bala de coco
Eu tenho muitas tias, entre as italianas, a madrinha e as tias de coração, e cada uma delas me ensinou - e ensina - algo diferente todo dia. Esta tia em especial é a mais mansa de todas. Mansa no bom sentido porque a voz doce sussurando no meu ouvido sempre trouxe bons conselhos e histórias divertidas. E a paciência - que ela tem de sobra e eu tenho de menos - para ouvir minhas lamúrias. Nós convivemos pouco quando eu era criança. Eu crescia na metrópole, ela criava sua filha única no interior. Mas lembro sempre do carinho. Do beijo leve na bochecha seguido do abraço e dos doces. Bombons, bolos, pirulitos de chocolate, bala de coco. Me lembro de férias inesquecíveis que passei na casa dela num verão. Eu, minha irmã e as primas aprontando todas no quintal de terra batida que tinha uma árvore linda e a piscininha de plástico da prima morena que queria ser loura. Foi uma semana de brincadeiras mil, de passeios de bicicleta pela pacata Cândido Mota, de gengiskan, geladinho e bolo floresta negra. Lembro bem que a dona Teresa, mãe da tia Thelma, inspecionava nossas orelhas após o banho para ver se tínhamos lavado direito. Se não, ela passava o cotonete para limpar a cera do ouvido. Formávamos uma fila e ela olhava uma por uma, com cuidado de vó. Depois éramos liberadas para sentar à mesa e jantar o arroz com macarrãozinho preparado pela tia que é filha negro com japonesa e casada com italiano. Que tem tantos irmãos e sobrinhos que já perdi a conta. Imagina a diversidade de pratos que não tinha naquela mesa enorme. A mesma mesa que ela tem hoje na cozinha de sua casa em Cambé. Naquelas férias aprendemos a fazer bombom e a costurar roupinhas de boneca com os tios costureiros. Não me lembro da época em que éramos vizinhas quando eu tinha 4 anos e meu pai decidiu abrir um negócio com o tio em Assis. Mas minha mãe me diz que era um tal de cozinhar delícias dia sim dia não. Essa é a tia Thelma, sempre com uma gostosura para agradar a família. Mas ela não é só uma costureira e uma cozinheira de mão cheia. É esposa e mãe dedicada, que se sacrificou - e se sacrifica - bastante durante a vida para ver a família feliz. Quando a necessidade apertou, viveu separada do marido e criou a filha sozinha, com a ajuda da mãe. E o sorriso sempre no rosto. Nunca a vi reclamar. Pelo contrário, acho que ela nasceu com o dom de transformar tristeza em aprendizado e a vestir o sorriso para contornar os problemas. Não, ela não é perfeita. Ninguém é. Ela é paciente - talvez esse seja seu segredo - e essa é uma virtude imprescindível nos dias de hoje. Nós nos vemos menos do que gostaríamos apesar de morarmos muito perto hoje em dia. É porque o dia a dia nem sempre ajuda. Mas cabe à sobrinha visitar mais a tia, eu sei. Longe da filha, que foi fazer a vida no estrangeiro, a tia e o tio acompanham de longe o crescimento dos dois netos pequenos. Nem toda a tecnologia do mundo é capaz de reproduzir aquele abraço e beijo leves da tia, mas ela compensa enviando gostosuras para os netos pelo correio. Ah, o bom e velho correio que é capaz de aplacar a saudade vez ou outra. E a rotina segue, eles lá, os tios cá e a gente se encontrando ao redor da mesa, aos domingos, para bater papo tomando cerveja. Essa tia tão querida merece toda a felicidade que a vida lhe proporcionar hoje e em todos os dias, ainda que os momentos felizes sejam muito poucos quanto gostaríamos, nós sabemos. Para ela, um abraço leve, um beijo doce e um aniversário simples, mas alegre, como ela. Com direito a amigos - porque na casa dela os amigos são sempre bem-vindos - e bolo de chocolate, porque chocolate é vida e ela merece muito mais anos de uma vida pura e doce! Certo, tia.
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