2020
Escrever para entender. É assim que ela funciona. Mas parece que as palavras têm sumido nos últimos dias. Ela sente um desconforto mas não sabe nominar. Pode ser contentamento. Pode ser a leveza pretendida. Pode ser que tudo esteja no caminho certo e basta seguir pela estrada. Ela ainda pensa sobre o que aconteceu antes das férias. Sobre o que ela ouviu e o medo que sentiu de ficar sozinha, sem ter com quem conversar. Afinal, foi uma década de conversa. De desabafos que a colocavam de volta no trilho. Ela sente um abandono mas também um certo orgulho de poder caminhar com as próprias pernas. Ela decidiu iniciar o ano agindo, apesar da preguiça. Ela acrescentou uma pessoa na rotina para seguir o plano de mudar. Ela esconde a ansiedade para respeitar o tempo certo das coisas. “Entenda o tempo do outro”, foi a mensagem que a moça deixou depois de dez anos. “Não quero mais te ver por aqui.” Apesar de ser brincadeira, ela sentiu um peso nessa frase, tão definitiva. Doeu um pouco. O abraço foi meio frio. Não é assim que se encerra uma relação de dez anos, ela pensou. Mas deu aquele sorriso amarelo e foi embora, viver as férias tão desejadas. Foram dias de fazer nada e fazer muito ao mesmo tempo. Nada do que ela gostaria, muito do que ela precisava. Ela voltou para casa com a sensação de que os outros controlam suas ações uma vez que ela deixa sua solidão tomar conta. Ela não gosta de ficar sozinha, então sede aos desejos alheios para preencher o tempo. E quando fica sozinha, sente que deveria estar fazendo outra coisa, ainda que a maratona no sofá seja bem convidativa. Que contradição essa vida adulta, ela pensa. Quando está só quer alguém, quando está na multidão, quer ficar consigo. Na verdade, ela só quer mesmo se sentir apaixonada. Se sentir objeto de desejo. Ser importante para alguém. Tão importante que a pessoa muda seus planos para agradá-la. Mas é ela quem sempre muda os planos. Ela que nunca se importa se a trilha é pesada e quente, se a água está fria demais e ela só queria sentar e contemplar, com um copo de cerveja boa do lado. Jogar conversa fora. Filosofar. E divagar para uma realidade paralela onde seus pensamentos e considerações valem o suficiente para fazer a pessoa ouvir. Ela está perto de conseguir. Ela sabe que sim. Ela só não pode deixar o outro tomar conta de novo. “Respeitarei o tempo do outro, mas o meu também”, é o que ela diria para a moça hoje. Sem medo de parecer egoísta. Sem medo de nada. Finalmente.
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