o juiz. Saber todas as regras, a tabela do campeonato e citar os melhores momentos da história do clube. Me lembrei de quando tinha 13 anos e vi o Palmeiras ganhar pela primeira vez. Me lembrei daquela emoção estranha que é torcer e descobrir que gostava de futebol, apesar de ser menina. Me lembrei do Edmundo e da vontade de ser repórter só para entrevistá-lo. Me lembrei do quanto é bom se dedicar a algo mesmo que seja importante só para você. Me vi na doce Dani e entendi que mesmo passageiras, as paixões são importantes na vida e fazem a gente ser quem é. Cada um com a sua. E nós, com o nosso Palestra, no ardor da partida, transformando lealdade em padrão.
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