o dia em que os londrinenses foram pro sítio

Não sei porque mas senti uma energia tão positiva naquela sexta-feira à noite que meu corpo se recusou a dormir. Fazia muito tempo que não varava a noite conversando, esperando o sol nascer. Ele nasceu às 6h40 da manhã de sábado quando estávamos em três sobreviventes sentados na grama, olhando o céu. Mas estava nublado então não foi aquele nascer do sol de respeito que esperávamos. Havíamos acabado com um engradado de cerveja e filosofado sobre como deve ser a vida dos jovens adultos nascidos no século passado. No caso, nós. As adolescentes deste século nos fizeram companhia e foram responsáveis por tocar Joy Division enquanto deitávamos no terreirão para ver melhor as estrelas. Ainda não acredito que essa banda foi trilha sonora de uma noite no sítio. De madrugada. Com os compadres. Com a afilhada. Com os pais da Clara. E com a Ceci e a amiga veggie. Gente do bem que em uma horinha montou algumas pizzas e comeu pão italiano enquanto esperava a muçarela derreter na calabresa. Foi a segunda sexta-feira do ano novo. Foi a primeira vez que os amigos estavam no sítio. Que visitavam a cidade de nome diminutivo da qual faço tanta propaganda. Eles finalmente conheceram um lugar importante da minha história e entenderam de onde eu venho. Foi muito divertido. Eles exploraram as peculiaridades da cidade com olhos carinhosos e até tomaram cerveja no bar Palestra. Tiraram foto com a loba, Rômulo e Remo. No mercado, compraram bobagens que não encontram em Londrina, como uma caixa de bombons sabor dadinho, um kit de salgadinhos Piraquê e cerveja Malta. Fizeram churrasco de ratatouille e cantaram clássicos punks ao violão com as primas que já são da turma. As meninas rebolaram funk enquanto os homens deram uma volta pelo terreno. Comemos macarrão feito na fábrica de massas da cidade com molho apuradinho pela mãe da turma e frango com batatas no almoço de domingo. As mascotinhas aplacaram o calorão com água de mangueira e nós também, porque ninguém é de ferro aos 30 e poucos graus. Foi muito, muito legal dividir a casa dos meus pais com os amigos que são parte da família escolhida. Temos uma rotina tão centrada em nós mesmos que esses pequenos momentos de isolamento e diversão sem compromisso nos conectam com o que de mais verdadeiro trazemos conosco. E não precisamos de luxo, ainda bem. Só de uma cerveja gelada, talvez. E que bom que não dormi. Que vi o sol tentar aparecer entre as nuvens. Que balancei com a Clari nos brinquedos do bosque e corri com a Clara pela varanda que meu pai acabou de reformar para nos dar mais conforto quando estamos no sítio. Faz alguns anos já que temos essa casa que para mim sempre funciona como refúgio da pessoa que sou na cidade. Não se engane: todas as comodidades estão lá. Camas e colchões novinhos, travesseiros, lençóis e toalhas limpinhos, geladeira, fogão, micro-ondas, chuveiro elétrico, tv sei lá quantas polegadas, ventilador de teto, mixer, máquina de lavar roupa e até máquina de fazer pão tem no sítio dos meus pais. De vez em quando tem a gente também e nossa parentaida que adotou a casa para os cafés e festas familiares quando estamos na cidade de nome diminutivo. Bendito o dia em que meus pais compraram essa casa. Bendita minha irmã que plantou árvores por toda parte. Bendita minha vó que cultivou um jardim de flores lindo para enfeitar o pé de figo que estava lá abandonado e hoje dá frutos doces para os tios se refestelarem. Bendito o compadre que fez doce da abóbora que colheu no sítio, eternizando em sabor adocicado esse fim de semana tão querido por mim. Vamos ter que voltar para alimentar os macaquinhos da mata, banhar na prainha do Panema e tirar uma foto no portal.

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