reprogramando
Já ouviu falar em reprogramação de crenças negativas? Não é
nada alternativo não. É uma técnica usada nos consultórios de psicologia, pelo
que entendi. Depois de dez anos me ouvindo, a moça da poltrona marrom cansou.
Disse que estou repetitiva. E quis testar outras técnicas comigo. Aparentemente
tenho só mais uma questão importante a resolver. Para as dezenas de outras neuroses
eu já tenho ferramentas para elaborar o entendimento sozinha. Segundo ela. Se
bem que tenho me sentido mais confiante mesmo para encarar minhas dificuldades.
Não quer dizer que não doa, só quer dizer que agora sei porque dói e quando
estou bem nem coço mais de ansiedade. Mas, enfim, reprogramação de momentos
tristes. Primeiro precisei recriar na mente um momento feliz que servirá de
lugar seguro onde devo me refugiar quando o bicho papão aparecer. Depois,
preciso relembrar a cena triste que me causou trauma e elaborar como me sinto.
Nesse momento, a psicóloga inicia uma série de estimulações visuais por meio de
movimentos repetitivos – ela basicamente faz um V com os dedos e balança a mão
na minha frente de um lado para o outro para eu acompanhar com os olhos.
Teoricamente as imagens tristes são substituídas pelos momentos agradáveis vividos
no lugar seguro. Eu acredito em qualquer coisa, vocês sabem. Mas foi muito
incrível perceber que uma cena do passado que sempre que me vinha à mente como
um momento de tremenda vergonha, desconforto e um profundo arrependimento,
hoje, nesse momento em que escrevo, me parece ridícula. A importância que dei
para o antes, o durante e o depois daquela fatalidade hoje me parece sem
cabimento. Se me sentia inadequada, hoje me sinto boa o suficiente para repetir
a cena. Mas nunca com a mesma pessoa. Nunca mais com aquele ser desprezível. Depois
de umas quatro estimulações visuais ou mais, não me lembro, a sessão terminou e
me senti adormecida. O coração acelerado, mas o corpo meio bobo. Não conseguia parar
de rir. E fiz um pedido silencioso pro universo: se recebesse tal mensagem,
aceitaria o convite. Mas eu não perguntaria. A mensagem veio, convite aceito. E
agora? Para obter resultados diferentes é preciso fazer diferente. Será que
terei coragem? Só sei que várias cenas se atrelaram à cena horrível principal.
Segundo a psicóloga, é porque o cérebro guarda as memórias e cria um emaranhado
interligado que vem à tona quando estimulado. Uma cena levou a outra cena que
levou a uma vontade guardada que levou a uma possibilidade que me levou a sair
da sessão sorrindo e me sentindo boa o suficiente. A moça da poltrona marrom
estava satisfeita com o trabalho dela. Eu também fiquei. Mas sei que não basta
reprogramar. Tenho que agir. E para isso preciso me despir dos preconceitos que
caminham comigo e dos medos bobos. Quem sabe até a próxima sessão tenho algo
novo a contar. Quem sabe...
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