quanto tempo

Eita nós quanto tempo não escrevo. Como não sei mais escrever no papel, só consigo ajeitar os pensamentos por aqui. Claro que poderia escrever num arquivo de word e salvá-lo numa pasta escondida no meio de outras tantas pastas do computador. Mas que graça teria?
Desde que escrevi aqui pela última vez muita coisa mudou. Muita mesmo. Por exemplo, não sou mais jornalista. Temporariamente, claro. Porque acho que um jornalista nunca deixa de querer contar histórias. Por enquanto contarei as minhas mesmo. Se bem que este blog começou com a proposta de contar diversas histórias e acabei falando mais de mim. Um ato egocêntrico, admito, mas como conto com a participação de muita gente interessante nas minhas histórias, o leitor sempre acaba sabendo um pouco da vida de outro alguém.
Vamos ver, desde novembro de 2016, já fui a dois casamentos, chorei mortes, lamentei doenças de pessoas queridas, contratei estagiárias, aprendi a cortar várias fotos ao mesmo tempo no photoshop, fui humilhada, vi colegas sendo demitidos, desabei de tristeza no plantão do último dia do ano, sofri com o desânimo dos amigos, vibrei com as conquistas de outros, aprendi sobre feminismo e fake news, fui abraçada pelos amigos quando precisei, abracei, reuni a família em festas no sítio, aprendi a derreter chocolate e os segredos para preparar uma deliciosa carolina, me tornei madrinha.
Depois da minha escapada europeia, nas últimas férias, a rotina no jornal perdeu um pouco da graça. Pensei que ao receber uma promoção que teoricamente me faria crescer na carreira tudo se ajeitaria, mas senti exatamente o contrário. Não estava preparada para tamanha responsabilidade. Ou até estava, mas aceitei que não queria a tal oportunidade.
Foram alguns meses de um sofrimento que parecia impossível de curar. Livrar-me dele significava abandonar o que construí nos últimos 14 anos. Com um país em crise e sem perspectiva de um novo emprego, pedir demissão parecia loucura. 
Por outro lado, depois de muito conversar com a moça da poltrona marrom, e muito chorar e sentir dores de barriga sempre que ia trabalhar, chorei pela última vez numa segunda-feira, penúltimo dia do mês de junho.
Fui trabalhar com aquela sensação de que algo diferente aconteceria e recebi a notícia de que estava demitida. Como pedi. Como precisava. No final, como merecia.
Me foi dada a chance de um sonhado "ano sabático" que me possibilitará descobrir se sou mais do que jornalista. 
Venho me preparando para a confeitaria há três anos e de repente é hora de me colocar à prova. 
A três dias de completar dois meses de desemprego - ou o início da vida de empresária, como alguns preferem lembrar - tudo o que eu quero é paciência para fazer o novo sonho dar certo.
De grão em grão - ou biscoito em biscoito - vou construindo com novos companheiros uma vida mais leve e doce. Não menos desafiadora, mas hoje muito mais livre.
Não sei bem o que a tal corrente da gratidão - que tem se expandido nas redes sociais brasileiras  - significa. Mas me sinto agradecida todo dia por cada passo que dei até aqui. Por cada oportunidade recebida. Por cada pessoa que cruzou meu caminho. Tudo me fez ser quem sou hoje. 
Ainda sou alguém em busca. Acho que nunca deixarei de ser porque existe algo em mim que anseia por novidade quando a vida fica previsível demais. 
Aquele pavor que sempre senti das mudanças transformou-se num medo necessário para que a vida não dê uma rasteira. Transformou-se naquele medo básico que nos fazer olhar para os lados antes de atravessar a rua para não ser atropelado. 
Medo necessário que me faz querer ensaiar a coreografia antes da apresentação mas que não me paralisa diante do público desconhecido. Medo necessário que faz organizar o dia seguinte em pensamento para não me deixar ficar na cama mais do que é preciso. Medo necessário que me faz repensar a alimentação mas que não me impede de dividir bons momentos com os amigos em volta da mesa.
Meu tio mais velho me olhou hoje desacreditado: perguntou como era possível aquela menina tão calada ter se tornado uma mulher tão comunicativa. Não sei quando nem o que me despertou para o mundo. Talvez tenha sido a necessidade de ser jornalista para me sustentar. Precisar conversar com o outro, sem medo, para contar sua história. Ou talvez eu tenha finalmente me livrado de um pavor que só existia na minha cabeça. Um pavor que por muitas vezes me impediu de avançar e que me tirou momentos preciosos da juventude. 
Mais madura, hoje sei que não preciso de nada nem ninguém para ser feliz. A felicidade é feita de momentos, proporcionados pelas oportunidades que decidimos abraçar. E abraçando as oportunidades, abraçamos pessoas, empregos, histórias. E abraçamos, invariavelmente, nós mesmos.

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