au revoir dois mil e crise

Esse ano foi bem maluco: troquei a faculdade de gastronomia pelo curso de confeitaria, fiquei doente, precisei abrir os tímpanos – literalmente – para poder voltar a me ouvir e me curei preparando bolachinhas amanteigadas ao lado da prima caçula. Ela, sim, que como eu apostou na cozinha, se formou gastrônoma. Quem sabe um dia trabalharemos juntas em outra cozinha que não a do meu apartamento – apertadinha. Merecemos espaço para abrir e cortar a massa quebradiça que leva muita manteiga e derrete na boca depois de assada. 
Outra maluquice de 2015 foi aprender a dançar flamenco – e me apresentar em frente a uma centena de pessoas, em especial, a fofurinha de três anos que ficou vidrada nas castanholas. Não as minhas, claro, sou novata no sapateado espanhol. Mas foi errando e acertando passos nas aulas de dança que entendi que não é preciso ser perfeito para ter sucesso, mas é preciso dedicação. 
Das duas professoras – de confeitaria e flamenco – sempre ouvia que tinha que ter atitude. Nada de medo. Seja para fazer um giro com a saia comprida, seja decorando um bolo com pasta americana. Dois desafios dificílimos que acabei completando do meu jeito. Dessa vez não desisti e só por isso já valeu a pena. 
Foram dezenas de receitas, umas quase impossíveis de concluir, que me ensinaram a respeitar meus limites e, principalmente, meus gostos. Teve doce que eu fiz que nem eu mesma comeria e teve outros com os quais me deixaria empanturrar. E assim acabaram as aulas, o curso e as terças-feiras em companhia das confeiteiras mafiosas, como nos apelidamos carinhosamente. Aprendi mais que juntar açúcar, ovos, leite e farinha e a derreter chocolate para fazer ganache. Aprendi a respeitar limites. Dos outros e os meus. E isso me fez mais agradecer do que reclamar durante o ano – que foi dos mais pesados – e até trabalhei melhor e convivi melhor com a família e os amigos. 
Resumindo, confeitar – ou cozinhar – nada mais é que colocar seu coração no fouet. Se você está triste, o bolo embatuma. Se faz cantando, é capaz até de vender pacotinhos e pacotinhos de bolachinhas para os amigos.

Diário de uma aluna de gastronomia publicado na Folha da Sexta de 18-12-15

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