Como vejo a cidade
Passando pelo Calçadão de Londrina, numa manhã dessas, me lembrei do quão provinciana uma cidade pode ser. Encontrei pelo caminho os senhores aposentados que tomam sol nos bancos de alvenaria em frente às lojas, enquanto papeiam sobre os mais diversos temas, desde a rodada do campeonato de futebol até a política, a economia do País e o valor da conta do supermercado, "um absurdo".
Me deparei com a correria dos trabalhadores que precisam cruzar o centro da cidade para chegar ao terminal urbano e com as donas de casa que deixam o bairro para aproveitar as liquidações das grandes redes varejistas da rua Sergipe.
O retratista e seu pequeno cavalinho de brinquedo continuam estacionados na esquina da rua Rio de Janeiro, no final da praça Marechal Floriano Peixoto - mais conhecida como praça da Bandeira -, à espera de alguém que precise de uma foto 3x4 em tempos digitais.
Ao atravessar a praça, fiz o sinal da cruz em frente a Catedral, notando o grafite em uma das paredes laterais. Sinal dos tempos, refleti. Segui rumo ao jornal, que fica em frente ao bosque que separa minhas vidas profissional e pessoal, pensando em como as cidades levam a cara de seus moradores.
Quando me mudei para Londrina vinda de São Paulo, costumava ouvir música sertaneja através da janela e ia para o trabalho a pé, sorriso no rosto, me sentindo livre na cidade pequena, bem diferente da metrópole a que estava acostumada. Ainda hoje, ao atravessar o bosque, sinto como se conhecesse todo mundo que cruza meu caminho, uma sensação que só tenho quando visito a pequena cidade de nome diminutivo onde meu pai cresceu.
Depois de alguns anos por aqui, conheci boa parte de Londrina e constatei que ela sabe ser grande quando quer, oferecendo tudo o que a capital paulista me dava. Também sabe ser pequena, principalmente quando as distâncias são irrisórias, facilitando a rotina. Nessas horas agradeço por ter escolhido essa cidade para viver.
Caminhando, refleti sobre a pequenez e a grandeza das cidades que me construíram. Me lembrei do bairro onde cresci, que se desenvolveu comigo e hoje transborda uma violência que não perde em nada aos morros cariocas, mas que ontem me permitia ir a pé da minha casa à igreja, para o catecismo, e depois à casa da minha vó, que me levava à feira para comprar pastel todo sábado.
Me lembrei da sensação de liberdade ao cruzar a minúscula Pedrinhas Paulista de bicicleta nas férias com a irmã e as primas, sem medo de nada, visitando as tias, que sempre tinham uma guloseima para dividir com a gente. Hoje, a cidade - que ainda não tem semáforos - já exibe traços de violência que ontem só eram vistos nas capitais. As portas já não ficam mais abertas à noite.
Aprendi a entender que as cidades mudam conforme transformam-se seus habitantes, ora mais calmos, quando a vida é gentil, ora mais agitados, quando as dificuldades são muitas. Também aprendi que podem ser grandes ou pequenas, dependendo de como as sentimos. Dá para ser feliz na periferia da metrópole, ao redor do bosque, com tudo perto, ou na cidade que tem apenas duas avenidas principais. Basta querer.
Dedo de Prosa publicado na Folha Rural de 05-09-2015
Me deparei com a correria dos trabalhadores que precisam cruzar o centro da cidade para chegar ao terminal urbano e com as donas de casa que deixam o bairro para aproveitar as liquidações das grandes redes varejistas da rua Sergipe.
O retratista e seu pequeno cavalinho de brinquedo continuam estacionados na esquina da rua Rio de Janeiro, no final da praça Marechal Floriano Peixoto - mais conhecida como praça da Bandeira -, à espera de alguém que precise de uma foto 3x4 em tempos digitais.
Ao atravessar a praça, fiz o sinal da cruz em frente a Catedral, notando o grafite em uma das paredes laterais. Sinal dos tempos, refleti. Segui rumo ao jornal, que fica em frente ao bosque que separa minhas vidas profissional e pessoal, pensando em como as cidades levam a cara de seus moradores.
Quando me mudei para Londrina vinda de São Paulo, costumava ouvir música sertaneja através da janela e ia para o trabalho a pé, sorriso no rosto, me sentindo livre na cidade pequena, bem diferente da metrópole a que estava acostumada. Ainda hoje, ao atravessar o bosque, sinto como se conhecesse todo mundo que cruza meu caminho, uma sensação que só tenho quando visito a pequena cidade de nome diminutivo onde meu pai cresceu.
Depois de alguns anos por aqui, conheci boa parte de Londrina e constatei que ela sabe ser grande quando quer, oferecendo tudo o que a capital paulista me dava. Também sabe ser pequena, principalmente quando as distâncias são irrisórias, facilitando a rotina. Nessas horas agradeço por ter escolhido essa cidade para viver.
Caminhando, refleti sobre a pequenez e a grandeza das cidades que me construíram. Me lembrei do bairro onde cresci, que se desenvolveu comigo e hoje transborda uma violência que não perde em nada aos morros cariocas, mas que ontem me permitia ir a pé da minha casa à igreja, para o catecismo, e depois à casa da minha vó, que me levava à feira para comprar pastel todo sábado.
Me lembrei da sensação de liberdade ao cruzar a minúscula Pedrinhas Paulista de bicicleta nas férias com a irmã e as primas, sem medo de nada, visitando as tias, que sempre tinham uma guloseima para dividir com a gente. Hoje, a cidade - que ainda não tem semáforos - já exibe traços de violência que ontem só eram vistos nas capitais. As portas já não ficam mais abertas à noite.
Aprendi a entender que as cidades mudam conforme transformam-se seus habitantes, ora mais calmos, quando a vida é gentil, ora mais agitados, quando as dificuldades são muitas. Também aprendi que podem ser grandes ou pequenas, dependendo de como as sentimos. Dá para ser feliz na periferia da metrópole, ao redor do bosque, com tudo perto, ou na cidade que tem apenas duas avenidas principais. Basta querer.
Dedo de Prosa publicado na Folha Rural de 05-09-2015
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