dilema


Angústia, essa carta é para você. Minha companheira de longa data. Aquela que aparece inesperadamente e fica por uns bons dias até ir embora sem se despedir. Angústia, você veio me visitar de novo, mas creio que dessa vez não é sem motivo. Se bem que sempre tem um motivo, eu é que demoro a descobrir. Você quer me dizer alguma coisa mas não sabe como. Não encontra as palavras. Então você me deixa com vontade de chorar por causa do aperto no peito. Porque tá tudo como deveria e esse aperto insiste em apertar. Angústia, eu já respirei fundo para facilitar sua partida. Eu já disse mantras antes de levantar da cama pela manhã. Eu já repeti os mesmos mantras a caminho do trabalho e ainda assim você insiste. Do que você precisa para seguir seu caminho, angústia? Me deixa sentir paz. Deixa minha mente quieta um pouco e meu coração manso. Eu sei que às vezes você quer que eu pegue na sua mão para me mostrar o caminho, mas por que eu não posso caminhar sozinha de vez em quando? Angústia, você me trava. Me desespera. Me deixa maluca e me faz sentir um completo erro. Por que você simplesmente não morre de uma vez? Por que não vira outro sentimento, como amor-próprio, por exemplo? Ao invés de sentir um aperto ruim no peito, eu poderia sentir um frio gostoso no estômago, o que você acha? Eu saberia que você estaria disfarçada de euforia e viveria uma mentirinha boa até estar pronta para te receber de novo. Eu sei que o outro não muda, mudamos nós. Desculpa te pedir para mudar por mim. Eu sei que você é importante. Tão importante quanto o medo. Mas é que você sempre chega quando eu menos espero e a casa tem andado meio bagunçada ultimamente. O mundo tá meio invertido e é disso que você gosta, né, sua danada. Talvez eu tenha mesmo que fazer de você minha melhor amiga. Assim caminhamos de mãos dadas e eu sofro menos porque o que não tem remédio, remediado está. De repente, sabendo que você sempre estará por perto, eu me acostumo. Mas hoje, só hoje, eu queria liberdade. Essa prisão em que me meti tá me fazendo questionar até quem eu sou de verdade. E isso eu já tinha descoberto. Ou pelo menos pensei que tivesse. Me fala, angústia, quem sou eu no meio desse dilema todo? Me lembra quem sou eu.

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