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obrigada, chamusquinha

Nunca pensei que iria abraçar uma gata. Muito menos amá-la como se fosse uma irmã. Mas o amor tem um jeito engraçado de acontecer quando a gente menos espera. A Chamusquinha chegou quando minha mãe se viu sozinha em casa. As filhas já viviam em outras cidades há anos e o marido aposentado decidiu que seria legal passar a semana fora trabalhando no interior. Minha mãe, como sempre, aceitou e seguiu vivendo do seu jeito no Novo Mundo. Mas, de repente, o coração disparava, o suor escorria, vinha a tremedeira e a crise de pânico se instalava. Era a tal síndrome do ninho vazio. Foi então que o amigo trouxe uma gatinha pequenina de uma ninhada que apareceu no sítio dele. Ela era rajadinha de cinza e tinha olhos verde escuro. Foi aí que tudo mudou. Eu segui tendo meus medos de bicho, mas sempre que ia visitar os pais, queria brincar com aquela pelúcia que arregalava as orelhas quando alguém chegava perto. Ela era a dona Gua de quatro patas: arisca e carente ao mesmo tempo. Miava para comer ...

um muro de gigantes muito amados

Um muro. Ou um quarteto gigante. Impossível de transpassar. Mas será que é preciso transpassar? Ou apenas se reconhecer como grande também e caminhar lado a lado? Quando penso que estou perto de gostar de mim, o trauma aflora e me faz chorar. Me faz ter vontade de jogar tudo pro alto. Ou simplesmente fugir. Mas quando me acalmo e coloco tudo em perspectiva, entendo que não é necessário tanto drama. Que seria sempre bom abordar a vida com certa calma. Mas é quando estou caminhando calmamente e começa a chover canivetes que eu perco o rumo. De repente, o muro reaparece na minha frente, vai crescendo e eu vou ficando pequenininha de novo. Com medo. De falhar, de não dar conta e precisar de ajuda. De ouvir todo o julgamento de novo, como se eu fosse sempre uma grande atrapalhada e nunca soubesse muito bem o que fazer. Mas eu sei. Há muito tempo já. Eu sou adulta. Eu arrisco e acerto, às vezes. Eu conquisto coisas importantes. Eu perco também, como todo mundo. Então, por que eu escolho fica...

45 do primeiro tempo

 "O que dá pra rir, dá pra chorar Questão só de peso e medida Problema de hora e lugar Mas tudo são coisas da vida." Esses versos ficaram comigo desde que sentei naquele bar, no happy hour, para tomar uma caipirinha na promoção, em plena quarta-feira de janeiro.  Sim, meus textos são descritivos. Eu usava uma saia preta, camisa do Londrina, tênis Vans de cano alto, aquele que todos os adolescentes adoram. Ele estava de bermuda jeans, camisa polo azul, tênis de corrida e meias brancas. Eram seis da tarde, fazia muito calor. O bar estava quase cheio, sentamos numa mesinha apertada, de lado para a rua: eu via ele e todo o movimento dos jovens garçons e garçonetes, das mulheres lindas em seus vestidos e saltos, que buscavam um lugar para tomar um drink entre amigas. Ele me via e via também a parede atrás de mim, que, por acaso, replicava a fachada de uma sorveteria japonesa. Tirei algumas fotos dele bebendo seu chope de férias e uma selfie sorrindo enquanto olhava para ele. Ele b...