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Mostrando postagens de 2024

as pequenas felicidades diárias

Li uma mensagem aleatória numa rede social que dizia: devemos agradecer às pequenas felicidades diárias. E fiquei com essas palavras na cabeça. Fui resolver pendências de trabalho, pendurei roupa no varal, almocei, cochilei, trabalhei mais um pouco, lavei a louça do almoço, segui trabalhado e agora me vejo em frente ao computador querendo escrever sobre "as pequenas felicidades diárias". Hoje foi dançar Sevillana em roda e ver a felicidade da professora quando terminamos de bailar a Farruca lindamente. Ontem foi conseguir divulgar um evento do cliente, que já rendeu uma entrevista na rádio local.  Anteontem foi passar o dia com a irmã e os primos, comendo comidas gostosas e conversando sobre a vida. No sábado foi passar horas zapeando o aparelhinho pirata ao lado do melhor amigo para tentar escolher um filme e acabar vendo o Acústico MTV do Legião Urbana.  Na sexta foi chegar em casa depois de um dia inteiro dentro de um ônibus. Tomei banho, desfiz a mala, abri uma cerveja, m...

capa colorida

Minha vó chora quase todo dia. Devem ser os quase 92 anos. Seu corpo dói o tempo todo. Sua mente distorce. Ela reclama, amaldiçoa. Depois esquece tudo e dança. Ela chama a atenção dizendo que não tem fome, que está com frio, com dor, que não quer mais viver, que não sabe o que está fazendo aqui, que a filha a abandonou, que reza para Deus a levar embora enquanto dorme.  Nós escutamos tudo isso sempre que estamos juntos. E doemos junto. Meus pais doem diariamente porque há dois anos se responsabilizam pelo cuidado com a vó. E há dois anos escutam a mesma ladainha, que ela insiste que não faz. "Velho perde a validade", ela esbraveja. A última cena aconteceu enquanto eu estava lá com eles, pelo aniversário da minha mãe. Fiquei uma semana. Uma única semana. E sai de lá pesada como se estivesse carregando uma montanha nas costas. Vim embora pensando nos meus pais, em especial, na minha mãe.  Ela se dedica 24 horas à vó e nos poucos momentos de respiro que se permite, está conectad...

quase morri atropelada

Ontem eu quase morri. A Carol segurou minha mão e me puxou para a vida, literalmente. Só aí eu acordei e entendi o que estava acontecendo. Nós duas quase fomos atropeladas. Uma colisão aconteceu bem na nossa frente e por um segundo não fomos atingidas por um dos carros. Depois que passou, pareceu que nem era tão grave assim. Mas agora, menos de um dia depois dessa experiência esquisita, não paro de pensar em como sobrevivemos. Um carro cinza furou o pare e atingiu um carro preto que seguia a preferencial. Simples assim. Os carros estavam em baixa velocidade e ainda assim a batida fez os carros rodarem. Um deles veio em nossa direção e acabou subindo a calçada onde estávamos e só parou quando encontrou o muro. O outro carro girou e atingiu uma árvore na calçada à frente. Imediatamente, a motorista saiu do carro cinza e atravessou a rua para ver como a motorista do carro preto estava. Um homem que passava pelo local ajudava a moça a sair do carro. Ela torceu o joelho. As outras duas es...

pulseiras

Buscar referências faz parte do dia a dia do produtor de conteúdo. Elas podem estar nas séries e filmes, na música, na leitura de jornais, nos telejornais, no rádio, nos podcasts, nas conversas aleatórias e, claro, nos livros. Não me lembro ao certo quando foi que comprei "Tudo nela brilha e queima", de Ryane Leão. Meu primeiro livro de poesias escolhido. Só me lembro de ter achado lindo o nome da página da escritora no Instagram, @ondejazzmeucoraçao, e pensado: essa leitura vai fazer a diferença na minha vida. Desde que comecei a segui-la na rede social, fiquei com mais vontade de ler poesia. E comecei a seguir outros poetas e comprar outros livros de poesia. E os textos não eram nada como os poemas de Fernando Pessoa com os quais eu estava acostumada, afinal, eu sempre fui muito mais da prosa que da poesia. Mas o texto da Ryane era uma poesia mais crua, quase uma crônica da realidade, com palavras que conversavam comigo e, muitas vezes, traduziam os meus sentimentos.  Então...

voz

Faz tempo que eu escuto uma voz dizendo que eu deveria ser diferente: tem alguma coisa de errado com você, a voz ecoa. Como assim você é tímida?  Como assim você tem pavor de cachorro?  Como assim você fica com dor de barriga e não quer ir viajar com a amiga? Como assim você prefere ficar em casa ao invés de ir na discoteca? Como assim você não usa vestido e sandália, só shorts, camiseta e tênis? Como assim você perdeu o prazo da inscrição do vestibular? Como assim você quer ser jornalista se não abre a boca?  Você é bonita, mas conhece a simpatia para perder barriga? Deixa eu te ensinar as palavrinhas mágicas! Você tinha um cabelo tão bonito. Por que não toma um remédio para o cabelo crescer mais forte?  Eu nunca viajaria tão longe e gastaria esse tanto de dinheiro para ver um show. Você escreve bem, mas por que se expõe tanto na internet? Que raio de jornalista é você que não sabe editar vídeos e fazer fotos? Se você tem um diploma de jornalista, por que largou tud...

quatro estações

Eu fui a uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Londrina sozinha, numa quinta à noite. Decidi meio de supetão ao ver a programação na rede social: as quatro estações de Vivaldi. Me lembrei dos dias que passei com meus pais e minha avó na praia, no final do ano passado, e no dia que meu pai viajou para São Paulo a trabalho e eu passei a tarde com as duas mulheres que me criaram. Teve uma hora que pedi para a Alexa tocar música clássica e deitei no sofá ao lado da minha mãe, que jogava candy crush. Minha vó estava sentada na sua poltroninha azul, ao lado da janela, vendo o movimento da rua.  Ela já tirado pelo menos dois dos seus vários cochilos diários, antes e depois do almoço. Um cochilo de fome, que acontece entre 11h30 e 12h, logo antes da minha mãe servir o almoço. E o outro entre 13h e 13h30, quando ela se sente muito cansada depois de comer. Ela se estica na cama por uns minutos e logo volta para a poltrona achando que dormiu a tarde inteira. O terceiro cochilo é sempre ...

cistos

Estou prestes a tirar um cisto da cabeça. Nada grave. É um cisto sebáceo que nasceu despretensioso, como outros dois cistos que removi anos atrás. Parecem espinhas e coçam enquanto crescem.  Um dia, a dona Ana, mãe do Re, usou seus conhecimentos de enfermeira para tentar expulsar um dos cistos do meu pescoço, mas só provocou dor. O negócio era mais embaixo, bem mais embaixo. Então, agendei a cirurgia. Minha mãe veio ficar comigo no dia em que fui à clínica dermatológica tirar os cistos: um no pescoço e outro na axila. Mas foi tudo tão rápido e indolor que ela nem precisava ter vindo. Mas quando ouvi a palavra anestesia, gritei “manhê” e ela veio. Me lembro de eu mesma ter dirigido de volta para casa, mas não me lembro o nome da médica, só que o consultório ficava numa rua perto do Zerão.  Lembro também de a médica ter me mostrado o tamanho dos cistos e eu, incrédula: “Como uma simples espinha podia ser tão grande?”. Deixei os cistos lá para biópsia e o resultado apontou: benig...