coisa de mulher


Enquanto tem presidente dizendo que fraquejou ao ter uma filha, enquanto tem ministra dizendo que mulher tem que ser submissa no casamento, enquanto tem homem dizendo que futebol feminino dá sono, enquanto o Facebook diz que feminismo é mimimi (o que essa pessoa tá fazendo na minha timeline mesmo?), eu reparo que onde trabalho só tem mulher no comando. Isso mesmo. Das oito lojas abertas aqui no primeiro piso do edifício, seis são administradas por mulheres. E a maior parte delas por mulheres que trabalham sozinhas ou com outras mulheres. Que pensam seus negócios, que compram, vendem, limpam, organizam, que levantam cedo, vestem o sorriso e vêm ganhar o pão. Algumas são mães e vejo suas crianças correndo saudáveis pelo saguão enquanto elas atendem seus clientes. Eu acho lindo. Acho verdadeiro. Sem falar nas meninas da limpeza, uma simpática equipe feminina que se completa com as funcionárias da portaria, lindas em seus saltos altos, cabelos escovados e sorrisos largos no rosto, aguentando o bom e o mau humor de quem precisa entrar no prédio. Acho que esse é o retrato da sociedade de hoje. Ainda que os homens insistam em nos jogar para escanteio. Mulheres no comando. Passando os dias atrás do balcão deste pequeno café, onde também trabalho sozinha, eu vejo o quanto as mulheres são agilizadas e fieis a si mesmas. Pelo menos a maioria delas. Elas que resolvem. Elas escolhem, elas debatem, elas pagam e vão embora em seus saltos finos – ou em seus all stars, não importa. Hoje, um mês e um dia depois de ter iniciado essa jornada no café, uma cliente do prédio que sempre prestigia meus doces, parou para conversar após o almoço e depois de subir para o escritório, me mandou a seguinte mensagem: “Olha, deixa eu te falar: parabéns, viu, admiro pessoas como você que encaram assim sozinha e sempre com sorriso no rosto. Você merece muito sucesso ai”. Ganhei o dia. Sororidade pura desde o primeiro dia. E tem sido assim com as companheiras de saguão também. Na verdade, fui abençoada pela sororidade desde os tempos de jornalismo e aprendi o que é ser empática não só com as mulheres mas com todo mundo que cruza meu caminho recebendo empatia, mesmo que às vezes seja difícil. Já disse a amiga: “Tudo que é feito com amor causa angústia”. Ontem, na poltrona marrom, falamos sobre propósitos e metas. Para mim, que quase nunca me imponho metas, é muito mais fácil trabalhar por um propósito. Hoje, é sobreviver vendendo meus docinhos. Para quem me impõe as metas, é sobre superação financeira que garanta tranquilidade à vida. Até porque sempre acabo desviando um pouco dessa rota. Mas acho que juntar propósito e meta pode ser meu caminho neste presente que vivo. E mesmo batendo minhas metas diariamente, são sorrisos e conversas que me estimulam a levantar cedo todo dia para assar pães de queijo e coar um cafezinho. Pelo propósito de me conectar, nem que por alguns minutos, com o outro. Se isso é “coisa de mulher”, quer dizer que estou no caminho certo.

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