sobre crônicas ansiosas
Eu pouco escrevi por aqui esse ano. Minhas reflexões ficaram no bloco de notas do celular e iam aparecendo conforme eu tinha vontade de gritar. Então, para não gritar, eu escrevia.
Escrevi poeminhas, microcontos, desabafos, listas de filmes e séries para ver, medidas corporais para acertar na compra da roupa, notas e reuniões de clientes. Leiturinhas de tarô. Enfim, minha escrita está truncada. Difícil.
E justamente esse ano me vi com a missão de escrever meu primeiro livro ao lado da Carol. Eu conto histórias há 24 anos, mas por alguma razão não estou conseguindo contar a história do sr. Ueda como ele gostaria.
Esta é a terceira tentativa dele escrever suas memórias para deixar como legado para os filhos. E a nossa primeira escrevendo juntas. Mas algo não está sintonizado. Não sei se é o sr. Ueda e seus filhos que vão e vêm nas vontades, ou se somos eu e a Carol que nos distanciamos.
Cada uma lidando com suas realidades e tentando entregar trabalhos, enquanto dá conta da própria vida. É, talvez o problema esteja aí. Não tenho certeza.
Eu queria estar escrevendo sobre o tanto de coisa boa que me aconteceu em 2025. Minha prima nos visitando depois de 15 anos morando fora, o casamento lindo do meu primo que trouxe o tio dele de volta, a viagem para a Bahia em comemoração aos 70 anos da minha mãe, a conversa sincera com minha irmã.
Este ano eu produzi um vídeo para celebrar os 20 anos da escola flamenca ao lado da afilhada, a quem vi desabrochar. Eu fui ao show do Ritchie com os compadres e vi dezenas de capivaras e jacarés coexistindo num pesque-pague. Eu finalmente conheci a esquina da Ipiranga com a São João.
Minha tia se curou de um câncer, minha vó completou 93 anos. Minha amiga encontrou um trabalho remunerado e eu me tornei uma Néia. Comecei o pilates e subi ao palco sem medo pela primeira vez.
Por que, então, eu ainda insisto em me preocupar se o sr. Ueda vai ou não gostar do que escrevo? Por que não aceitar simplesmente que terei que refazer quantas vezes forem necessárias? Aliás, aceitar que errar e refazer faz parte da vida.
Este ano, o medo de colapsar no trabalho voltou e fiquei tonta. Meu quadril doeu a ponto de eu mal conseguir levantar a perna. Na fisioterapia, eu chorei como criança. Depois chorei após manobrar os cristais para aplacar a tontura. E dentro de mim eu sabia que essas dores físicas escondiam a dor de abandonar alguém por quem lutei muito para ter em minha vida. Alguém que eu amei e que aprendi a desamar. Ou melhor, que estou aprendendo a desamar.
Desamar dói demais. Desapegar dói demais. Entender que nem tudo foi feito para dar certo dói demais. Mas é primordial compreender os aprendizados sem sentir culpa, lembra a moça do Google Meet. A gente sempre poderia ter feito melhor, mas não sabia disso enquanto estava fazendo. Por isso, entregamos apenas o que temos.
Eu não tenho nenhum repertório como escritora de livros. E muito conhecimento sobre contar histórias. Como fazer uma coisa trabalhar em favor da outra é algo que estou aprendendo na jornada. E escrever por aqui, agora, já me aliviou o peito como eu sabia que aconteceria.
Se teremos um livro sobre as peripécias do sr. Ueda eu ainda não tenho certeza. Mas certamente haverá uma crônica ansiosa sobre isso no final do processo.
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