o necessário
"Nós não podemos odiar o necessário, nós devemos amá-lo!" Ouvi essa frase de um personagem experimental enquanto assistia a uma peça de teatro numa sexta-feira à noite e precisei anotar para relembrar vez ou outra. Achei-a linda. E necessária.
Os últimos dias foram intensos. De cabeça fervilhando por conta da amiga ansiedade. Foi tudo tão intenso que até voltei a dormir no sofá. Uma noite dessas, acordei no meio da madrugada com o barulho da tevê. E de repente, percorrendo a sala com os olhos, meu coração acelerou. E comecei a chorar. O pensamento era de total fracasso e a sensação, de abandono. De completa solidão. Quase um pânico. "Como cheguei até aqui?" "Onde estarei quando meus pais já não estiverem mais?" "Quem olhará por mim?" "Será que algum dia deixarei de ser filha?" Então foquei na tevê, respirei fundo e me mantive acordada, prestando atenção numa outra história qualquer. Eventualmente me acalmei e fui para a cama. Ao deitar, como acontece todo dia, olhei para a bruxinha no teto e perguntei: "Será sempre assim?". Me revirei entre os lençóis até pegar no sono. Ao acordar, senti novamente o que sinto ao abrir os olhos nos últimos anos: o tempo correndo apressado, me deixando para trás. Fiz tudo o que a rotina pede e me cerquei de pessoas queridas para enfrentar a jornada. O dia passou e estou aqui, no mesmo sofá, fugindo para outra história, torcendo para não sentir aquela solidão que amedronta quando a madrugada chega. Aquela que vem de mansinho, quando você parece estar no controle. Que grande ilusão. Não há controle. Nunca houve nem nunca haverá. Podemos nos espatifar em qualquer terreno, por mais espertos que acreditemos ser para desviar dos abismos.
"Não perca tempo. Diga eu te amo. Diga aqui e agora. Amanhã será tarde demais", disse o diácono na despedida da querida senhora que se foi. Eu chorei. Eu choro. Toda hora. Por dentro. Com medo. Mas ainda assim escolho seguir. Às vezes com a cabeça nos pés. Outras, com a cabeça nas nuvens. E sigo. Porque acredito que o amor é a resposta. E que a resposta sempre chega. Eu acredito nisso, mas não minto mais. Nem para mim, nem para a bruxinha da luz: nas madrugadas, ainda sinto medo.
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