moranguinho suculento
Juliana queria surpreender o marido Wilson em seu primeiro aniversário de casamento. Ela era uma moça simples, que sempre morou no sítio com os pais e os dois irmãos, um vereador e o outro policial na cidadezinha de interior.
Todo mundo que conhecia Juliana sabia o quanto ela apreciava as coisas muito bem-feitas. Fosse o arroz e feijão de todo dia, a roupa lavada e passada com esmero, o vestido e o sapato da moda, a maquiagem e o cabelo impecáveis antes de sair de casa. Simples era sua vida, não sua personalidade.
Pois enquanto Juliana se preocupava com os afazeres da casa, Wilson, agricultor que sempre trabalhou com o pai e o irmão na terra que um dia foi do nonno italiano, saiu cedo de casa naquele dia. Vestiu a roupa do sítio, calçou a botina, colocou o boné na cabeça, deu um beijo na esposa - que ainda dormia - tomou sua cumbuquinha de café com leite e pão, subiu na caminhonete e partiu. Era o primeiro dia da colheita do milho e ele nem imaginava que um jantar especial o esperava naquela noite.
Ao acordar toda feliz, Juliana decidiu que cozinharia todos os pratos preferidos do marido. Ele merecia, afinal, o trabalho na roça é bastante duro e Wilson chegaria cansado e doido por uma comidinha caseira e reconfortante.
Depois de fazer a faxina diária e se arrumar, Juliana partiu para o mercado obstinada em conseguir só os melhores ingredientes. O tomate teria que estar no ponto para o molho, a massa seria fresca, a carne, macia, e o vinho seria o mesmo que eles tomaram na noite em que o Wilson a pediu em casamento.
Mas especial mesmo seria a sobremesa: torta de morango, o doce preferido do esposo. E para que a torta ficasse arrasadoramente deliciosa, o morango deveria ser docemente vermelho.
Difícil encontrar um moranguinho suculento como os de antigamente. No único supermercado da cidade nem morango tinha naquele dia. Na quitanda, estavam todos verdes e na horta municipal, as mudas haviam sido plantadas um dia antes e estavam pequeninas na terra.
Juliana lembrou-se, então, do "morangueiro" que vivia na cidade vizinha. Lembrou-se que ele costumava deixar o cliente visitar a plantação e colher o próprio morango. Ela fazia isso sempre com a mãe, quando era pequena, e torceu para que ele ainda estivesse lá. Ela partiu para a casa da sogra, emprestou o carro e dirigiu rumo ao sítio do "morangueiro". Lá chegando, abriu um sorriso daqueles. A plantação estava cheia, no ponto de colher. Juliana não hesitou, recolheu quantos quilos cabiam na cesta, agradeceu o velho conhecido e voltou para casa, feliz.
À noitinha, já na cama, Juliana abraçou Wilson, fechou os olhos areados de vinho e sonhou, enquanto o marido roncava satisfeito após um dia cansativo a bordo da colheitadeira e com a barriga cheia depois de devorar todo aquele morango.
Texto publicado na coluna Dedo de Prosa da Folha Rural em 07-02-2015
Todo mundo que conhecia Juliana sabia o quanto ela apreciava as coisas muito bem-feitas. Fosse o arroz e feijão de todo dia, a roupa lavada e passada com esmero, o vestido e o sapato da moda, a maquiagem e o cabelo impecáveis antes de sair de casa. Simples era sua vida, não sua personalidade.
Pois enquanto Juliana se preocupava com os afazeres da casa, Wilson, agricultor que sempre trabalhou com o pai e o irmão na terra que um dia foi do nonno italiano, saiu cedo de casa naquele dia. Vestiu a roupa do sítio, calçou a botina, colocou o boné na cabeça, deu um beijo na esposa - que ainda dormia - tomou sua cumbuquinha de café com leite e pão, subiu na caminhonete e partiu. Era o primeiro dia da colheita do milho e ele nem imaginava que um jantar especial o esperava naquela noite.
Ao acordar toda feliz, Juliana decidiu que cozinharia todos os pratos preferidos do marido. Ele merecia, afinal, o trabalho na roça é bastante duro e Wilson chegaria cansado e doido por uma comidinha caseira e reconfortante.
Depois de fazer a faxina diária e se arrumar, Juliana partiu para o mercado obstinada em conseguir só os melhores ingredientes. O tomate teria que estar no ponto para o molho, a massa seria fresca, a carne, macia, e o vinho seria o mesmo que eles tomaram na noite em que o Wilson a pediu em casamento.
Mas especial mesmo seria a sobremesa: torta de morango, o doce preferido do esposo. E para que a torta ficasse arrasadoramente deliciosa, o morango deveria ser docemente vermelho.
Difícil encontrar um moranguinho suculento como os de antigamente. No único supermercado da cidade nem morango tinha naquele dia. Na quitanda, estavam todos verdes e na horta municipal, as mudas haviam sido plantadas um dia antes e estavam pequeninas na terra.
Juliana lembrou-se, então, do "morangueiro" que vivia na cidade vizinha. Lembrou-se que ele costumava deixar o cliente visitar a plantação e colher o próprio morango. Ela fazia isso sempre com a mãe, quando era pequena, e torceu para que ele ainda estivesse lá. Ela partiu para a casa da sogra, emprestou o carro e dirigiu rumo ao sítio do "morangueiro". Lá chegando, abriu um sorriso daqueles. A plantação estava cheia, no ponto de colher. Juliana não hesitou, recolheu quantos quilos cabiam na cesta, agradeceu o velho conhecido e voltou para casa, feliz.
À noitinha, já na cama, Juliana abraçou Wilson, fechou os olhos areados de vinho e sonhou, enquanto o marido roncava satisfeito após um dia cansativo a bordo da colheitadeira e com a barriga cheia depois de devorar todo aquele morango.
Texto publicado na coluna Dedo de Prosa da Folha Rural em 07-02-2015
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