a arte de correr na chuva
A única pessoa que me julga sou eu mesma. Cada dia que passa
eu penso mais sobre equilíbrio e viver no agora. E como essa é a nossa missão de vida inteira.
Cada escolha que a gente faz impacta diretamente nestas duas variáveis:
equilíbrio e agora. Ontem, por exemplo, eu estava exausta do dia intenso de
trabalho - gratidão por isso - e só queria chegar em casa e colocar os pés para
cima. Mas tinha recebido uma encomenda e precisava adiantá-la. Então escolhi
começar o pilates outro dia. Não sem muito debater internamente: quando vou começar
a cuidar da saúde? Quando farei o que tanto aconselho os demais a fazerem? Eu
não consegui. E bati na porta da professora avisando que só começarei em
setembro. Outro embate: com comida na geladeira, uso ou não o cupom do Ifood
para pedir um hambúrguer? Usei. Comi. E fui ao segundo turno de trabalho: uma
receita de brownie e uma de cookie pro dia seguinte, além da encomenda. E
coloquei o cesto inteiro de roupa suja para lavar. Depois de duas horas de
tarefas, fui tomar banho e sentei no sofá para esperar a roupa lavar.
Aproveitei para arrumar as pastas de documentos de casa e do café, enquanto
ouvia a novela das nove que eu não acompanho. A barulheira da máquina de lavar
cessou e fui estender a roupa de uma semana. Quase não deu varal. Eram 22h30.
Deveria ir direto pra cama. Mas resolvi ver um episódio da série coreana que
comecei no sábado. Um começou três terminou e já marcava 0h30. Desliguei a tevê
e dormi no sofá. Fui pra cama às 1h30 sabendo que estaria morta de manhã. Não
deu outra. Comecei o dia lentamente e cheguei 15 minutos atrasada para colocar
o pão de queijo para assar. Minha cara estava péssima e meu humor pior ainda. A
primeira fornada murchou. A segunda ficou ótima e as outras duas também. Ufa. Enquanto
isso fui tentando tomar café. O primeiro gole esfriou mas minha cara e meu
humor foram melhorando depois da primeira mordida no pão de queijo que tinha
sobrado do dia anterior. Só consegui terminá-lo por volta das 11 horas. Agora
estou aqui tentando elaborar a equação: equilíbrio x agora. Como a vida é dinâmica
e muda num piscar de olhos, faz todo sentido viver o agora. Todo dia eu acordo
e vou dormir pensando no que fiz de errado e como posso melhorar para o dia
seguinte. É desgastante demais. Voltar para casa e ficar pensando no que
poderia ter sido melhor ao invés de apreciar o pôr do sol no lago. Vir
trabalhar e pensar que estou atrasada para colocar o pão de queijo e perder o
céu avermelhado do nascer do sol. Simplesmente agradecer até pelo que deu
errado. Domingo à noite resolvi ir ao cinema ver o filme que em português tem
um título idiota mas que em inglês é “A arte de correr na chuva”, baseado num
livro que eu li anos atrás e adorei. O personagem principal é um cachorro
chamado Enzo. Fala sobre corrida de carro que o meu pai Enzo adora, então
pensei: por que não ler? Eu já não me lembrava os detalhes da história, mas ao
ver o filme, relembrei que era uma história triste de provação constante. Nunca
desistir é a mensagem. E o cachorro admirava tanto o dono, que via nele um
super-herói capaz de resolver qualquer problema. Na verdade, o cara
simplesmente se antecipava aos problemas para tentar minimizá-los. Não chega a
ser ansiedade, mas uma tentativa de autocontrole. Ainda que a vida dele tenha tido
mais momentos tristes do que ele poderia desejar. A ideia é criar o próprio
jeito de fazer as coisas e aí as coisas se ajeitam ao seu modo de fazê-las.
Parece complexo. Mas na prática funciona: se eu ficar preocupada cada vez que
não atingir a meta – seja ela qual for – vai ficar cada vez mais difícil atingi-la.
Se eu aceitar que as condições são diferentes diariamente apesar da meta e que
terão dias em que eu a baterei com folga e outros em que passarei longe dela e
tudo bem, certamente não dormirei ou acordarei pensando nisso. Só sobrará o
sentimento de gratidão por ter dado o meu melhor. Como encaixar isso tudo no
agora, que pede o acúmulo de bens, é que complica. Mas há dois anos fiz um
acordo comigo mesma: quero acumular memórias. Preciso lembrar sempre é dessa
meta. A mais importante delas.
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