uma carta para você
Há tempos estou com uma vontade dentro do peito. Uma ânsia de contar o que se passou comigo naquela noite. De te dizer que nunca me perdoei pelo modo como tratei seu sentimento. Eu estava tentando fazer diferente, ser o que não sou, e deu no que deu. Não estava nem remotamente pronta para ouvir o que você tinha a me dizer. O que eu sabia que você diria. A única certeza que eu tinha é que a minha resposta seria negativa. Quer dizer, eu sabia que tinha medo e que não conseguiria te dizer sim. Não naquele momento. Ouvir de alguém que somos especiais é contraditório. É maravilhoso saber que tem alguém que pensa na gente nos momentos de bobeira. E é aterrorizante não suprir tais expectativas. Foi por isso que saí correndo aquele dia. Que te deixei lá com suas palavras gentis, entrei no carro e voei para casa. Fui egoísta. Desculpa. Eu não pude dormir aquela noite. Eu não pude te olhar nos olhos nos anos seguintes. Eu estava envergonhada. Por que eu não te acolhi? Por que eu não acreditei nas suas palavras, não me achei digna delas? Por que eu não conversei com você e te expliquei o que se passava comigo? Por que eu simplesmente não te disse que sentia medo, inadequação e que não sabia como agir? Eu perdi uma oportunidade de me deixar gostar por alguém incrível. Eu perdi. Mas perdi a chance de ser corajosa com a vida. De experimentar. Que mal há em tentar ser feliz? Eu me enganei todos esses anos achando que nutria sentimentos por caras que coloquei em pedestais e de tão alto que ficaram, eu não os alcancei. Naquele dia quem estava no pedestal era eu, e eu não desci. E lá continuo. Sozinha, com meus devaneios. Aqueles caras dos pedestais nunca foram perfeitos. Assim como eu nunca serei. Mas eles seguiram suas vidas e eu fiquei parada. Ainda com aquele vazio e aquela sensação de inadequação. Eu sei que mesmo se eles tivessem descido das alturas e me dito sim, eu correria de medo. Entraria no carro e voaria para casa de novo. Porque o problema não são os outros, sou eu e meu medo de não atender expectativas. De ser medíocre. Mas não há mediocridade nos assuntos do coração. Há coragem ou há medo. E há tempos que já não quero sentir tanto medo. Há tempos que quero dizer sim. Que quero sentar, tomar um café e só conversar. Ouvir histórias, rir, pagar a conta, me despedir e esperar pelo próximo café. Até que os cafés se tornem almoços. E os almoços, jantares. E a partir dai, só a afinidade dirá até onde vai a minha coragem. Não é simplesmente dizer sim a tudo. É construir um sim verdadeiro. Mesmo que seja para descobrir que no final ainda é melhor entrar no carro e voltar para casa. Mas dessa vez sem pressa de fugir.
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