ready to start
O avião atrasou. Quarenta e cinco minutos pra ser mais exata. Eu já estava acordada desde as 3h50, esperando o alarme do novo celular funcionar. Ele deveria despertar às 4. E porque nunca durmo direito quando vou viajar cedo. Fui dormir à meia noite depois de trabalhar em pé por quase 12 horas. Foram dois dias de trabalho intenso no preparo de mais de dez quilos de bolachinhas diversas que trago na mala de mão. Não quis despachar para garantir a integridade física de craquelookies e rachadinhos. E só posso torcer para que cheguem sãs e salvas ao destino final. Pois bem, estamos decolando às 6h37. O sol nascendo lá fora. Já avisei meu pai que o voo vai atrasar. Mas ele, como pontual que é, estará me esperando quando eu chegar em Guarulhos. Para passar o tempo, to ouvindo músicas no spotify. As playlists da vida, construídas em minutos, porque esse é o melhor aplicativo de todos os tempos. E nem preciso de internet. Só memória no celular. Foi por isso que comprei um modelo novo com mais gigas. Para ter o luxo de ouvir a trilha sonora pessoal sempre que quiser. Pois sentada aqui na poltrona 26 C do voo 1103 da Gol eu lembrei que daqui exatamente um mês estarei entrando em um avião novamente, rumo a uma das viagens mais importantes da minha vida. Vou ver minha mãe circular por Paris e reconhecer ao vivo tudo que ela já conhece de coração. E comecei a pensar uma trilha sonora para essa aventura. E lembrei que uma prima querida me disse outro dia que "não é muito musical". O que me fez refletir o quão musical eu sou. Não imagino o dia sem música. Tenho uma música para cada acontecimento especial da minha trajetória. Às vezes não só uma música mas um álbum inteiro. E gosto de ir a shows e cantar com a galera e dançar e gritar a música favorita como se algo fosse explodir dentro do peito. Não sei bem de onde vem isso de ouvir música pra tudo. Acho que nunca gostei muito do silêncio. E me lembro desde pequena as trilhas sonoras que meus pais tinham no carro. Muito pop italiano dos anos 60\70. Tem um fita feita especialmente pro meu pai pelo amigo dele, o Roberto. Aquela fita me ensinou inglês e a gostar de Beatles. Ele era um fã incondicional da banda. E por causa dele também sou beatlemaníaca. Gostaria de ter dito isso a ele, que já partiu. Mas enfim, roubei aquela fita da minha mãe e sempre que sentia saudade ouvia no aparelho com toca fitas e cds que ganhei da amiga. Ai o aparelho quebrou e acabaram as horas nostálgicas ouvindo aquela trilha sonora da infância. Quem sabe crio a mesma trilha no spotify, pra variar. Com o padrinho aprendi a amar músicas pop dos anos 60. Ele mesmo me presenteou com uma série de coletâneas gravadas em fitas cassete. E adora dizer que tem centenas de músicas baixadas no computador. "Venus" é a música que me lembra o tio Zé. Já foi até toque do celular. Da mãe lembro ao ouvir qualquer coisa de Elvis. Do pai, italianas. Da irmã, Pearl Jam. Da Helô, eletrônica. Da Su, puts puts (que era paixão na pré-adolescência e renderam diversas coletâneas gravadas direto da rádio em fitas cassetes no velho aparelho de som da família). Da vó lembro de "pinga ni mim" e "panela velha é que faz comida boa". Do vô, Ray Charles e Bill Halley e seus cometas. Se eu começar a citar todo mundo vai faltar espaço e paciência pra ler até o final. Basta dizer que eu, a Flá e a Edir já rimos muito vendo clipe velho computador. E por velho digo Lobo e cia. Sem contar as trilhas sonoras das festas na laje e na casa laranja na "vida louca" londrinense onde aprendi que posso ser até um pouco punk. Outro dia pesquisando coisas pra fazer com a mãe na Europa, achei ingressos para ver Pearl Jam em Milão. Já vi a banda com a irmã e os primos no Pacembu anos atrás mas imaginei que revê-los em Milão seria incrível. Acionei o primo italiano, que me trouxe pra realidade dizendo que estava muito caro e que não valia a pena pagar tanto pra ver algo que já tinhamos visto - ele lá eu cá. Foi um balde de água fria mas depois pensei que talvez o passado deva mesmo ficar onde está. E pensei também em como é extraordinário descobrir novas trilhas sonoras, entre outras coisas, pelo caminho.
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