Treisoitão

Hoje já é amanhã então significa que às 20 horas desse novo dia completarei 38 anos. A neta mais velha de um lado, número 13 do outro, a primogênita com uma irmã só. A moça que é sempre Mari, Ma, Mariane e até Marina, mas quase nunca Mariana. A jornalista independente que já vive fora da casa dos pais há 15 anos. A aprendiz de confeiteira que pagou os boletos deste ano com o dinheiro da venda de bolachinhas que ela assa no forno de casa. Que engraçado. Enquanto trabalhava na minha cozinha hoje, fui escolher uma música no spotify e ele me sugeriu ouvir a playlist das mais tocadas na minha conta este ano. Foi muito divertido cantarolar músicas que me remetem a uma adolescência tardia e pensar que eu ainda não cresci. Não de verdade. Passei o ano viajando, indo a shows, vendos séries na tevê, lendo livros feministas e indo ao cinema sempre que deu na telha. O trabalho foi pouco se comparar ao tanto de horas trabalhadas nos últimos sete anos. Mas sinto como se eu tivesse passado de ano na escola com um boletim azulzinho. Eu acho que nunca aprendi tanto sobre mim mesma como quando decidi empreender. Que palavra bonita: empreender. É mais que tocar o próprio negócio para pagar as contas. É empreender a si mesmo. Melhorar a cada dia. A cada tombo. A cada conquista. Com meu jeito adolescente de ser cometi algumas gafes que me fizeram virar páginas. Até dancei reggaeton ao som de Shakira ao lado das amigas de duas décadas. Como uma adolescente chorei uma semana ao final de uma série coreana do Netflix. E chorei de soluçar ao ver o Elio chamar o Oliver pelo seu nome. Eu fiquei com o coração apertado ao terminar de ler a saga napolitana e ver as minhas personagens preferidas serem retratadas na tela com tamanha veracidade e delicadeza, apesar de toda a brutalidade de suas histórias. Eu fui birrenta ao reclamar daquele cara erguendo a taça do meu time campeão. Eu chorei porque ele venceu a batalha. Eu fui um pouco criança toda segunda-feira quando passava duas horinhas com a Clarice. E a gente comeu sobremesa e dançou e assistiu ursos sem curso. Ela me ajudou a recuperar a vontade de por a mão na massa quando a realidade europeia bateu na minha cara. E como não ser adolescente andando de gôndola com a mãe pelos canais de Veneza. Ou tomando um sorvete em Roma. Ou comendo sfogliatelli em Napoli. Ou subindo a Torre Eiffel. Ou se perdendo nas ruínas de Pompéia. Ou bebendo vinho com a prima e rindo da pequena suíça que não fala português. Ou tomando milkshake de morango com o menino mais doce de Dublin. Ou dividindo uma cerveja na ilha bela com a mãe e a irmã. As três mulheres do Enzo viajando juntas depois de tantos anos. Como não ser adolescente vendo a alegria da mãe ao entrar num castelo medieval ou passar sete horas entre as obras do Louvre. Como não ser criança em Giverny, rodeada de cores e aromas. Como não voltar a ter 15 anos sentada na cozinha do apê da vó vendo ela preparar aquela farofa que você tanto gosta. Não. Eu não quis viver a vida adulta aos 37. Eles começaram lá no sofá da família, no Novo Mundo, ao lado do pai, da mãe e da gata. Tiveram idas e vindas. Angústias e alegrias. Foram o que tiveram de ser. E ponto. Mas terminam onde devem terminar: no sofá da minha casa, em frente ao bosque. Mostrando o caminho aos 38 que chegam. Solitários, sim. Reflexivos, talvez. Mas certamente adultos, como devo ser daqui para frente.

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