mi buenos aires querida

Me senti como numa cena de um filme. Era como se a qualquer momento alguém interviria na minha solidão, me sacando para fora dela e me apresentando a vida. Mas não. Foi apenas um passeio por Puerto Madero. Eu olhando para cima a cada arranhacéu que cruzava meu caminho em busca de uma medianeira. De uma falha na estrutura que me levasse a esse mundo mágico que vive em mim e do qual sou refém. Caminhando por Buenos Aires - e hoje os ares eram gelados e o vento machucava os olhos - me senti como estivesse em qualquer outra cidade do mundo, vivendo a rotina. Mas não estava na minha velha rotina e sim numa escapada que se mostrou difícil, porque este público simplesmente não liga para mim e não adianta sorrir e dizer que sou de Londrina etc e tal porque é cada um por si e a montadora por todos. Mas enfim, tive que caminhar sozinha por las calles e por medo de me perder, perdi a chance de explorar mais. Uma perda calculada já que me esperava no quarto 421 do Hilton um banho de banheira. Porque ser solteira num hotel cinco estrelas significa banho de banheira. Me vi na tal calle Florida e ela me pareceu superficial. Tanta gente correndo, tanta gente gritando "siñora, cambio, dolar", que perdeu a graça. Queria mesmo ter achado a tal estátua da Mafalda e feito um selfie ao seu lado. Um pouco de conteúdo, sabe. Mas as pernas não aguentaram mais uma caminhada sem rumo. A imagem da banheira com água quentinha não saia da minha cabeça, pois o vento praticamente me carregou até o hotel, tamanha força. Ah, Buenos Aires. Um dia eu volto como se deve. Sem precisar testar carros por suas largas avenidas e voltar correndo à sala de imprensa para escrever minhas impressões. Ah, eu volto para sentar numa cafeteria em frente ao iate clube e simplesmente contemplar as construções de ares antigos que tanto me lembraram Firenze. Que saudade da minha aventura italiana. Mas naquela aventura também faltou companhia e sobrou solidão. Coisas da vida. Circunstâncias, quem sabe. Só espero que não seja sempre assim. No meio do dia uma surpresa boa que me deixou animada: uma aula de parrillada gourmet no meio do evento da montadora. E eu absoverndo tudo, olhando nos olhos do chef-professor, fazendo perguntas e experimentando tudo. Vontade de correr na cozinha para ver a quantas anda o trabalho dos cozinheiros. Reconhecer a salada caprese e o peixe assado somente no sal como eu mesma aprendi a preparar nas aulas de gastronomia. Me lembrei porque decidi voltar a estudar e fiquei com vontade de vestir o dolmã e o avental e empunhar minha faca de chef. Engraçado. Depois de dois longos dias ainda tenho um tango pela frente (mais um) e um jantar em que provavelmente conversarei comigo mesma, em pensamento. Fazer o que. Mañana me voy. Ficarei com meus pais no fim de semana para aproveitar um colinho e aplacar a saudade. E segunda começa tudo de novo. Com os "buenos aires"da minha doce Londrina. A terra vermelha que me acolheu e acolhe e que me deu e me dá oportunidades. "Clap along if you feel like that's what you wanna do", já dizia Pharrell. 

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